segunda-feira, 11 de março de 2013

The Depression Diaries, nº06 - With a little help from my friends


Eu não estou totalmente 100% agora, mas eu tenho ido bem. Meus pais continuam ignorando a existência das minhas doenças e o que elas fazem comigo e minha irmã certamente acha que isso tudo, todos esses remédios e esses médicos não passam de uma brincadeira. Por que obviamente eu adoro me sentir uma merda todo maldito dia não é, quem não amaria essa minha condição. Além disso, eles não têm comprado meu remédio regularmente, seguindo o pensamento que wow claro eu posso sair dessa sem medicação. No fundo eu acho que eles só tem medo de admitir que eu sou mesmo essa grande bagunça.

Mas esse texto não é sobre minha família.

Leio muito sobre depressão na internet Além disso, eu gosto de ler depoimentos de outras pessoas que passam pelas mesmas coisas que eu, que sentem ou já sentiram tudo o que às vezes quer pular do meu peito. Eu vejo dezenas de pessoas contando o quão sozinhas elas estão, o quanto gostariam de ter um amigo — só umzinho — pra dividir o peso que essa doença é. Eu me sinto tão cretina por jogar esse tipo de coisa "fora" por simples medo de que esse fardo passe a ser o fardo de outrem. E então eu minto. Minto mais do que uma mitomaníaca na sua fase mais profunda porque eu não quero que ninguém tenha que deitar a cabeça no travesseiro e se questionar antes de dormir "e se ela estiver se matando agora?". Parte de mim considera isso um puta de um egoísmo do caralho, entretanto a outra metade passa a mão nos meus cabelos dizendo que estou fazendo a coisa certa, me confundindo mais do que já estou.

Eu, Jaciara Macedo, tenho 19 anos e muitas manias e partes de personalidade que são detestáveis, mas mesmo assim fui agraciada com amigos que são muito além do que algum dia poderei merecer. Eles foram as primeiras pessoas a saberem da situação e são as que mais me ajudam nas horas mais sombrias. Eu não estaria aqui se não fosse por eles. Talvez algum dia eles percorram outros caminhos em que eu não esteja presente, porém nunca me esquecerei de todas as coisas que nem eles mesmos souberam que fizeram por mim. Eu nunca vou poder pagar essa dívida. 

Nada muito bom acontece em minha vida geralmente, mas eu sei que até mesmo o pior acontecimento melhora um pouco por que eu tenho vocês. É por causa de vocês que eu estou aqui. É por causa de vocês que eu escrevo, é por causa de vocês que eu saio da cama todos os dias. Por que sei que se eu sumir por uns dias vocês vão procurar saber se eu estou bem e onde eu estou. E pela primeira vez em um ano, eu não quero morrer. Eu quero ficar bem pra ser a amiga que todos vocês merecem, ainda que eu não saiba como. Eu quero viver pra ver vocês serem felizes, pra ver vocês casarem ou não, terem filhos ou não, gostarem dos seus empregos ou não; e eu quero querer e poder ser feliz também. Tudo começa quando nós estamos juntos.

Costumo sempre dizer que detenho todo o azar do mundo, contudo a maior sorte da minha vida foi vocês, meus amigos, meus irmãos, minha família nunca terem desistido de mim. Obrigada por isso e por todos os outros apoios, conversas, piadas pra me fazer rir, convites pra sair, ligações carinhosas, compreensão nos meus piores momentos, amor que parecia mentira — bom demais pra ser verdade. Obrigada aos que estão comigo há cinco anos ou há cinco meses, pra mim tanto faz a duração, apenas a estada. Passar por tudo isso sabendo que tenho vocês talvez não pareça mais simples ou menos doloroso, mas com certeza é uma luz no fim do túnel, ponto principal da rota de saída do inferno.

Para Patrícia, Osci, Kaleane, Thyara, Delmas, Fernando, Michel.


“If you know someone who’s depressed, please resolve never to ask them why. (...) Try to understand the blackness, lethargy, hopelessness, and loneliness they’re going through. Be there for them when they come through the other side. It’s hard to be a friend to someone who’s depressed, but it is one of the kindest, noblest, and best things you will ever do.” Stephen Fry