terça-feira, 24 de setembro de 2013

The Depression Diaries, nº14 - Morte

Eu sinto como se eu estivesse morrendo. Tecnicamente, o lado esquerdo do meu cérebro — o lado lógico — afirma que meu corpo está em perfeitas condições de saúde, pra eu respirar fundo que tudo está bem. Mas eu continuo morrendo. Consigo sentir cada órgão dentro de mim apodrecer e atrair mosquitos e outros predadores. Enquanto morro, rio de coisas que meus poucos amigos falam, como a comida que minha mãe faz e sento aqui em frente a esse computador e faço o que sempre faço, enquanto morro por dentro. Esse vai ser o meu destino e maior piada: morrer e não contar pra ninguém. Não que eu vá fazer alguma diferença com minha ausência. Estou me saindo muito bem na atividade de fazer todo mundo que conheço e gosto me odiar. Pergunto-me se há um limite de exaustão. 

Este é o quinto dia da minha crise atual. Se eu fosse menos preguiçosa eu poderia ser atriz. Meu papel em não fazer ninguém notar (eles não notariam mesmo se eu cortasse meus pulsos na frente deles) o quão profundamente enfiada na merda eu estou está sensacional. Eu nunca me senti tão sozinha em toda a minha vida, e olha que já passei por muita merda. Eu nunca estive tão perdida na minha própria vida. Parece que quando entrei em depressão eu arranquei os olhos de todo mundo à minha volta e, cegos, nenhum deles pode me ver. Ou me levar a sério. Estou morrendo todos os dias, estou morrendo agora, estou morrendo enquanto faço um trabalho da faculdade. Ninguém se importa com o lado direito do meu cérebro, só a gravidade que me puxa cada vez mais pra baixo, selando minha cova rasa.

Eu sinto muito, muito mesmo.


segunda-feira, 16 de setembro de 2013

The Depression Diaries, nº13 - Se eu olhar para trás, estarei perdida

Isso é provavelmente a coisa mais estúpida que eu já escrevi em toda a minha vida. E olha que eu já escrevi muita coisa estúpida nesses vinte anos da minha existência. Mas sabe a sensação de não ter ninguém mesmo tendo todo mundo? Que você só tá ali, em determinado lugar da vida de alguém só pra preencher cota de figurante? Segurando as pontas, sendo distração momentânea, sendo capacho. Não há uma ligação real entre a vida deles e a sua, entende? Já há outras pessoas fazendo esse trabalho, e nenhuma delas é você. Eu sento aqui e passo a maior parte do meu dia em frente a uma tela pra não ter que ir ao banheiro e cortar meus pulsos. Eu humilho as pessoas pra que ninguém veja o que se passa dentro de mim. Essa autoimolação que entra em combustão todo dia dentro de mim é em mil vezes a quantidade de danos que qualquer um pode me causar. Sinto como se eu estivesse sufocando mesmo tendo todo o oxigênio do mundo disponível; eu só não quero dar a mínima sobre ninguém, muito menos sobre mim mesma. Eu não sei de mais nada e ninguém se importa em descobrir, portanto por meia desta afirmo que todo mundo pode ir se foder. Eu quero correr e correr e correr até que eu não tenha nada mais do que fugir dentro da minha cabeça; minha maldita cabeça que não cala a boca um segundo. Talvez eu seja apenas mais uma egoísta nesse mundo querendo mais do que pode pedir, contudo eu me recuso a aceitar menos. Eu não posso esquecer e fingir que não me senti o ser humano mais insignificante da face da Terra, nem muito menos que esqueci. Todas as memórias que vivem em mim, proporcionalmente, também não somem nem muito menos são deixadas de lado. Esse é o ponto de viver em segundo plano: ninguém lembra, só você. Ninguém reconhece tua ausência, só você as deles. Passo despercebida quando quero e quando não quero por que todo mundo aprendeu a ter medo de mim. Eu queria que eles pudessem ver que ir mais além do portão com aviso de "cão raivoso" não os mataria.


“You spend your whole life stuck in the labyrinth, thinking how you'll escape one day, and how awesome it will be, and imagining that future keeps you going, but you never do it. You just use the future to escape the present.” John Green, Looking for Alaska

domingo, 1 de setembro de 2013

The Depression Diaries, nº12 - O dia em que eu larguei o psiquiatra

Eu fico olhando pro palitinho da página piscando e piscando e não consigo pensar em nada que seja agradável ou conveniente pra dizer. Talvez por que não haja mesmo, ou talvez por que tudo o que havia pra ser dito já o fora. Então por que meu maxilar dói com o peso do silêncio como se houvesse milhares de coisas que foram deixadas guardadas na gaveta? Minha história e minha depressão parecem que tornaram-se uma só, mas seria possível uma sobreviver sem a outra? É o que me pergunto todo dia.

Minha mãe me recorda pela milésima vez que tenho que ir remarcar a consulta com a psiquiatra, e eu ignoro pela milésima vez. Sinto como se eu vivesse num bolsão atemporal e conseguisse ver todo mundo à minha volta mudando, conquistando coisas, envelhecendo e eu continuo aqui só sendo eu, só me sentindo miserável e inútil, sem talento algum. Tudo se torna assustador pra mim, desde o futuro até a necessidade de fazer uma ligação. Depois de um ano vivendo com essa doença todos os dias do meu lado me dizendo mentiras que acabo acreditando, como eu poderia ter fé e reconhecer uma verdade? 

Sendo mais clara: como eu vou viver sem a depressão se eu tenho medo de não ser mais nada sem ela?

Eu decidi largar o psiquiatra por que a sensação que eu tinha era que eram me postas correntes por todo o corpo a cada consulta. É minha culpa de que nenhum remédio funciona comigo, concluí. Portanto, essa contínua visita mensal é inútil. Não quero acordar um dia e me ver dependente — viciada — em remédios provendo uma falsa sensação de segurança. Eu quero estar no controle. Eu quero respostas que pílulas não podem me dar.

Não sei ainda o que vou fazer — principalmente se tiver outra crise, mas acima de tudo meu desejo é que me levem a sério. Que não tenham medo de dizer a palavra D em minha presença sem que isso seja motivo de casualidade. Todas as pessoas reduziram-se a motivos que encontro pelas quais chorar, já que em mim todas as falhas já receberam suas lágrimas. Nem é tanto o choro em si, mas sim a sensação pós choro que é procurada. Aquela paz que se encontra naqueles minutos com o rosto ainda quente e vermelho é a que eu sinto falta. Meus olhos querem debulhar-se em lágrimas, porém tudo o que encontro é vazio. E o vazio é pior do que todas as dores do mundo.