segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A juventude é um domingo

Eu tento me confortar com a ideia de que sou jovem e estúpida e meu cérebro ainda não evoluiu o suficiente pra consegui compreender e aceitar determinadas coisas. Eu me convenço de quanto mais velha eu for, mais respostas surgirão e então eu estarei cada vez mais tranquila. Às vezes eu nem mesmo lembro quais eram as perguntas, contudo elas continuam lá como uma coceirinha no meu cérebro que corrói e não me deixa dormir. Às vezes eu imagino o que as pessoas dizem de mim quando me descrevem para outras pessoas, sei lá, porque não tenho nada melhor pra fazer mesmo quando deveria estar dormindo. Essas pequenas coisas que eu provavelmente nunca saberei é tudo o que me sufoca todos os dias, alimentando meu complexo de deus que se delicia com a minha insanidade. Eu me pergunto se é genocídio essa minha chacina de neurônios diária, tão pouco perto de todas as coisas pelas quais eu mataria. 

A juventude é um domingo, um bolsão atemporal que nos faz voltar sempre ao mesmo ponto: o que diabos estou fazendo aqui? E toda essa bagunça, quem é que vai limpar? Se não sou eu nem você, quem? Eu quero saber, eu quero saber de tudo e ser onisciente para então encontrar minha paz. Por enquanto eu fico aqui na escuridão tentando me convencer de que existo, de que sou alguém e que preciso aceitar a realidade consensual. Quero ver tantas e tantas coisas, mas essa mente não pertence a este corpo, não nesta época. Eu consigo pensar em duzentos jeitos diferentes de morrer e outras duzentas ocasiões diferentes de dizer adeus, e tudo que pode existir minha mente consegue criar. Ando sobre os milhares e milhões de esqueletos de sonhos mortos e decepções que eles, no fim, acabam sendo. Eu quero viver na vida que existe na minha mente, com as pessoas que existem só na minha mente e que na vida real acabam sendo humanas demais, com todos os seus defeitos e expectativas desconhecidas esmagadas. Se algum dia eu ficar louca e não lembrar da realidade que existe aqui, essas minhas palavras são tudo que sempre me conectaram com as pessoas que amei, que amo.

Eu não sei como ser jovem sobriamente, quando minha mente está no controle do meu corpo. É como se eu fosse um efeito colateral de uma experiência que não deu certo, uma falha na evolução que não era para questionar tanto. As questões inundam meu cérebro como lava escorre para o oceano e se petrifica, fazendo de lá moradia permanente. Elas me deixam sonolenta, dormindo de olhos abertos enquanto o planeta dá mais uma volta ao redor do sol.

Durante minha vida inteira eu venho tentado ser normal, ser comum, fazer o comum e toda vez que o tento sou puxada de volta ao meu mundo de bizarrice que escondo debaixo dos meus cabelos pretos. Eu não quero pensar em todas as coisas que penso e quero ser jovem e tola como eu deveria estar sendo. Talvez eu provavelmente já seja por pensar assim. E enquanto conto os dias entre os que tive um ataque de pânico e entre os que consegui fazer uma ligação, eu escrevo coisas que partem corações e parto minha alma em milhares de pedaços, na esperança de que eu sobreviva através dos anos e consiga reunir os pedaços do corpo de quem algum dia eu já fui na mente de quem eu sempre quis ser. 

"that's the best thing a girl can be in this world, a beautiful little fool." f.scott fitzgerald

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Tudo o que não perdi nunca existiu

Saindo e andando e percorrendo lugares que eu já percorri dezenas e dezenas de vezes e mesmo assim volto pra casa e encontro a mesma sensação de ter perdido algo nessas caminhadas e saídas. A sensação de sempre ter esquecido algo por aí, um caderno, uma caneta, um livro, eu mesma. Depois disso tudo é que percebo que tudo o que não perdi nunca existiu a não ser dentro da minha mente, que continua buscando respostas lógicas pra esse vazio que permanece e permanece e já pediu usucapião. E que a maioria das pessoas não entende. As pessoas te dizem a vida inteira que as coisas que você sente não importam só por causa da quantidade de tempo que você vive nessa terra, como se suas experiências não valesse merda alguma só por causa da sua idade. E o pior de tudo é que a gente acaba acreditando.

Uma das muitas verdades sobre o amor é que no fundo nós somos o que somos não por causa das pessoas erradas que amamos, mas sim por que elas eram erradas, e mesmo assim as amamos. Elas partem e nosso coração se parte porém ainda assim não estamos quebrados. Cada pedaço trincado é uma lição, é uma lembrança, é um lembrete. Falhamos por que nosso corpo é falho e mesmo nossa mente sendo perfeita, nosso coração não é. O vazio que eu sinto não é mais meu inimigo, que levanta seu estandarte e se prepara para a batalha pela minha alma. Meu vazio é tão parte de mim como meu fígado é, como meu coração, como meus pulmões que me permitem respiram todo dia. É como aprender a andar: assim que você incapacita o medo de se machucar de te fazer alguma coisa, você está livre para ser o que quiser, para amar seu vazio como ninguém nunca te amou antes.

Eu perdi o ponto desse texto como perdi minha chave semana passada, e desde semana passada eu tento terminar esse texto. Eu me tornei mestre em fazer eu mesma ficar triste muitas vezes sem motivo que no fim se transformam no motivo em si. Minha vida se tornou um tremendo emaranhado daquilo que eu não queria ser misturado com tudo aquilo que me impuseram a ser, e tudo e todos os que continuam sendo personagens recorrentes dessa história maluca cheia de álcool, amores platônicos e choros escondidos na casa dos amigos. Enquanto meu gato finalmente dorme depois de um dia correndo e miando sem parar, eu continuo sem entender muitas coisas da vida e do universo e tudo mais. Entretanto, ainda consigo sair da cama e ter algumas pequenas alegrias, e essas coisas das quais a gente não recebe cumprimentos por continuar fazendo são as que realmente importam. Continuo tentando, mais do que nunca e acho que tentarei enquanto eu viver, é ser uma pessoa mais digna do amor e carinho que me é dado todos os dias, mesmo de maneiras menos tradicionais. Quero viver uma vida digna de roteiros e livros e textos em blogs e poemas e canções, e que se não puder ter dragões e jornadas épicas, tenha qualquer coisa mais estranha do que a ficção.

“I am 
a series of
small victories
and large defeats
and I am as
amazed
as any other
that
I have gotten
from there to
here”
Charles Bukowski

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

The Depression Diaries, nº16 - Weary and haunted

Eu espero que algum dia eu consiga tomar um banho sem chorar nem uma vez sequer, espero que algum dia eu consiga lembrar de imediato as razões pelas quais eu ainda continuo viva. Eu espero que algum dia meu círculo social seja composto por pessoas que aceitem que sou uma suicida ao invés de fechar os olhos toda vez que me vêem, como se eu já não fosse invisível o suficiente. Eu espero que algum dia eu consiga fechar meus olhos e não imaginar os discursos do meu funeral, pobres e vazios tal qual meu corpo sem vida. Eu espero que, num dia qualquer, eu acorde e decida dar bom dia a todo mundo que eu vir pela rua simplesmente porque eu estarei satisfeita comigo e com a minha vida. Que algum dia eu possa estar em paz comigo mesma, que eu me sinta querida onde eu estiver, que eu não seja um peso pra vida de ninguém. Eu passei minha vida inteira querendo ser igual a todo mundo e aparentemente tudo o que eu cada vez mais consigo ser é uma estranha no ninho. 

Eu espero que algum dia eu consiga dizer que estou bem e que isso não seja uma mentira.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Velha, sozinha e louca


Eu acordo todos os dias e penso "ai meu deus, quantos anos ainda faltam pra eu viver? eu não aguento uns 60 anos disso não" por que obviamente se você lembra daquela frase de Nietzsche que pergunta "bla bla bla você queria viver pra sempre a vida que vive agora bla bla bla", fica claro que eu não quero viver a vida que vivo agora pra sempre. Nossa Senhora, viver pra sempre dever ser um pé no saco. 

Eu nunca tive muitos amigos desde criança. E por isso, ainda nessa idade, eu tinha a ideia de que quanto mais velha eu ficasse, mais amigos eu acumularia. Pensando bem agora essa é uma linha de raciocínio muito burra se eu considerar as pessoas mais velhas ao meu redor. Pois tenho certeza que esse é meu destino: ficar velha, sozinha e louca. Velha é inevitável, sozinha por que vai chegar um momento que não terei mais pessoas que me suportem e louca por que minha mente já atravessou muitos limites e se aproxima do final como uma cobra rastejando ao redor de um cômodo que ela ainda não pode conquistar. 

A idade aumenta e percebo o quão babaca era nos anos anteriores, o que basicamente implica que serei babaca pro resto da vida. Parte de mim se alegra porque eu passei a vida toda querendo ser babaca que nem todo mundo e porque ser diferente cansa. Eu quero ser magra, fútil e imbecil como a maioria das pessoas que conheci a vida toda, eu quero conseguir enxergar um jeito de levar uma vida normal. Eu só quero não ser maluca. Eu quero passar por essa época de juventude da vida e não perder minha cabeça, as pessoas que amo e a vontade de seguir em frente, de resistir e persistir no que eu, no meu coração, acredito ser importante e verdadeiro. 

Mas a questão é que quando eu não consigo respirar é que eu me encontro. Quando eu estou no meio do caos é que eu me reconheço, quando estou criando coisas absurdas é onde meu corpo parece caber. Eu odeio ser o que sou e ser de outro jeito me entedia, as pessoas me entediam, os lugares me entediam, minhas histórias me entediam e tudo isso só faz de mim uma pessoa incrivelmente insuportável. Passar pelos 20 anos fazem eu me sentir pisando em ovos e legos e a beira de mais um surto por que tudo acontece rápido demais e tenho medo de não ser suficiente, de tudo transbordar e afogar, me afogar. Dependendo do quão imbecil eu me sinta daqui a alguns anos por ter escrito isso aqui, eu espero que meu eu lá da frente não tenha tido tanto medo da mobilidade, da evolução, transição. Que eu e minha mente consigamos viver em paz e me manter sã enquanto eu ainda tiver que viver. E que eu pare de ser cafona.

domingo, 6 de outubro de 2013

The Depression Diaries, nº15 - All I need is love

Voltando pra casa ontem cheguei à conclusão de que a pior coisa sobre a depressão é quando você sente que ninguém realmente está ali do seu lado para te dar suporte. Em todas as coisas do mundo, caminhar sozinho por uma estrada escura e inóspita é desesperador, confuso e tremendamente perigoso. Sinto como se todas as vezes em que entrei em crise e fingi muito bem que estava tudo ótimo as pessoas ao meu redor me olhavam e pensavam "ah, tá tudo bem, ela sobrevive. deixa ela quieta no canto dela que daqui a pouco passa." Ninguém (além da minha mãe uma única vez) me aguentou durante uma crise de choro, ninguém nunca foi além do "não vou te forçar a falar se você não quiser", ninguém nunca perguntou se eu já tentei me matar alguma vez. É fácil ler meus relatos aqui, é fácil perguntar "tá depressiva, é?", é fácil perguntar como estou quando estou nas minhas fases estáveis. É fácil ser amigo quando o sol brilha e os pássaros cantam, é fácil fingir que não estou ali e acabar me fazendo acreditar também. Ontem cheguei à conclusão também de que apesar de tudo que aparento tudo o que preciso e o que quero é estar perto dos que gostam de mim e me dão suporte, dos que querem estar comigo, dos que não me julgam e levam a sério minha doença; abolindo de vez do vocabulário termos como "você só é triste se quiser" e "não é nada vai passar logo". Não tenho a pretensão de ser salva por nenhum manic pixie boy, nem por ninguém. Eu só quero me sentir parte de algo, de qualquer coisa, de pessoas que viram a pior parte de mim e ainda me querem por perto. Eu quero que as pessoas parem de ter medo de mim e me enfrentem mais vezes, que lembrem da minha existência vez em quando e do quanto preciso do convívio com elas. E não, eu nunca esqueço nada. 

terça-feira, 24 de setembro de 2013

The Depression Diaries, nº14 - Morte

Eu sinto como se eu estivesse morrendo. Tecnicamente, o lado esquerdo do meu cérebro — o lado lógico — afirma que meu corpo está em perfeitas condições de saúde, pra eu respirar fundo que tudo está bem. Mas eu continuo morrendo. Consigo sentir cada órgão dentro de mim apodrecer e atrair mosquitos e outros predadores. Enquanto morro, rio de coisas que meus poucos amigos falam, como a comida que minha mãe faz e sento aqui em frente a esse computador e faço o que sempre faço, enquanto morro por dentro. Esse vai ser o meu destino e maior piada: morrer e não contar pra ninguém. Não que eu vá fazer alguma diferença com minha ausência. Estou me saindo muito bem na atividade de fazer todo mundo que conheço e gosto me odiar. Pergunto-me se há um limite de exaustão. 

Este é o quinto dia da minha crise atual. Se eu fosse menos preguiçosa eu poderia ser atriz. Meu papel em não fazer ninguém notar (eles não notariam mesmo se eu cortasse meus pulsos na frente deles) o quão profundamente enfiada na merda eu estou está sensacional. Eu nunca me senti tão sozinha em toda a minha vida, e olha que já passei por muita merda. Eu nunca estive tão perdida na minha própria vida. Parece que quando entrei em depressão eu arranquei os olhos de todo mundo à minha volta e, cegos, nenhum deles pode me ver. Ou me levar a sério. Estou morrendo todos os dias, estou morrendo agora, estou morrendo enquanto faço um trabalho da faculdade. Ninguém se importa com o lado direito do meu cérebro, só a gravidade que me puxa cada vez mais pra baixo, selando minha cova rasa.

Eu sinto muito, muito mesmo.


segunda-feira, 16 de setembro de 2013

The Depression Diaries, nº13 - Se eu olhar para trás, estarei perdida

Isso é provavelmente a coisa mais estúpida que eu já escrevi em toda a minha vida. E olha que eu já escrevi muita coisa estúpida nesses vinte anos da minha existência. Mas sabe a sensação de não ter ninguém mesmo tendo todo mundo? Que você só tá ali, em determinado lugar da vida de alguém só pra preencher cota de figurante? Segurando as pontas, sendo distração momentânea, sendo capacho. Não há uma ligação real entre a vida deles e a sua, entende? Já há outras pessoas fazendo esse trabalho, e nenhuma delas é você. Eu sento aqui e passo a maior parte do meu dia em frente a uma tela pra não ter que ir ao banheiro e cortar meus pulsos. Eu humilho as pessoas pra que ninguém veja o que se passa dentro de mim. Essa autoimolação que entra em combustão todo dia dentro de mim é em mil vezes a quantidade de danos que qualquer um pode me causar. Sinto como se eu estivesse sufocando mesmo tendo todo o oxigênio do mundo disponível; eu só não quero dar a mínima sobre ninguém, muito menos sobre mim mesma. Eu não sei de mais nada e ninguém se importa em descobrir, portanto por meia desta afirmo que todo mundo pode ir se foder. Eu quero correr e correr e correr até que eu não tenha nada mais do que fugir dentro da minha cabeça; minha maldita cabeça que não cala a boca um segundo. Talvez eu seja apenas mais uma egoísta nesse mundo querendo mais do que pode pedir, contudo eu me recuso a aceitar menos. Eu não posso esquecer e fingir que não me senti o ser humano mais insignificante da face da Terra, nem muito menos que esqueci. Todas as memórias que vivem em mim, proporcionalmente, também não somem nem muito menos são deixadas de lado. Esse é o ponto de viver em segundo plano: ninguém lembra, só você. Ninguém reconhece tua ausência, só você as deles. Passo despercebida quando quero e quando não quero por que todo mundo aprendeu a ter medo de mim. Eu queria que eles pudessem ver que ir mais além do portão com aviso de "cão raivoso" não os mataria.


“You spend your whole life stuck in the labyrinth, thinking how you'll escape one day, and how awesome it will be, and imagining that future keeps you going, but you never do it. You just use the future to escape the present.” John Green, Looking for Alaska

domingo, 1 de setembro de 2013

The Depression Diaries, nº12 - O dia em que eu larguei o psiquiatra

Eu fico olhando pro palitinho da página piscando e piscando e não consigo pensar em nada que seja agradável ou conveniente pra dizer. Talvez por que não haja mesmo, ou talvez por que tudo o que havia pra ser dito já o fora. Então por que meu maxilar dói com o peso do silêncio como se houvesse milhares de coisas que foram deixadas guardadas na gaveta? Minha história e minha depressão parecem que tornaram-se uma só, mas seria possível uma sobreviver sem a outra? É o que me pergunto todo dia.

Minha mãe me recorda pela milésima vez que tenho que ir remarcar a consulta com a psiquiatra, e eu ignoro pela milésima vez. Sinto como se eu vivesse num bolsão atemporal e conseguisse ver todo mundo à minha volta mudando, conquistando coisas, envelhecendo e eu continuo aqui só sendo eu, só me sentindo miserável e inútil, sem talento algum. Tudo se torna assustador pra mim, desde o futuro até a necessidade de fazer uma ligação. Depois de um ano vivendo com essa doença todos os dias do meu lado me dizendo mentiras que acabo acreditando, como eu poderia ter fé e reconhecer uma verdade? 

Sendo mais clara: como eu vou viver sem a depressão se eu tenho medo de não ser mais nada sem ela?

Eu decidi largar o psiquiatra por que a sensação que eu tinha era que eram me postas correntes por todo o corpo a cada consulta. É minha culpa de que nenhum remédio funciona comigo, concluí. Portanto, essa contínua visita mensal é inútil. Não quero acordar um dia e me ver dependente — viciada — em remédios provendo uma falsa sensação de segurança. Eu quero estar no controle. Eu quero respostas que pílulas não podem me dar.

Não sei ainda o que vou fazer — principalmente se tiver outra crise, mas acima de tudo meu desejo é que me levem a sério. Que não tenham medo de dizer a palavra D em minha presença sem que isso seja motivo de casualidade. Todas as pessoas reduziram-se a motivos que encontro pelas quais chorar, já que em mim todas as falhas já receberam suas lágrimas. Nem é tanto o choro em si, mas sim a sensação pós choro que é procurada. Aquela paz que se encontra naqueles minutos com o rosto ainda quente e vermelho é a que eu sinto falta. Meus olhos querem debulhar-se em lágrimas, porém tudo o que encontro é vazio. E o vazio é pior do que todas as dores do mundo. 

domingo, 25 de agosto de 2013

Foda-se todas as porras das suas expectativas


Consegue me deixar extremamente doente o fato de que se espera de uma pessoa com menos de 25 anos que ela seja melhor em tudo o que ela faça, que ela SAIBA e tenha certeza do que quer da vida. Não consigo suportar a ideia de que, principalmente aqueles que deveriam dar apoio aos nossos eventuais erros, são aqueles que mais enaltecem nossas falhas e reduzem a pó nossas qualidades. Você acha que isso faz de você um pai melhor? Porque não faz. Dizer pra seu filho que, embora ele tenha dado o melhor de si em algo, isso ainda não foi o suficiente não te faz nada mais que um merda. Não tenha a porra da audácia de dizer pra alguém que ela não é boa o suficiente. Não importa se você é pai, irmão, amigo ou namorado de alguém. Encorajamento é o que instiga qualquer ser humano a sempre procurar ser melhor amanhã do que fora hoje. Se uma criança te dá o desenho que ela fez, por mais que esteja feio, você tem a porra do dever de cumprimentá-la como se ela fosse o caralho do Pablo Picasso. Ter dado a vida a alguém não te dá o direito de fazer ela se sentir um pedaço de merda, um desperdício de espaço no universo. Vocês, pais, não tem noção do sentimento horrível que é ser humilhado pelas pessoas que deveriam te entender e apoiar. Nós não nascemos para ser seus bonecos perfeitos. Não estamos aqui pra suprir suas expectativas. Mas nos somos o suficiente. E não acredite em ninguém mais que disser o contrário. Foda-se eles. Ninguém morreu e fez deles os arautos da sabedoria da vida. Você é uma estrela. A galáxia mais distante é o limite.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Já viu alguém levar um tiro e não sangrar?


A façanha da vida é que ela não me deixa saber quase nada sobre suas engrenagens. De verdade, vinte anos não tornaram mais claro para mim como as coisas funcionam e nem o por que. E nem acho que esse seja o objetivo. Todavia, todas as minhas maneiras roubadas de personagens de livros de encarar as situações em que me ponho têm sido a coisa mais surpreendente pra mim. Por que diferente da eu de cinco anos atrás, a eu de hoje não tem a crença de que as coisas vão durar pra sempre. Até por que as pessoas nunca são, hoje, as mesmas de ontem. Planos mudam, circunstâncias mudam e outras se ajeitam, se esquecem. Acho que isso se chama "crescer" (?) Não é nem culpa da dificuldade de memorização, é só a vida. Ansiamos tanto pelas fases seguintes de nossas vidas pois nos é dito que elas são melhores e portanto nós somos melhores nelas, mas não é verdade. Nós só seremos melhores se quisermos. Se formos forçados a ser. Se nos convir, ser.

É e terrivelmente confuso e doloroso aceitar que a estada das pessoas na sua vida, muitas, mas muitas vezes tem um prazo de validade. Como o próprio Stephen Chbosky diz em The Perks of Being a Wallflower: "As coisas mudam e amigos partem e a vida não pára pra ninguém." Meu deus, que porra de clichê. Às vezes eu sinto que eu sou um grande e inútil clichê. O que dizer da nossa vida quando a gente nem sabe o que é? Ser jovem é incrivelmente recompensador, contudo consegue ser tão sufocante quanto um afogamento em mar aberto em alguns momentos. Eu queria que nós pudéssemos nos encontrar com nossos eus do futuro e que eles passassem as mãos na nossa cabeça dizendo que tudo ia ficar bem, porém que temos que deixar de idiotice e começar a fazer as coisas certas agora. Talvez um murro na cara seja a coisa mais apropriada que meu eu do futuro faça comigo.

Por que as coisas acabam, mas a gente não tem que acabar junto.

Porque o triste do fim de algo não é o fim em si, mas sim o corpo vazio. Vazio de menos um passageiro, da perda da sensação de "especialidade" que o outro nos permitia sentir — de ser único para alguém em meio a sete bilhões de pessoas que obviamente são melhores que você. E por que no fim a gente sempre quer acreditar no presente imutável, na longevidade do que nunca nos prometeu nada com o dedo mindinho.

Como voltar a acreditar nos outros e em mim mesma depois de não me importar mais? Como se importar e não ter a alma estraçalhada como um pedaço de pão velho que se esfarela entre os dedos? Ninguém nos diz que a vida vai ser assim. Um tipo de pacto-entre-adultos-que-viram-pais para deixar que a gente se foda pra caralho e aí então começar a entender a aprendizagem da sobrevivência nessa terra azul e marrom. É um puta de um clichê — novamente — mas às vezes as coisas que não nos fazem sentido servem para nos ensinar o desapego.  Todos aqueles que amamos são eternos enquanto seguem os caminhos que ousamos sonhar para eles. E então como crianças teimosas e cheias da razão eles fogem e, no fim, nos deixam contentes por tê-lo feito.

O que não escapa das minhas mãos acaba apodrecendo.


“How do you know when it's over? Maybe when you feel more in love with your memories than with the person standing in front of you.” Gunnar Ardelius

terça-feira, 6 de agosto de 2013

The Depression Diaries, nº11 - I'm the shittiest friend ever and i know it


Eu li alguma vez (não me lembro onde e estou com muita preguiça de procurar) que as pessoas podem suportar qualquer coisa desde que vejam o fim dela. Tipo quando você está numa maratona e tem o conhecimento que faltam, sei lá, 5km para a linha de chegada. Mas e se você vive uma coisa há tanto tempo que nem acredita mesmo que algum dia possa ter fim? É uma expectativa ao contrário; eu não ligo, deixa ela aí, já tá aí mesmo então foda-se cara, a vida não pára pra ninguém que dirá para os meus transtornos que transtornam a vida de todo mundo. Essa, entre muitas outras, é a razão do por que eu sou a pior pessoa pra se ser amiga. 

Mentira, não é culpa das minhas doenças não. Sou eu mesmo que sou uma merda de pessoa. Mesmo antes disso tudo aí no que ponho a culpa. A filhadaputagem me acompanha desde meu nascimento quando com certeza demorei a chorar só pra deixar o médico preocupado. Meus diálogos internos de que minha lealdade e devoção àqueles que prezo se sustentam fortemente dentro de mim são interrompidos por aquela voz escrachada que berra "não basta ser, tem que parecer também, panaca!" e aqui estou: não sei parecer. E quando tento parecer, acabo parecendo imbecil. O que no fim eu devo ser mesmo. 

Então fica aqui o meu parecer meio escondido nessas palavras sem contexto. Até por que eu sei que não deve ser fácil ter que me aturar. Principalmente esse meu espírito competitivo. E isso só por que eu só mostro uma parte dessa minha loucura diária que envolve cachaça, teorias conspiratórias, ataques de ansiedade e gatos. Por isso que concordo com outra frase cujo o autor não sei de imediato nem pretendo procurar agora: as pessoas amam diferentes partes de mim. Como se quando o quebra cabeça inteiro for montado, uma figura monstruosa esteja situada no centro dele fazendo uma careta que o deixa mais feio ainda. Tipo um Godzilla mesclado com um Dalek. Quem vai me amar quando vir esse monstro que urge pra sair todos os dias e o contenho cantando Madonna? Quem vai me olhar e dizer "beleza, já vi todos os seus lados ruins e ainda te quero por perto"? 

Mas citando uma frase de um autor que dessa vez eu me lembro qual é, a coisa da qual mais tenho medo no momento sou eu. De não saber o que eu vou fazer. De não saber o que eu estou fazendo agora. Obrigada Haruki Murakami.

Liberdade é tão confusa.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Sobre o meu infinito


Eu só gosto do que é impossível. Do que está perto de acabar. Do que pode escapar das minhas mãos a qualquer momento, a qualquer movimento brusco que eu possa fazer. Minha mente e corpo trabalham juntos numa imensa bagunça que, segundo eles mesmos, é impossível de ser resolvida. O gosto que o mais difícil, o mais complicado, o mais delicado deixa na boca é viciante e completamente ilegal. Mas o que se há para fazer quando ninguém no mundo pode me conter?

Sou como aquela farpa que entra dentro da carne da tua unha e se aboleta lá como um parasita, tudo isso por que você aparentemente tem o brilho incomum das coisas impossíveis. E no momento em que você deixa de tê-lo, eu te abandono como um cão safado após ganhar casa e comida e carinho. Parto pois não o acharei mais atraente para os padrões da minha existência; por que tudo fica muito real e de realidade eu prefiro manter certa distância. As realidades elas são muitas e poucas me atraem, e além do mais eu prefiro a eternidade do pouco que é agora do que o que se consideraria convencional. A sensação que ele deixa — aquele poderia-ter-sido — enche mais minha barriga do que o diário convívio que se esvai com a minha loucura.

Eu vim aqui por que queria dizer que talvez eu só goste das coisas impossíveis ou daquelas que estejam perto do fim ou daquelas outras que não tem nem meio porcento de chance de dar certo por que elas são como um bote salva vidas esperando enquanto você se prepara para pular de um barco em alto mar. Eu pulo direto do barco para o bote. Além do fato que eu não sei nadar, é mais seguro não se preencher de algo inacabável do que acabar se afogando no final. 

sexta-feira, 12 de julho de 2013

The Depression Diaries, nº10 - Ansiedade é uma grande filha da puta


JESUS FUCKING CHRIST. Em inglês (e em itálico e negrito) mesmo por que essa expressão define muito a minha pessoa em mais aspectos da minha vida do que eu gostaria. Eu não sou amiga da minha depressão, e plenamente nunca conviveremos no mesmo corpo sem uma tentar assassinar a outra. É como viver com o Darth Vader empunhando seu sabre de luz vermelho pra você; um parasita acoplado na sua pele e nos seus pêlos e na sua alma. E nem mesmo boas metáforas ela me permite fazer.

A ansiedade é como um bichinho que você encontra na rua e se apieda, pensando "por que não levar pra casa e cuidar dele? nada de mal pode acontecer." Aí então, depois de alimentado, banhado e de ter ganhado alguns carinhos, o meliante resolve morder a mão que lhe dá comida. Depois disso ele foge, você faz um curativo e tudo segue bem. Só que algum tempo depois, o bichinho volta arrependido e você, panaca do jeito que é, o aceita de volta. Agora imagine isso em looping. Eterno. Insistente. Uma tortura que já deve existir no inferno, e provavelmente envolve assistir o filme do Daredevil todo dia após uma crise de ansiedade.

Eu não deixo minha mãe me ver durante minhas crises. Muito provavelmente ela somente surtaria mais ainda do que eu e tentaria me dar um chá ou um remédio pra dormir. Não que eu não a queira por perto, o problema é que ela não consegue compreender. Me compreender. Eu respiro fundo. Imagino que tem alguém me abraçando. Repito pra mim mesma mil e duas vezes que eu não sou louca. Que eu estou em pleno domínio dos meus pulmões e da minha respiração. Que eu não vou morrer. Que está tudo bem eu me acalmar.

Um dos principais motivos que gosto de estar mais perto dos meus amigos (além do óbvio que é eu amá-los) é que, apesar de eu não conversar muito com eles sobre as coisas que passo, sei que eles estarão ali para me acudir quando eu tiver sem conseguir respirar feat. me debatendo. E assim eu vou sobrevivendo, dizendo pra minha mãe que naquelas vezes que ela me encontrou dormindo no chão do quarto foi porque eu estava com calor — mesmo que estivesse fazendo 19º.

Vai ver que algum dia eu acorde e consiga fazer o que minha mãe vive dizendo: controla essa ansiedade aí sozinha, não fique dependendo de remédio. Nossa, que genial. Eu nunca tinha pensado nisso antes. Descobri todas as respostas para as questões do universo. Porra, que mané Deus. Nós todos somos Deus. 42, porra.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

The Depression Diaries, nº09 - Por quê eu não posso controlar tudo e todos?

Eu não morri, como vêem. Mais de um mês após minha última postagem, eu acho que estou bem. Por hora. Por enquanto. Sei lá. 

Eu voltei a frequentar a psiquiatra. Agora tenho uma nova psiquiatra — uma mulher — Dra. Dayanna. Eu gostei dela; os cabelos dela me lembram o da Missandei de Game of Thrones. Ela diminuiu a dose da minha medicação, o que não sei se quer dizer algo bom, mas pelo menos já é alguma coisa. Minha vida segue bem.  Estou quase finalizando meu quarto período na faculdade, visitei o estádio local da Copa do Mundo com o programa de estágio que me inscrevi, comprei um novo computador (graças a Odin e consegui salvar todos os meus dados anteriores), meu gato Aegon está mais gordo e peludo do que nunca e acabo de entrar nas férias de inverno da faculdade. Eu acho que estou bem, mas continuo sentindo um vazio que precisa ser preenchido, só não sei ainda com o quê.

Às vezes eu sinto falta da minha própria loucura, que vai fugindo de mim como um animal selvagem antes aprisionado. Eu convivi com ela por tanto tempo que não me sinto como eu mesma agora que ela parece ter se escondido de mim. É possível que eu continue com a mesma imaginação, com o mesmo intelecto ao me tornar uma pessoa normal? Tenho medo de cair sobre a realidade numa queda livre e sem paraquedas. O que serei eu se não maluca? Eu não quero ser sana se não puder escrever como sempre.

Sobre o título desse relato, me incomoda profundamente o fato de que todos à minha volta parecem estar escorrendo entre os meus dedos. No fundo eu acho que é um pouco de inveja. Ver os outros perseguindo o que eles querem na vida me faz sentir como se eu estivesse atolando numa areia movediça vendo todo mundo seguir em frente enquanto eu afundo. Eu tenho quase vinte anos e não tenho a mínima ideia de como minha vida vai se suceder, esperando apenas depender menos de outros para que mudanças importantes ocorram. O medo de encarar o futuro sozinha faz minhas pernas tremerem todas as vezes que lembro que devo me tornar adulta. O que acontece com aqueles que não conseguem coragem suficiente para chegar até esse estágio? Coisas demais enegrecem o pensamento e a perspectiva.

No momento, em busca de oportunidades. Qualquer uma, principalmente qualquer uma que me leve pra bem longe daqui o mais rápido possível. Sempre me disseram que pôr os pensamentos em palavras formalizam seu pedido para o destino.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

The Depression Diaries, nº08 - I want to fall apart

Eu realmente queria poder vir aqui e escrever que as coisas — inclusive eu — estão melhorando. Eu queria poder dizer que eu não me sinto a maior merda da galáxia todo santo dia, que eu não vivo por aí sorrindo enquanto tudo dentro de mim dói pra caralho. Até porque é bem degradante até pra mim.

Sinto cada dia mais como se todas as coisas estivessem piorando e piorando todas ao mesmo tempo; nada nada de bom acontece, nem ao menos um sinal. Estão sendo tempos difíceis pra praticamente todos ao meu redor e me sinto cada vez mais egoísta por ser a única que está desabando. Por que isso sempre foi tudo o que eu sempre quis: poder desabar sem culpa nenhuma. Eu não queria ter que escrever essas palavras que sempre me soam falsas, e então pareço mais falsa do que nunca e não sei mais quem sou. Talvez se eu tivesse alguma fé cega em alguém ou em algum deus ou em qualquer coisa eu sentiria menos desespero pois saberia que não estaria sozinha. Eu passo pelos dias como um fantasma, que todo mundo vê mas não dá a mínima. Eu rio das coisas que me contam, quando na verdade quero sentar no chão e chorar até desidratar. Levanto da cama e saio de casa, quando tudo o que eu queria é ficar trancada no quarto pelo resto da vida. Dói fazer tudo isso, dói uma dor excruciante desde meu último fio de cabelo até meu dedão do pé. 

Estou há uns dois meses sem tomar remédio, há um tempão sem psicóloga e psiquiatra e me sinto como um barco à deriva sem saber qual rumo tomar. Estou completamente sozinha e sem poder fraquejar nesse momento, o que rasga cada canto dentro de mim com um punhal afiado e incansável. Não quero precisar suportar nada, apenas queria que pelo menos alguma coisa demonstrasse estar ficando bem. Eu só quero que tudo fique bem e quero não odiar cada parte minha porque não há nada que eu ao menos ache bonito em mim. Mas eu simplesmente não sei o que fazer, não sei mais de nada; nem mesmo rezar. E todas essas palavras daqui só são lágrimas.



segunda-feira, 1 de abril de 2013

The Depression Diaries, nº07 - Trégua? r: Não

28/03/13

Estive pensando esses dias e percebi que só escrevo nesse "diário" quando estou na camada mais profunda do fundo do poço. Portanto, devido à conquista de 1 mês sem ter crise alguma, esse post é uma comemoração.

30/03/13 - 3:30 AM

Eu estava errada.

01/04/13

Eu não quero mais escrever, eu não quero mais sair de casa, eu não quero ver ninguém. Eu não quero que ninguém me veja chorar, eu quero dormir e quando eu acordar nunca mais me sentir a maior merda que a vida já produziu. Eu sou a porra da pessoa mais sozinha do mundo inteiro e não por culpa de ninguém, mas por uma sina que vem junto com essa doença. Tudo que eu todo toco morre ou não dá certo, e se você for esperto o suficiente vai cair fora sem olhar pra trás. Eu parei de tomar os remédios, parei de ir à psicóloga e pareço estar afastando todo mundo cada dia mais. Mais do que Hitler  ou aquela sandália Crocs, eu sou o maior erro que o Universo já cometeu, um erro que vem dando azar pra raça humana inteira e vocês nem desconfiam. Tudo me irrita e a pior coisa de tudo é não ver uma luz no fim da jornada. Eu sou só uma garota e eu estou perdida, desaparecendo aos poucos pra que ninguém se dê ao trabalho de notar. Sou aquela pessoa que fica no fundo das fotos de festinhas caseiras, com um copo na mão e uma expressão de letargia no rosto. E quanto mais velha a foto fica, mais é perceptível que eu nunca estive lá. Eu nunca estive lá, nunca.

segunda-feira, 11 de março de 2013

The Depression Diaries, nº06 - With a little help from my friends


Eu não estou totalmente 100% agora, mas eu tenho ido bem. Meus pais continuam ignorando a existência das minhas doenças e o que elas fazem comigo e minha irmã certamente acha que isso tudo, todos esses remédios e esses médicos não passam de uma brincadeira. Por que obviamente eu adoro me sentir uma merda todo maldito dia não é, quem não amaria essa minha condição. Além disso, eles não têm comprado meu remédio regularmente, seguindo o pensamento que wow claro eu posso sair dessa sem medicação. No fundo eu acho que eles só tem medo de admitir que eu sou mesmo essa grande bagunça.

Mas esse texto não é sobre minha família.

Leio muito sobre depressão na internet Além disso, eu gosto de ler depoimentos de outras pessoas que passam pelas mesmas coisas que eu, que sentem ou já sentiram tudo o que às vezes quer pular do meu peito. Eu vejo dezenas de pessoas contando o quão sozinhas elas estão, o quanto gostariam de ter um amigo — só umzinho — pra dividir o peso que essa doença é. Eu me sinto tão cretina por jogar esse tipo de coisa "fora" por simples medo de que esse fardo passe a ser o fardo de outrem. E então eu minto. Minto mais do que uma mitomaníaca na sua fase mais profunda porque eu não quero que ninguém tenha que deitar a cabeça no travesseiro e se questionar antes de dormir "e se ela estiver se matando agora?". Parte de mim considera isso um puta de um egoísmo do caralho, entretanto a outra metade passa a mão nos meus cabelos dizendo que estou fazendo a coisa certa, me confundindo mais do que já estou.

Eu, Jaciara Macedo, tenho 19 anos e muitas manias e partes de personalidade que são detestáveis, mas mesmo assim fui agraciada com amigos que são muito além do que algum dia poderei merecer. Eles foram as primeiras pessoas a saberem da situação e são as que mais me ajudam nas horas mais sombrias. Eu não estaria aqui se não fosse por eles. Talvez algum dia eles percorram outros caminhos em que eu não esteja presente, porém nunca me esquecerei de todas as coisas que nem eles mesmos souberam que fizeram por mim. Eu nunca vou poder pagar essa dívida. 

Nada muito bom acontece em minha vida geralmente, mas eu sei que até mesmo o pior acontecimento melhora um pouco por que eu tenho vocês. É por causa de vocês que eu estou aqui. É por causa de vocês que eu escrevo, é por causa de vocês que eu saio da cama todos os dias. Por que sei que se eu sumir por uns dias vocês vão procurar saber se eu estou bem e onde eu estou. E pela primeira vez em um ano, eu não quero morrer. Eu quero ficar bem pra ser a amiga que todos vocês merecem, ainda que eu não saiba como. Eu quero viver pra ver vocês serem felizes, pra ver vocês casarem ou não, terem filhos ou não, gostarem dos seus empregos ou não; e eu quero querer e poder ser feliz também. Tudo começa quando nós estamos juntos.

Costumo sempre dizer que detenho todo o azar do mundo, contudo a maior sorte da minha vida foi vocês, meus amigos, meus irmãos, minha família nunca terem desistido de mim. Obrigada por isso e por todos os outros apoios, conversas, piadas pra me fazer rir, convites pra sair, ligações carinhosas, compreensão nos meus piores momentos, amor que parecia mentira — bom demais pra ser verdade. Obrigada aos que estão comigo há cinco anos ou há cinco meses, pra mim tanto faz a duração, apenas a estada. Passar por tudo isso sabendo que tenho vocês talvez não pareça mais simples ou menos doloroso, mas com certeza é uma luz no fim do túnel, ponto principal da rota de saída do inferno.

Para Patrícia, Osci, Kaleane, Thyara, Delmas, Fernando, Michel.


“If you know someone who’s depressed, please resolve never to ask them why. (...) Try to understand the blackness, lethargy, hopelessness, and loneliness they’re going through. Be there for them when they come through the other side. It’s hard to be a friend to someone who’s depressed, but it is one of the kindest, noblest, and best things you will ever do.” Stephen Fry

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

The Depression Diaries, nº05 - Trust your heart if the seas catch fire


Minhas férias acabaram. Às vezes me pego me olhando no espelho e me pergunto se essa pessoa que eu vejo pode ser tudo aquilo que imagino ser no meu mundo particular, na minha cabeça. Eu não quero falar pros meus amigos, pra minha família, pra minha psicóloga algo, quer dizer, qualquer coisa, porque tenho medo de que eles pensem que estou ficando ruim de novo. Porque eu acho que estou. Eu não quero deixar minha doença me definir, mas às vezes é tão difícil. Eu queria ter a coragem de desistir de tudo logo de uma vez. Sem arrependimento, sem volta, sem nada. Sou um botão de auto destruição pronto para ser apertado, esperando apenas algum evento fatídico para impulsionar a mão que paira sobre ele. 

Minha irmã começou a trabalhar atualmente. Meus pais não estão na melhor fase, porém vão superar tudo, sempre superam. Eu não acho que eu tenha nascido para esse mundo que me causa tanta dor e me faz causar tanta dor nos outros. Queria eu ter nascido em outra vida, com outras habilidades, com outra personalidade — uma que não fosse tão fracassada. Não quero que ninguém me veja porque seus olhos parecem conseguir ver toda a podridão que há dentro de cada parte do meu corpo; impregnada nos meus órgãos e nas minhas veias, me matando sem anestesia um pouco a cada minuto. E novamente, a única saída cabível me parece a de criar meu próprio fim, dom de um Deus que parou de me escutar há muito tempo e portanto, não se importará.

Algumas vezes acho que se eu encontrasse um gênio numa lâmpada meu único desejo seria me transferir para outro corpo, para outra realidade em que eu pudesse ser tudo o que sempre quis sem ter como empecilho tais anormalidades. Sou uma auto sabotadora profissional, matando meus poucos talentos enquanto me faço sentir miserável. Se algum dia eu tiver um filho e ele infelizmente se sentir do jeito que me sinto, eu nunca vou negar tal realidade. Porque eu me importo, com todos os que escolho e amo e protejo. Aqueles que quero manter longe nos meus piores momentos por não ser culpa nem problema deles. Porque eu me importo. E porque luto todo dia para ainda estar lá por todos eles mesmo quando meu desejo é outro. Eu sou a garota que não tem muitos amigos, sou a garota que quer viver o suficiente para ver o espaço sideral de perto, mas já se vê esquecida facilmente como um carro velho quando amassado por um tanque soviético. Tudo o que resta para trás são fragmentos do que um dia já fui ou fingir ser.


I always wonder why bird choose to stay in the same place when they can fly anywhere on earth, then I ask myself the same question. Harun Yahya

domingo, 6 de janeiro de 2013

The Depression Diaries, nº04 - Desvanecendo

Eu quero que as coisas sejam diferentes. Desejo poder fazer tudo aquilo que não fiz por medo, mas sinto que estou cada vez mais desaparecendo aos poucos. Não controlo mais minha mente, minhas ações, sinto que estou a ponto de surtar. Minha cabeça está flutuando num mar de pensamentos e lembranças e ações que não consigo ter, eu não sei mais quem sou. 

Tenho pensado muito que talvez não haja uma cura para a depressão. Ou talvez só não haja pra mim. Tenho medo de ficar assim pra sempre. Tenho medo de ficar louca. Eu não quero meu cérebro, eu não quero minha mente, eu não quero nada na minha cabeça. Eu só quero ser normal. Ou morrer.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

The Depression Diaries, nº03 - Novo ano, novas merdas

2012 enfim acabou. E ele só não se tornou o pior ano da minha vida por que conheci pessoas maravilhosas - outras nem tanto - e mantive as amizades que ainda me restam, mesmo depois de tudo e de todas as minhas crises e desesperos. 

Eu não fiquei em casa no Réveillon, como eu disse previamente que morreria se ficasse. Viajei - e ainda estou viajando - com uma amiga, Osci (apenas apelido de Carla, mas é uma longa história) e os amigos dela, que foram todos muito legais comigo ao contrário do que eu pensei que seria. Basicamente,  todo mundo me odeia até que se prove o contrário. Acho que finalmente entendi porque Osci gosta tanto de vir pra essa cidade - apesar do grande calor. Em todos os momentos que passei com eles deu pra notar nitidamente o quão forte a relação deles é, apesar de todos os desentendimentos e em todos os detalhes que nunca serei capaz de observar como um todo. 

Realmente pensei que em meio a todos os momentos lindos e felizes que já tive até agora nenhuma nuvem negra, daquelas que vêm me assombrando durante esses longos meses, realmente pensei que elas não fossem dar as caras por aqui. E por aqui, digo em mim. Eu não sentia um desejo de morrer tão forte quanto o que eu senti hoje fazia muito tempo. O propósito que mantém todo ser humano vivo escorregou entre meus dedos como se nunca tivesse estado lá nem uma vez sequer. Depois de tanto tempo fazendo respiração boca a boca na minha alma, eu enfim aceitei minha morte interna.

Hoje eu deitei numa das redes da casa de praia e chorei como se chorar fosse fazer tudo aquilo parar. Chorei como se ela fosse me manter viva o suficiente para não machucar ninguém. Chorei em silêncio, para que os meus amigos na rede ao lado não ouvissem e coberta com lençol para ninguém enxergar minhas lágrimas. Chorei de nojo de mim mesma. Chorei e me senti a pessoa mais sozinha do mundo. Não por que meus amigos não estavam lá por mim ou por que eles não davam a mínima, mas sim por que eu nasci assim e sempre serei assim. Minha sina é tão triste quando sufocante e me mata todo dia um pouco e tudo por causa desse cérebro maldito. Eu odeio minha cabeça, eu odeio ser assim, eu odeio tanto que parece que vou cometer um suicídio interno. E ninguém vai ver, ninguém tá nem aí depois de certo tempo e desgaste.