sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Já viu alguém levar um tiro e não sangrar?


A façanha da vida é que ela não me deixa saber quase nada sobre suas engrenagens. De verdade, vinte anos não tornaram mais claro para mim como as coisas funcionam e nem o por que. E nem acho que esse seja o objetivo. Todavia, todas as minhas maneiras roubadas de personagens de livros de encarar as situações em que me ponho têm sido a coisa mais surpreendente pra mim. Por que diferente da eu de cinco anos atrás, a eu de hoje não tem a crença de que as coisas vão durar pra sempre. Até por que as pessoas nunca são, hoje, as mesmas de ontem. Planos mudam, circunstâncias mudam e outras se ajeitam, se esquecem. Acho que isso se chama "crescer" (?) Não é nem culpa da dificuldade de memorização, é só a vida. Ansiamos tanto pelas fases seguintes de nossas vidas pois nos é dito que elas são melhores e portanto nós somos melhores nelas, mas não é verdade. Nós só seremos melhores se quisermos. Se formos forçados a ser. Se nos convir, ser.

É e terrivelmente confuso e doloroso aceitar que a estada das pessoas na sua vida, muitas, mas muitas vezes tem um prazo de validade. Como o próprio Stephen Chbosky diz em The Perks of Being a Wallflower: "As coisas mudam e amigos partem e a vida não pára pra ninguém." Meu deus, que porra de clichê. Às vezes eu sinto que eu sou um grande e inútil clichê. O que dizer da nossa vida quando a gente nem sabe o que é? Ser jovem é incrivelmente recompensador, contudo consegue ser tão sufocante quanto um afogamento em mar aberto em alguns momentos. Eu queria que nós pudéssemos nos encontrar com nossos eus do futuro e que eles passassem as mãos na nossa cabeça dizendo que tudo ia ficar bem, porém que temos que deixar de idiotice e começar a fazer as coisas certas agora. Talvez um murro na cara seja a coisa mais apropriada que meu eu do futuro faça comigo.

Por que as coisas acabam, mas a gente não tem que acabar junto.

Porque o triste do fim de algo não é o fim em si, mas sim o corpo vazio. Vazio de menos um passageiro, da perda da sensação de "especialidade" que o outro nos permitia sentir — de ser único para alguém em meio a sete bilhões de pessoas que obviamente são melhores que você. E por que no fim a gente sempre quer acreditar no presente imutável, na longevidade do que nunca nos prometeu nada com o dedo mindinho.

Como voltar a acreditar nos outros e em mim mesma depois de não me importar mais? Como se importar e não ter a alma estraçalhada como um pedaço de pão velho que se esfarela entre os dedos? Ninguém nos diz que a vida vai ser assim. Um tipo de pacto-entre-adultos-que-viram-pais para deixar que a gente se foda pra caralho e aí então começar a entender a aprendizagem da sobrevivência nessa terra azul e marrom. É um puta de um clichê — novamente — mas às vezes as coisas que não nos fazem sentido servem para nos ensinar o desapego.  Todos aqueles que amamos são eternos enquanto seguem os caminhos que ousamos sonhar para eles. E então como crianças teimosas e cheias da razão eles fogem e, no fim, nos deixam contentes por tê-lo feito.

O que não escapa das minhas mãos acaba apodrecendo.


“How do you know when it's over? Maybe when you feel more in love with your memories than with the person standing in front of you.” Gunnar Ardelius

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