sexta-feira, 13 de junho de 2014

So darkness I became

Mais uma vez você se perde, sem saber como chegou ali. Você nunca sabe. Mover-se exige esforço, e logo desiste de buscar forças. Você se toca, arrastando os dedos sobre a pele fria e a roupa áspera, buscando uma confirmação de que aquilo — você — é mesmo real; e é. Suas mãos continuam a conferir, correndo desesperadas por baixo da roupa a procurar seu coração batendo; minhas mãos que deveriam estar lá são apenas uma lembrança. Seu coração ainda bate, você ainda está no mundo dos vivos. O medo que te paralisa continua a repetir mentiras nos seus ouvidos, uma cobra tentando te fazer comer um fruto proibido. Só existe você e ele, na verdade. Você tenta lembrar de mim, mas eu cada vez me torno mais irreal. Eu existi? Suas mãos algum dia realmente me tocaram? Sua mente não tem ideia. Você está se perdendo. Sua visão, escura e sufocante desde o princípio, continua a ser a coisa menos assustadora de tudo. É  um engodo, você pensa. Sua mão vaga pela escuro, flutuando como um destemido peixe em mar aberto, sentindo o ar à sua volta como se pudesse tocar no oxigênio que o mantém vivo. Não há pressa alguma e nem mesmo o peso sobre seu braço o impede de continuar a buscar algo. Não há ninguém para segurar sua mão; não há nada nem ninguém, só você. Você. Você. Você. Eu estou na sua mente, porque você se prende à minha lembrança como se pudesse ter feito algo diferente. Sou sua ilusão favorita, um meio que você criou para partir seu próprio coração. Abra os olhos. E você o faz, mas a escuridão continua lá. Está preso, conclui, quando é exatamente o contrário. Não há nenhuma saída para teu labirinto porque só você pode fazê-lo sumir. A escuridão te encharcou como se você tivesse andado sob um temporal e se tornou parte de você. Não há nada para se temer no abismo que o obscuro finge ser, pois é você. Tudo sempre foi você. Os monstros que você imaginava que pudessem estar ali para te atacar não passam de uma distração de auto sabotagem que te impedem de abraçar o que você realmente é. E então você se movimenta, dançando na sua própria mente na descoberta de que você é dono de si mesmo. Só há escuridão onde você permite sua entrada. A solidão é mais assustadora do que todos os monstros do mundo, ilusões que criamos para não enfrentar a nós mesmos. Meu desejo é que você não se esconda, não mais. A luz no fim do seu túnel não sou eu, mas você mesmo. Você deveria ter escutado quando disseram que pessoas não podem ser o lar de alguém, assim como eu também não posso estar mais nos seus pensamentos às 3 da manhã, não mais. Você brilha forte demais para permanecer escondido na escuridão, e eu só sei ser o monstro que te assombra.