domingo, 31 de agosto de 2014

The Depression Diaries, nº 23 - Entendimento

Eu fui a outro psiquiatra essa semana. Eu chorei bastante, coisa que eu nunca fiz em nenhuma outra consulta. Não que esse cara seja melhor que todos os outros — ele era a porra dum hipster. Mas eu não consegui me controlar. Depois de algum tempo ele olhou na minha cara e disse "sabe o que você tem? NADA".

Sim, ele disse isso. E me receitou um remédio. E disse pra eu repetir que não queria sentir tais sentimentos ruins quando os dito cujo aparecessem. Claro, porque eu não tinha tentado isso antes. Que porra de pessoa brilhante que você é.

Enfim, eu resolvi tomar o remédio depois de minha mãe insistir. Tomo quando me sinto mal, quando dá vontade, etc. Não que eu me importe.

Porra, eu tou tão cansada de me importar. De tudo. Das pessoas que não dão a mínima. De quem dá a mínima, ou a máxima. Não, ninguém dá a máxima. Eles não se importam tanto pra isso. Eu devo ter criado essa casca de pessoa tão assustadora que ninguém tem ao menos a coragem de perguntar como eu tou sobrevivendo a tudo isso. Porra, é disso o que mais reclamo aqui. Reclamo porque não tenho mais força de vontade de dialogar sobre isso pessoalmente, mas queria que insistissem. Eu não sei o que as pessoas acham quando estou tendo um momento feliz (aparentemente sim esses minutos me curaram duma depressão de 2 anos, você é um gênio), mas é como se fosse um retrato que eles mantém em seus cérebros pra evitar pensar que eu provavelmente fico querendo morrer em todos os outros momentos.

É díficil pra caralho aparentemente me querer por perto, e olha só que bela descoberta é que eu não tenho amigos a esse nível. Por um lado é bom porque nada nem ninguém me prende aqui, e eu tou tão sufocada daqui que não sei como não explodi tudo. Eu preciso me tratar, eu sei. Mas é tão dificil e doloroso admitir que eu preciso de remédios pra não me sentir o pior ser humano que já passou sobre essa terra que tira todo o controle que eu achei que tinha de mim. Eu não quero ser dependente disso pra ser eu mesma. Eu quero não sentir, não ver, não pensar, não ser. Não ser eu. Ser a pessoa que meus amigos acham que sou, a pessoa que intimida, a pessoa auto suficiente, que é difícil de fazer amigos e não se dá bem com todo mundo. A pessoa que não gosta dos amigos deles, a pessoa que eles queiram chamar pra sair ou só ficar por perto sem medo de entrarem num ciclo de culpa porque eu tenho uma doença. Às vezes eu queria tanto pedir a ajuda deles, de alguém, mas eu simplesmente não sei como. O que eles poderiam fazer pra me ajudar? Sentir pena de mim? Se afastar porque acham que eu lido melhor com essas crises sozinha porque certamente ninguém tem coragem de buscar um tratamento para uma coisa que não há provas concretas que existe?

Mas como eu já disse milhares de vezes, eu continuo esperando muito de quem não pretende mais me dar nem um pouco. Essa é minha sina e minha ruína. Entretanto, eu realmente queria ter alguém por perto que entendesse. Que estivesse disposta. Que só existisse, entendendo.

Continue sonhando, gafanhoto. 

domingo, 17 de agosto de 2014

The Depression Diaries, nº22 - Aniversário

Eu venho odiado meus aniversários desde a minha adolescência. Engraçado reler esse texto meu de quando eu tinha 17 anos e perceber que não mudou muita coisa em relação a isso (desculpa, eu do passado). Eu me sinto pior que a merda do pior e mais feio animal do mundo e sabe por que? Segura essa, eu do passado, hora de esclarecer suas dúvidas. É por que finalmente entendo o meu baixo nível de significância na vida das pessoas da minha vida real. Talvez eles nem mesmo saibam isso, mas eu certamente consigo ver. Eu vejo tudo, eu observo tudo. Mas tá tudo bem, não tem problema. Sério. Eu, mais uma vez e segundo as probabilidades, devo sobreviver a esse dia e continuar sendo miserável. Que na verdade é culpa minha. Eu, que espero muita coisa e que crio muita coisa na minha cabeça e arruíno tudo antes mesmo da coisa acontecer, e esperar mais das pessoas do que elas tão dispostas a oferecer tem sido minha desgraça em todos esses malditos 21 anos da minha vida. Eu tenho que parar de criar histórias na minha cabeça, eu tenho que parar de esperar. Apenas. Eu não sou nem tão boa pessoa assim. Jesus, eu queria ter sonífero nessa casa pra passar esse dia inteiro dormindo. Eu odeio pra caralho tudo isso.

(inclusive, eu fui a um psiquiatra novo. ele é um velho imbecil, espero que se engasgue no próprio cuspe.)

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

The Depression Diaries, nº21 - Contágio

Às vezes eu queria que depressão fosse contagiosa. Não só pelo fato de eu ser uma pessoa bem pouco altruísta, mas também porque se essa doença fosse transmissível tão fácil assim, duvido que ainda haveria alguém com coragem de dizer que ela não existe.

Por que existe. E mata, muito. Mata não somente no sentido final da coisa (morte definitiva quero dizer), mas mata aos poucos, como qualquer outra doença por aí. Te mata lentamente quando você ouve um "se anime" ou "você não precisa ficar assim", te mata quando as pessoas acham que é preguiçosa porque simplesmente não consegue levantar da cama durante dias sem achar que seus pés vão quebrar ao tocarem no chão. Te mata bem aos poucos quando você vê seus amigos indo embora, por falta de paciência, por falta de compreensão ou vontade para isso. Te mata, te rasga, te estraçalha por dentro não conseguir formar relações por medo de destruir a outra pessoa com sua doença.

Há essas vozes na minha cabeça que usam minha própria voz para me dizer coisas que eu acabo acreditando, e muitas delas são para que eu desista logo. Mas eu não aceito ordens de ninguém. Somente quando vem o vácuo, o sufoco que não incomoda, não mais. Nesses momentos sim eu penso em desistir. A pior parte de morrer certamente será se houver uma porra de vida após a morte. Puta que pariu meu amigo, não me vem com essa não. Eu só pretendo continuar morta para todo o sempre sem viver nem fazer nada, pois já me bastou essa vida. Enfie no seu rabo essa merda de evolução espiritual, eu não quero merda nenhuma. 

Eu não sei mais se existe uma cura pra depressão. Se fosse um vírus, pelo menos haveria uma chance de conseguir fabricar uma vacina contra ela. Porra, de todas as doenças do mundo que eu poderia ter, claro que eu tive logo a que ninguém acredita que existe e que me faz definhar. E ela está tomando tudo o que eu tenho, mesmo com todas as batalhas que tenho travado e ganhado. Eu sinto como se estivesse tentando enxergar minha figura num espelho trincado, que expõe todas as facetas que eu poderia assumir se soubesse qual delas sou eu de verdade. Mas não sou eu, o rosto não é meu, a pele não é minha; eu habito esse corpo, esse universo sem saber porquê. A percepção da realidade está cada vez mais onírica — uma existência provida de um sonho dessaturado e frio. 

Mas no sentimento de todas as dores do mundo que habitam meu peito eu sou real, e tento me enganar dizendo que posso ser feliz. Não que ninguém se importe, claro. Eu sou a garota que está sempre desaparecendo.