quinta-feira, 24 de outubro de 2013

The Depression Diaries, nº16 - Weary and haunted

Eu espero que algum dia eu consiga tomar um banho sem chorar nem uma vez sequer, espero que algum dia eu consiga lembrar de imediato as razões pelas quais eu ainda continuo viva. Eu espero que algum dia meu círculo social seja composto por pessoas que aceitem que sou uma suicida ao invés de fechar os olhos toda vez que me vêem, como se eu já não fosse invisível o suficiente. Eu espero que algum dia eu consiga fechar meus olhos e não imaginar os discursos do meu funeral, pobres e vazios tal qual meu corpo sem vida. Eu espero que, num dia qualquer, eu acorde e decida dar bom dia a todo mundo que eu vir pela rua simplesmente porque eu estarei satisfeita comigo e com a minha vida. Que algum dia eu possa estar em paz comigo mesma, que eu me sinta querida onde eu estiver, que eu não seja um peso pra vida de ninguém. Eu passei minha vida inteira querendo ser igual a todo mundo e aparentemente tudo o que eu cada vez mais consigo ser é uma estranha no ninho. 

Eu espero que algum dia eu consiga dizer que estou bem e que isso não seja uma mentira.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Velha, sozinha e louca


Eu acordo todos os dias e penso "ai meu deus, quantos anos ainda faltam pra eu viver? eu não aguento uns 60 anos disso não" por que obviamente se você lembra daquela frase de Nietzsche que pergunta "bla bla bla você queria viver pra sempre a vida que vive agora bla bla bla", fica claro que eu não quero viver a vida que vivo agora pra sempre. Nossa Senhora, viver pra sempre dever ser um pé no saco. 

Eu nunca tive muitos amigos desde criança. E por isso, ainda nessa idade, eu tinha a ideia de que quanto mais velha eu ficasse, mais amigos eu acumularia. Pensando bem agora essa é uma linha de raciocínio muito burra se eu considerar as pessoas mais velhas ao meu redor. Pois tenho certeza que esse é meu destino: ficar velha, sozinha e louca. Velha é inevitável, sozinha por que vai chegar um momento que não terei mais pessoas que me suportem e louca por que minha mente já atravessou muitos limites e se aproxima do final como uma cobra rastejando ao redor de um cômodo que ela ainda não pode conquistar. 

A idade aumenta e percebo o quão babaca era nos anos anteriores, o que basicamente implica que serei babaca pro resto da vida. Parte de mim se alegra porque eu passei a vida toda querendo ser babaca que nem todo mundo e porque ser diferente cansa. Eu quero ser magra, fútil e imbecil como a maioria das pessoas que conheci a vida toda, eu quero conseguir enxergar um jeito de levar uma vida normal. Eu só quero não ser maluca. Eu quero passar por essa época de juventude da vida e não perder minha cabeça, as pessoas que amo e a vontade de seguir em frente, de resistir e persistir no que eu, no meu coração, acredito ser importante e verdadeiro. 

Mas a questão é que quando eu não consigo respirar é que eu me encontro. Quando eu estou no meio do caos é que eu me reconheço, quando estou criando coisas absurdas é onde meu corpo parece caber. Eu odeio ser o que sou e ser de outro jeito me entedia, as pessoas me entediam, os lugares me entediam, minhas histórias me entediam e tudo isso só faz de mim uma pessoa incrivelmente insuportável. Passar pelos 20 anos fazem eu me sentir pisando em ovos e legos e a beira de mais um surto por que tudo acontece rápido demais e tenho medo de não ser suficiente, de tudo transbordar e afogar, me afogar. Dependendo do quão imbecil eu me sinta daqui a alguns anos por ter escrito isso aqui, eu espero que meu eu lá da frente não tenha tido tanto medo da mobilidade, da evolução, transição. Que eu e minha mente consigamos viver em paz e me manter sã enquanto eu ainda tiver que viver. E que eu pare de ser cafona.

domingo, 6 de outubro de 2013

The Depression Diaries, nº15 - All I need is love

Voltando pra casa ontem cheguei à conclusão de que a pior coisa sobre a depressão é quando você sente que ninguém realmente está ali do seu lado para te dar suporte. Em todas as coisas do mundo, caminhar sozinho por uma estrada escura e inóspita é desesperador, confuso e tremendamente perigoso. Sinto como se todas as vezes em que entrei em crise e fingi muito bem que estava tudo ótimo as pessoas ao meu redor me olhavam e pensavam "ah, tá tudo bem, ela sobrevive. deixa ela quieta no canto dela que daqui a pouco passa." Ninguém (além da minha mãe uma única vez) me aguentou durante uma crise de choro, ninguém nunca foi além do "não vou te forçar a falar se você não quiser", ninguém nunca perguntou se eu já tentei me matar alguma vez. É fácil ler meus relatos aqui, é fácil perguntar "tá depressiva, é?", é fácil perguntar como estou quando estou nas minhas fases estáveis. É fácil ser amigo quando o sol brilha e os pássaros cantam, é fácil fingir que não estou ali e acabar me fazendo acreditar também. Ontem cheguei à conclusão também de que apesar de tudo que aparento tudo o que preciso e o que quero é estar perto dos que gostam de mim e me dão suporte, dos que querem estar comigo, dos que não me julgam e levam a sério minha doença; abolindo de vez do vocabulário termos como "você só é triste se quiser" e "não é nada vai passar logo". Não tenho a pretensão de ser salva por nenhum manic pixie boy, nem por ninguém. Eu só quero me sentir parte de algo, de qualquer coisa, de pessoas que viram a pior parte de mim e ainda me querem por perto. Eu quero que as pessoas parem de ter medo de mim e me enfrentem mais vezes, que lembrem da minha existência vez em quando e do quanto preciso do convívio com elas. E não, eu nunca esqueço nada.