segunda-feira, 24 de maio de 2010

Confissões noturnas - Parte 01

Era final de novembro. Anna lembrava-se disso por que sua mãe decorara toda a sua sala com enfeites pré-natalinos. Nevava do lado de fora. E tudo que a moça dos cabelos negros fazia era ficar atrás da vidraça, esperando o sol voltar.

Ela não estava triste. Ela não estava feliz. O grande problema é que ela "não estava". Não reconhecia sua imagem no espelho. Seus amigos, sua família, todos empenhavam-se em animá-la, tudo em vão. Quem não a conhecesse, não saberia o quão dentro dela mesmo Anna estava. Pegava todos os dias um metrô para ir e voltar do trabalho. Cursara quase cinco anos de engenharia na faculdade, e agora estagiava. Anna, de corpo esbelto e delicado, enfiava-se facilmente em qualquer roupa, coisa a qual nunca dera importância. Ela sentia-se como um doente em estado vegetativo. A única diferença entre eles é que Anna não ligava se morria ou continuava a viver. A moça lera em um livro que ingerir barbitúricos e uísque eram uma combinação letal. Tudo sairia como era esperado por ela.

Em um sábado qualquer, das primeiras semanas de dezembro, Anna sentou-se no chão de seu quarto, com barbitúricos e um copo de uísque. Estava pronta para completar seu destino. Ela sempre soubera que não iria muito longe. Sempre soubera que não seria forte o bastante. Pensou em sua família, e em seus poucos amigos.

- Eles vão superar. - pensou ela.

No começo, sentiu-se fraca por estar abandonando a vida assim. Porém depois viu que ela não tinha nenhum motivo para continuar vivendo. Desde criança, ela nunca permitiu-se ser feliz. Ela nunca ia à festas com os amigos. Ela nunca ia muito longe de seu pequeno apartamento na rua 6. Estudou para uma vida que agora não tinha mais sentido. Nunca acreditou em Deus. Ao ingerir cinco barbitúricos, tomou em seguida um gole de uísque que guardava escondido atrás do armário.  Achou horrível. E para sua surpresa, a campainha de sua casa, tocou.

Ao abrir a porta, viu um rosto jovial, sorridente e tênue. Supôs se já estaria no céu. Mas ela não acreditava nisso. Anna, instantâneamente, desmaiou.

6 comentários:

  1. Oba, uísque!
    Er... gostei do post. Aguardo ansiosamente a sequência.
    Beijo.

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  2. Curiosamente, quando escrevi "Olá, estranho" no meu blog, não tinha visto no seu. :)

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  3. Nossa, ficou muito bom essa primeira parte, qdo acabou eu fiquei sem reação, posta essa sequência logo =)

    PS: Pesquisei o que era barbitúricos, haha...

    Bjs...

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  4. Quero a continuação *-*
    Lindo... lindo. Adoro seu dom de escrever.

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  5. fiquei curiosa pra descobrir quem apertou a campainha '-'

    beijas jaci :*

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  6. A Anna parece mt comigo ;s to amando a história *-*

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