sexta-feira, 27 de maio de 2011

Frodo.


Este texto é para você. Para você que sabe que é para você. Sempre que sua imagem aparece em minha mente, eu penso em um monte de coisas pra te dizer. E não importa quantos textos eu escreva e nem que você não os leia mais, sempre ficará algo a mais a ser dito. Aí te escrevo, te uso, te entrelinho centenas e centenas de vezes junto com tudo que floresce em mim quando escuto tua voz. Poucas coisas descreveriam tudo o que fez por mim, seja pelo fato de você não me levar muito a sério ou por eu usar palavras repetidas, mas digo que você foi a melhor, a melhor coisa que me aconteceu nessa vida e como de praxe, não vai durar muito tempo. Passei boa parte da minha existência tentando ser boa o suficiente para que os outros gostassem e tivessem orgulho de mim, do que eu era enquanto você disse que me achou inteligente e engraçada simplesmente do nada. Sempre achei engraçado o fato de sempre termos assunto um com o outro mesmo que não tenhamos absolutamente nenhum gosto em comum - eu sou de Vênus e você é de Marte. E sempre achei lindas todas as vezes em que você disse que queria casar comigo, sendo que você sempre será a única pessoa com quem eu faria isso. Eu estou tentando acreditar que tudo que está acontecendo e que ainda vai acontecer nos próximos meses na minha vida tem um propósito maior. Já ouviu falar na Teoria do Caos? Ela diz que uma escolha que você acha pequena e sem valor hoje pode mudar toda a sua vida. Só espero ter feito a escolha certa, porque sei que faço você passar por um bocado de coisas chatas e não me orgulho disso. Por isso tudo o que eu faço é pra te proteger, pra não deixar ninguém nunca te machucar. Posso ser uma otária em muitas coisas, mas nunca fui quando disse tudo a você. Sua mania de ser insuportável e me irritar profundamente quando quer não diminui meu julgamento sobre você ser uma das pessoas mais bonitas que já conheci durante os anos que aqui permaneço. Algumas memórias nascem tão lindas, embora que nunca parem de doer. Escrevendo este texto e procurando uma razão para ele, vejo que você me salvou incontáveis vezes e de muitos modos e nunca soube disso. Mas não se preocupe, é algo que quase ninguém consegue ver. Tanto quanto você ser melhor do que qualquer outra pessoa com poderes mágicos. Não estou aqui para negar nada, a propósito, porque sei que fui escrota, grossa, chorona, impaciente e fria com você quando eu nem sabia o porquê e quando tu não merecia. Isto não é o fim imediato. Só preciso me libertar um pouco mais de você para conseguir ser e fazer tudo sem seu fantasma segurando a minha mão. Sinto uma falta enorme de um monte de coisas que nós deixamos de ser nesses meses, a maior parte por meu orgulho tão infantil que você detesta, e sinto falta de cada minuto que não estive com você, sinto falta de cada vez que não pude te abraçar e contar uma piada barata enquanto você chorava, de cada vez que não pude te mostrar meu sorriso enquanto ouvia você cantar Los Hermanos. Minha pequena grande gramática humana, minha versão (mais chata) masculina. Não sou tão incrível quanto você pensa e você não é tão infalível quanto acha que é. Somos elementos químicos que se misturam e origina algo híbrido quase monstruoso. Reis do mundo ou Reis de si mesmo. Na verdade este texto é para te dizer que não vou mais escrever sobre sua participação na minha vida, que vou guardar tudo o que sinto por você apenas no meu coração que sempre foi seu por que talvez assim seja mais saudável. E para ver se você ainda me lê. 

terça-feira, 24 de maio de 2011

The voice that comes from the ocean within me.


Zeca,
Eu poderia ter ficado com você naquela noite. Em pouco tempo, nós teríamos nos casado e logo em seguida teríamos comprado uma casa no subúrbio da nossa cidade, bem perto da casa dos nossos pais. Todo fim de semana almoçaríamos na casa dos tios, primos, dos nossos pais e então chegaria o dia em que todos eles viriam almoçar no nosso quintal, numa grande mesa repleta de receitas da minha mãe. Eu teria um emprego bom, porque você sabe que sou muito boa no que faço, mas reclamaria dele sempre que pudesse e você faria o que sempre fez de melhor. Em pouco tempo teríamos nosso primeiro filho, porque só Deus sabe o quanto eu gostava de fazer sexo com você. Logo depois, viria o segundo filho. Aí então eu te convenceria a fazer uma vasectomia e tudo ficaria bem. Brigaríamos por coisas bobas e duas horas depois estaríamos de bem novamente. As contas chegariam cada vez em maior quantidade a cada mês, mas nós sempre daríamos um jeito de sobreviver. Levaríamos nossos filhos ao primeiro dia de aula deles e gravaríamos tudo em vídeo, desde os primeiros momentos e quando eles fossem mais velhos, veríamos todas as imagens sentados na sala de estar. Um belo dia você chegaria em casa com um cachorrinho pequeno que continuaria conosco para o resto de nossas vidas. Você me amaria todos os dias sempre cada vez mais e ainda seria o meu motivo de viver. Nossos filhos cresceriam, iriam para a faculdade, se casariam e ficaríamos com a casa só para nós, como no começo. Ficaríamos mais juntos do que nunca, envelheceríamos juntos, brigando até pela posição de um porta retrato. Teríamos netos e você contaria aquela sua história de pescador para eles, como contava toda noite aos nossos filhos para que eles dormissem. Teria sido uma vida boa, feliz.

Mas eu não fiquei.

Eu bati aquela porta com tanta força que pensei que tivesse quebrado a fechadura. Eu precisava de mais. Eu precisava do mundo inteirinho, todinho aos meus pés. Queria conhecer toda e qualquer coisa que eu antes já tinha visto na TV, nas revistas. Queria me sentar à margem de cada rio desses continentes, queria tudo o que a vida podia me proporcionar. Eu sei que eu não posso voltar agora que tudo já está feito, Zeca. Você seguiu sua vida sem mim e eu fico contente que tenha conseguido tudo o que queria. Nós sempre fomos tão diferentes, não é? Você nunca pensou nem mesmo em sair do seu país. Eu sempre tive muitos outros países misturados aqui dentro de mim. Eu podia sentir os novos ares percorrendo e se misturando ao sangue das minhas veias. Nem pense em desistir agora, Zeca. Entre nessa igreja aí e realize seu grande sonho que era casar com alguém, um alguém que você quis tanto que fosse eu. A memória de que você sempre será todos os meus oceanos nunca se perderá, assim como você disse que sempre se lembraria de como conseguiu nadar até a ilha que eu era e construir uma ponte até a civilização. Eu quis ser livre, e fui. Você queria ser feliz, e será. Estarei invisível na tua presença para me certificar disso.

Música do post: Meu Lugar - Enverso

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Jinx.



Começou a chover. Pode parecer clichê demais, mas eu não me importo. Eu não sentia mais nada. Não por que não estava mais viva, mas sim porque já havia sentido tudo o que alguém poderia sentir. Não doía mais: estava tudo vazio. E vazio dá desespero. Antes eu te sacudia e sacudia e gritava para que pelo amor de Deus você sentisse alguma coisa ou me batesse ou me empurrasse ou qualquer coisa, mas que por favor você parasse de me olhar assim desse jeito, como se me atravessasse e não enxergasse nada em mim. O que diabos você tem aí dentro, seu babaca? Reaja, por favor, não deixe o quase nada virar o nada de uma vez, um quase nada que talvez poderia ser tudo. Para você, para mim. No entanto, você é um robô. Um maldito robô.  Diga algo mesmo que seja um xingamento. Me arranha, me enfrenta, me empurra contra a parede, me puxa. Me toca. Agora tudo virou água suja, numa mistura de chuva e lágrimas completamente indistinguíveis e então eu te imagino rindo da minha cara de idiota aí então eu me lembro que você não consegue rir porque você é um robô-sem-alma-nem-coração-que-não-moveria-nem-um-dedo-mindinho-por-mim. Olha, minha roupa já está toda molhada. Se você estivesse aqui diria que eu iria pegar uma pneumonia ou seria atingida por um raio. Talvez eu queira ser atingida por um raio. Qualquer um deles. O mais bonito deles. Aquele que você odeia. Eu queria ir onde você está, mas eu não sei o caminho. Andei milhas e milhas encharcadas de água e lágrimas e meus cabelos nos olhos me impedindo de olhar para o meu velho novo fracasso. Pare de falar essas coisas idiotas sobre o que não me interessa e seja humano, seja maluco, seja inconseqüente. Seja meu qualquer coisa. Não me chame por esses vocativos que eu detesto, me chame como você me conhece. Se arrisque uma vez  só nessa merda da sua vida se você sente algo. Pelo amor de Deus, não me deixe errar de novo. Eu faço o que você quiser; até deixo de andar sob a chuva e de enfrentar raios, só dê um único sinal. Todas as pessoas da rua me olham, mas ninguém me vê. Eu esperava que você conseguisse isso ou pelo menos tentasse. Elas, as cegas funcionais, devem sentir meu cheiro de bebida e chuva e lágrimas, mas eu não me importo. E se você se importar por causa do seu jeito certinho, que se foda, eu te beijo, te seqüestro se você não quiser. Mentira, eu sou fraca demais pra não te deixar ir. Já passou da meia noite e eu deveria voltar, mas eu estou perdida. Por dentro e por fora. Decida-se, decida-se. Já é tarde, quase tarde demais. Não espere parar de chover.

Música do post: Misery - The Beatles

domingo, 8 de maio de 2011

Dançando no escuro do sétimo céu.

"Tudo o que nasce deve morrer, passando pela natureza em direção à eternidade. "
William Shakespeare


As nuvens não são feitas de algodão doce como se costumava pensar quando se é criança. Descobre-se isso quando decide pisar sobre elas, num dia de sol. Descobrir que você não é imortal machuca mais do que qualquer outra coisa. Descobrir que você é vulnerável é como cair de um cavalo em movimento, dando de cara com o chão. Sempre achei que a imortalidade era como Deus: só se deseja quando se precisa dela. "Oh me desculpe, eu ainda sou bastante jovem para algumas quedas." Até que um dia tu cai e não levanta mais. Chega-se a um nível de dor antes desconhecido, e todo mundo tem medo do desconhecido. É como quando se sonha que se está caindo, com a diferença de que acordar não é mais uma opção salva-vidas. Você se parte em mil pedaços assim que seus pés não dançam mais conforme a música divina. Não é uma merda como se sentir humano é horrível, não é? Bem vindo a graça de estar vivo, onde continua sempre amanhecendo. Onde nada é justo, e a recompensa demora a chegar. Onde todas as novidades se tornam jornal de enrolar peixe a cada cinco minutos.  Onde um tropeço alheio é um degrau para outro. E enquanto você se move com passos polidos nas pontas dos pés, o céu cai sobre a cabeça de alguém. Todo mundo passa por uma fase meio "país das maravilhas", mas querendo ou não a gente é empurrado sobre a realidade, dura e fria, sem doce ou chá das cinco algum. Não adianta ser arisco. É tão imediato, tão rápido, tão simples. Um belo dia tu acorda e se dá conta do horror do mundo. Sente a humanidade toda gritar dentro da sua pele como se fosse explodir. É daquele tipo de coisa que se você contar a alguém, vai ser chamado de lunático. Cada humano, diferente vivência. Há uma porção de oportunidades por aí para se descobrir a verdade, mas só quando ela é jogada na sua cara é que você se situa. Não dá pra dançar durante muito tempo tendo medo de cair. Levar um pito da vida dói, não é? Você não vai rir disso no futuro, mas acredite: cada vez mais tarde, cada vez mais difícil. Mantenha seus pés e mãos aquecidos e siga em frente. A imortalidade não vale nada se não souber usá-la. Como é que Nietzsche dizia mesmo? Ah, é. Você vive uma vida hoje que gostaria de viver por toda a eternidade? Há tantas coisas maiores do que a vida eterna. Há tantas coisas maiores do que duas pessoas. Bom que para você, para mim, para alguém o mundo talvez se resuma em um monte de tentativas de estar sempre melhorando, buscando um - apenas um minuto que dure para sempre.

Música do post: Falling Down - Muse

quarta-feira, 4 de maio de 2011

The biggest danger.

"É difícil aprisionar os que têm asas."
Caio F. Abreu


Respira fundo e vai. O ritmo da música ficou preso nas paredes, como nas teias de um super herói. O mundo antes tão pequeno, se alongava a cada passo descalço que eu dava, bem lento como um punhal que atravessa a pele sem nenhum aviso prévio. Tudo mudou, se mandou, tudo. E eu também mudei, me mandei. Antes, quando eu não podia, eu tentei salvar meu mundo, minha vida de todas as maneiras existentes. E então, nos últimos minutos para a partida do trem, eu pulei. Eu não podia ficar enjaulada - mesmo que não fosse da forma literal - presa às tuas correntes de seda. Eu só pulei. Não pensei nem por um segundo o quão machucada eu poderia ficar, só pulei. É o quase desespero do aprisionamento. Sempre achei que nossa diferença crucial era que você conseguia ser feliz dentro do seu mundo, enquanto eu queria ver o mundo. Você é bossa nova e eu sou os Beatles, você permanece firme no seu feijão com arroz enquanto eu experimento sushi. Por isso pulei. E não consigo me arrepender. Caminhei durante muitos anos sobre meu próprio teto de vidro para desistir agora. Minhas asas me salvaram, nunca tive medo de cair. A colisão sempre foi produtora de novidades. Seguro firme e vou. Onde você está na sua vida? Consegue ver? Continue pisando no chão enquanto ele ainda está firme. Assim como o mundo, meu desejo não se mede em fita métrica. As horas, que hoje passam devagar a cada olhada nos ponteiros, serão só lembranças amanhã, e depois de amanhã e depois de depois de amanhã. No fim, eu sempre soube que salvaria o mundo ou me acabaria junto com ele.