segunda-feira, 11 de agosto de 2014

The Depression Diaries, nº21 - Contágio

Às vezes eu queria que depressão fosse contagiosa. Não só pelo fato de eu ser uma pessoa bem pouco altruísta, mas também porque se essa doença fosse transmissível tão fácil assim, duvido que ainda haveria alguém com coragem de dizer que ela não existe.

Por que existe. E mata, muito. Mata não somente no sentido final da coisa (morte definitiva quero dizer), mas mata aos poucos, como qualquer outra doença por aí. Te mata lentamente quando você ouve um "se anime" ou "você não precisa ficar assim", te mata quando as pessoas acham que é preguiçosa porque simplesmente não consegue levantar da cama durante dias sem achar que seus pés vão quebrar ao tocarem no chão. Te mata bem aos poucos quando você vê seus amigos indo embora, por falta de paciência, por falta de compreensão ou vontade para isso. Te mata, te rasga, te estraçalha por dentro não conseguir formar relações por medo de destruir a outra pessoa com sua doença.

Há essas vozes na minha cabeça que usam minha própria voz para me dizer coisas que eu acabo acreditando, e muitas delas são para que eu desista logo. Mas eu não aceito ordens de ninguém. Somente quando vem o vácuo, o sufoco que não incomoda, não mais. Nesses momentos sim eu penso em desistir. A pior parte de morrer certamente será se houver uma porra de vida após a morte. Puta que pariu meu amigo, não me vem com essa não. Eu só pretendo continuar morta para todo o sempre sem viver nem fazer nada, pois já me bastou essa vida. Enfie no seu rabo essa merda de evolução espiritual, eu não quero merda nenhuma. 

Eu não sei mais se existe uma cura pra depressão. Se fosse um vírus, pelo menos haveria uma chance de conseguir fabricar uma vacina contra ela. Porra, de todas as doenças do mundo que eu poderia ter, claro que eu tive logo a que ninguém acredita que existe e que me faz definhar. E ela está tomando tudo o que eu tenho, mesmo com todas as batalhas que tenho travado e ganhado. Eu sinto como se estivesse tentando enxergar minha figura num espelho trincado, que expõe todas as facetas que eu poderia assumir se soubesse qual delas sou eu de verdade. Mas não sou eu, o rosto não é meu, a pele não é minha; eu habito esse corpo, esse universo sem saber porquê. A percepção da realidade está cada vez mais onírica — uma existência provida de um sonho dessaturado e frio. 

Mas no sentimento de todas as dores do mundo que habitam meu peito eu sou real, e tento me enganar dizendo que posso ser feliz. Não que ninguém se importe, claro. Eu sou a garota que está sempre desaparecendo.


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