sexta-feira, 24 de junho de 2011

Take me out tonight.


Dizem por aí que se você passar por debaixo de uma escada, terá má sorte por um longo tempo. Sempre quis saber qual era a relação que isso podia haver com azar, de modo que nunca acreditei nessas crendices populares. Por que foi passando debaixo de uma escada que eu vi você pela primeira vez. Foi querendo me afastar de tudo que remetesse amor que você apareceu e pôs fim a toda essa bobagem. Lembro de te sentir meio nervoso na primeira vez que nos falamos, o que meses depois confirmei quando você foi conhecer um dos meus melhores amigos. Mal segurei o riso pra te dizer que ia ficar tudo bem, que ser você já bastava para que todos te gostassem. Porque eu gostava. Mais do que isso, eu te amava. E todo mundo podia ver isso. O carteiro, as pessoas da rua, meu cachorro e até as paredes do meu quarto sabiam o quanto eu te amava e ainda te amo, por só Deus sabe lá quanto tempo. Tenho uma teoria de que algum tipo de radiação emana dos nossos corpos e parece escrever em nossa cara e em nossa alma que temos que nos tornar perfeitos idiotas quando nos apaixonamos. Você mal sabe quantas vezes me achei idiota por estar te esperando quando sabia que você não viria, por te dizer que estava tudo bem quando realmente não estava. Eu só queria que você visse a parte linda de mim que eu pintava e bordava todos os dias, uma playmobil que está sempre sorrindo e contando piadas baratas por aí para ver todo mundo rindo. E mesmo quando eu me sentia deslocada, deixada de lado e persona não participante dos assuntos reais da sua vida, eu continuava com um belo sorriso no rosto ouvindo There is a light that never goes out. Não estou te julgando ou até mesmo culpando, pois todo o amor que atravessa todas as paredes desta casa e cobre tudo que se pode e o que não se pode ver não permitiria tal coisa. Não sei quantas vezes eu me perguntava até que ponto tudo o que eu estava vivendo era permitido, embora que não fosse nada sujo, nada ilegal. Era tudo muito sereno, muito claro. Eu tinha um sério medo de dizer o que eu sentia por ti e cinco minutos depois morria de medo que algo acontecesse comigo ou com você sem que soubesse que eu poderia matar e morrer por vossa senhoria a qualquer momento, que eu te amava. Me amarro a essas palavras que se perdem na boca de quem não as merecem por que é a única coisa que tenho a te oferecer. Só espero que não me esqueça, que não me apague das lembranças. Que eu não vire um passado difícil de lembrar na sua memória fraca.

Música do post: Don't You Remember - Adele

sexta-feira, 17 de junho de 2011

I remember things you'd rather forget.


Olha, esquece tudo o que você escreveu nessa carta aí. Você nunca nem mesmo chegou perto de sentir amor nesse teu peito. Você acha o quê? Que amor é para te levar para fazer um piquenique num dia ensolarado de verão num belo parque recheado de pessoas felizes, que tem a obrigação de te fazer feliz? Você está muito enganado. Amor é quando a pessoa estiver completamente no fim do poço e você estende uma corda para puxar a pessoa de lá, não importa o estado em que ela se encontre. Amor é esperar o outro, dia após dia, mesmo sabendo que talvez ele não venha. Você idealiza demais, criança. Espera. Espera é todo o amor do mundo. Esperar é estar até o fim, não importa o que aconteça. Mas agora veja você: eu, estou aqui sentada nessa porteira desde que me meti nessa história de amor. É bonito, não nego. No entanto, até hoje não sei o que teria escolhido se tivesse podido optar entre conhecê-lo ou não. Algumas horas de felicidade ao lado dele devem valer a pena. Ou pelo menos eu espero isso. Estou sentada aqui, esperando por ele, há tanto tempo que nem lembro mais quando troquei de roupa ou tomei um banho em minha vida sem ter a imagem dele em minha mente. Parece maluco, não? Todos nós somos. Completamente insanos e idiotas. Mas quando ele chega, nada importa. Consigo apenas repetir alguns "tudo bem" e "não tem problema" e engulo toda a frustração que passa rasgando pela minha garganta. É tão difícil que nem você nem ele conseguem imaginar. O que eu vejo em minha frente? Não é muita coisa. Esse amor ainda me prende por aqui, só por enquanto. Vou criar asas e voar por todo esse céu tão nublado sobre nossas cabeças. Aí então não haverá cimento que prenda meus pés neste chão que tanto detesto e que só suporto por causa dele. E então serei para todo o sempre aquela que fugiu quando finalmente ele decidiu ficar. Mal sabem todos eles dessa maldita cidade que tudo o que eu sempre quis foi me libertar. Por que quando eu menos pedi um amor, ele apareceu. Quando eu estava quase imune a isso, o vírus veio e me infectou da pior forma possível. Sei que nada disso foi em vão. Serei lembrada como a desequilibrada que rachou todos os alicerces da vida dele e que está esperando algo que talvez nem dure tanto quanto eu espere. Mas eu não consigo me importar, não mais. Não desde que parei de achar que fosse morrer se não o visse todo dia. Continuo aqui sentada, criança, embora que não saiba por quanto tempo. E é em tempos assim que penso nele e se ele ainda está pensando em mim e porque tudo parece estar tão errado. Cheguei ao meu fundo do poço e estou esperando ele vir me salvar.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

This isn't Wonderland, Alice.


O Rei, antes da Rainha, era só um homem. E a Rainha, antes do Rei, era um pássaro cantor. Ela era livre, mas escolheu reinar ao seu lado. Estavam juntos, mas era como se estivessem sozinhos no maior dos desertos. Pareciam emanar felicidade, porém estavam tão sós que qualquer um que prestassem atenção com cuidado veria as almas perdidas que habitavam aqueles corpos vestidos de veludo e coroas de diamantes. Ambos sentiam falta do que eram no começo, naquele primeiro minuto em que seus olhos se cruzaram e decidiram que assim seria para o resto de suas vidas. Os Reis não esperavam mais a volta um do outro todos os dias porque haviam se perdido tanto nos últimos anos que nem eles mesmos sabiam quem eram. Dormiam juntos, mas acordavam sozinhos. Andavam de braço dado, mas sentiam uma enorme falta um do outro. Em nome de muitas coisas, não podiam voltar atrás. Perguntavam-se todos os dias o que haviam feito de errado quando realmente ambos não tinham culpa alguma. Talvez sim, por supervalorizar algo que provavelmente fora efêmero, no entanto é humano ver um oceano onde só tem uma poça d'água. Talvez o Rei e a Rainha nunca tivessem se conhecido de verdade. Seu amor - isso era amor? - era como um gato selvagem, que depois de capturado entrara em profundo estado de tristeza e por fim, definhara. Os Reis, abençoados por Deus e minimizados pela raça humana, fingiam para si mesmos um sentimento que não mais existia nem mesmo no tempo de espera que as guerras lhe concediam quando lhes separavam. Não se conheciam mais e sentar-se à mesa para tomar café da manhã era comer com estranhos. Algumas vezes, é preciso fazer alguns sacrifícios para que a história corra como manda o figurino. Sua bela vida entediante é fruto do sangue de muita gente. É difícil de entender, eu sei, mas o amor não vai transformar tudo em um conto de fadas. Mesmo sozinhos quando estavam juntos, mesmo com a sensação de que nunca tiveram um ao outro de verdade, seguiram em frente. Você é tão jovem, tanta informação ao mesmo tempo em sua cabeça que não compreenderia os Reis. E aprenda que aquelas escolhas pequenas são que decidem seu destino. Afinal, não haveria cabeça para sustentar uma coroa em um reino destruído.

domingo, 5 de junho de 2011

Teoria do caos.



Texto escrito em conjunto com meu melhor amigo, Delmas.

Muitas coisas poderiam ter acontecido naquela noite. Eu poderia ter quebrado o pé escorregando no banheiro, poderia ter cortado o dedo fatiando o pão, poderia ter me decepcionado com um programa ruim de TV. No entanto, você aconteceu. Uma ligação, um simples toque de telefone me fez mudar de idéia - que antes era dormir a noite inteira. Minutos depois, eu estava dirigindo para uma festa na casa de um amigo e lá estava eu sentada no sofá. Eu mal sabia que tipo de comemoração era. E então eu vi você. Estava rodeado de duas ou três crianças quase quebrando a coluna num twister do outro lado da sala. Quase morri de tanto quando caiu em cima do tapete, derrotado. Eu poderia estar em qualquer lugar do mundo, mas estava ali vendo você me olhar, em meio a tantas pessoas. Se eu tivesse desligado o telefone, eu teria caído no sono e não seria mais do que uma noite comum. Se outro amigo me ligasse antes, eu nunca teria ido aonde você estava. Ou poderia ter parado para ajudar uma senhora a atravessar a rua durante o caminho e quando chegasse lá, a festa já teria acabado. Mas não. Havia alguma coisa disposta a fazer acontecer nosso encontro, nosso primeiro oi de muitos. E então você sorriu, me fazendo sorrir também. Você, que era um estranho, embrenhou-se na estranheza da minha vida e abriu todas as portas e janelas e clarabóias deixando a luz entrar. O que só me faz ter mais certeza de que nosso encontro, O encontro, vem se eternizando em muitas e bonitas vidas.


Eu estava em casa, vendo futebol internacional e tomando minha cerveja habitual. Tava tudo tão parado - como sempre. Pus a cerveja na mesinha e deitei. Cheguei a dormir por 10 minutos. Não consegui mais que isso. Acordei e fui para cama, mas o sono não estava de bem comigo. Nada estava. Então desisti. Sempre desisti muito fácil das coisas. Sempre me contentei com muito pouco. Então meu celular acendeu. Era uma mensagem.

                     "Venha aqui p/ casa. Vai ter festa surpresa pro Rick"

Me animei. Era chance de fazer algo diferente naquela noite de sexta-feira. E fui. Pus o som do carro no último volume e cantava tão alto que eu mesmo me assustei. Cheguei na festa. E logo te vi. E foi um pensamento automático, sistemático: eu te quero. E sabia que você me queria. Apesar de desistir fácil, eu sempre havia sido convencido. O jeito com que você me olhou me fez mudar. Eu poderia ter sonhado com coisas maravilhosas se eu estivesse dormido. Mas nada seria melhor do que te encontrar ali naquela noite de sexta. Você, que era uma simples mulher, como qualquer outra, me fez sentir o que é amar de verdade. Eu, logo eu, por que eu? Sou iluminado, sou abençoado? O que eu fiz para te merecer? Eu não queria saber de perguntas, de respostas, de argumentações. O tempo havia se tornado muito curto com você do lado. Se eu pudesse naquele momento, te pediria em casamento. O teu olhar ao se encontrar com o meu,  me fez ter certeza de que toda minha vida não havia sido em vão. Eu tinha um motivo real para continuar. Você estava ali, diante de mim. Carne e osso. E eu não iria desistir fácil de você. Não agora que eu estava tão perto de ser feliz. 

"Não poucas vezes esbarramos com o nosso destino pelos caminhos que escolhemos para fugir dele."
Jean de La Fontaine


sexta-feira, 3 de junho de 2011

A humanidade ainda não conhece o paraíso.

Texto dedicado a Caio Fernando Abreu (12/09/48 — 25/02/96), por tudo o que mudou na minha vida desde conheci suas obras. Não tive a chance de te conhecer para dizer isto, mas obrigada por tudo. Você é eterno. 


Fazia pouco tempo que ele tinha partido para a guerra. Uma coisa horrível - gente que perdia braço, perna e que nem mesmo voltava pra casa. E se voltava, nunca mais era a mesma pessoa. Ainda lembrava dele parado ali na porta, com uma mochila nas costas e um sorriso no rosto. Um sorriso quase de menino, quase de adeus. As palavras dele ficaram presas em sua mente como se tivessem sido pregadas com mãos ferrenhas. Parecia egoísta pensar que ele deveria ter ficado e não ter se metido no meio de uma trincheira jogado à própria sorte. Como se todo mundo não achasse essas guerras, em plenos anos 50, a coisa mais imbecil isso de ficar arriscando a vida por uns porcos capitalistas. Todos os homens, garotos, meninos que se aventuravam nessa viagem muitas vezes sem volta deveriam estar dançando nos pubs ao som do bom Elvis "The Pelvis" Presley, o Rei. A vida era muito mais fácil quando tudo o que tinham que fazer era somente se divertirem. Principalmente eles dois. Viviam juntos - até mesmo nos sonhos, quando ninguém poderia xingá-los de todas aquelas coisas feias. Gostavam de estar juntos, não só pela descoberta de estar com alguém do mesmo sexo, mas também pelo imenso carinho que brotava entre eles dois e em todo o espaço físico que os prendia, juntos. Quando um foi para a guerra e o outro ficou na cidade por causa de uma escoliose, parecia que um dos muitos ciclos que há nessa vida foi quebrado. O que se fora, com seus grandes olhos azuis e dentes brancos como leite, fez questão de deixar um pedaço seu impregnado em cada parte do outro, que ficou. E isso fazia com que durante todos os meses que o que partira passou longe doesse um pouco menos. O que ficara aguentava firme todos os dias. Algumas pessoas tem uma ligação que vai tão mais além do toque, do físico que ultrapassa as barreiras, ultrapassa oceanos. O que ficou sabia que sempre podia sentir o que partiu por perto. Ele estava lá, apoiado sobre o cotovelo, quando procurava alguma carta na caixa de correio e ela estava vazia. Olhava-o de forma triste quando tinha algum pressentimento ruim e segurava sua mão tentando fazer com que ele comesse algo. Era mais do que carinho, mais do que companheirismo, mais do que simples necessidade carente. Era amor. Não importava o que os outros pensassem nem o que diriam, era amor. Era amor e todos deveriam saber. Era amor e todos deveriam sentir para entender o que é. Era amor, e todos deveriam ser amados assim alguma vez na vida. Ganha-se o dom de passar algum tempo neste planeta e tu tem que fazer com isso o melhor que puder. Tudo passa tão rápido. Não vale a pena se prender a mesquinharias, coisas pequenas. Pois tudo isso aí, essas coisas que você acha "da moda", tão "minha-vida-acabará-se-eu-não-tiver-isso", passa. O amor e todas as outras coisas boas e puras ficam. Você chega a este mundo sozinho, mas não precisa caminhar sozinho durante sua jornada. Você é amor. Você é a explosão de tudo o que há de bom no universo. O moço, o que ficara, mal conseguia ler a carta de tão trêmulas que suas mãos estavam. O papel - coisa fina, o governo não economizava nessas coisas - agora era só mais uma parte do carpete. O que partira, o moço de olhos d'água, partiu. Não havia mais graça no mundo, nem voz do rei na vitrola. Eram só cinzas de um paraíso destruído.