domingo, 20 de março de 2011

Somehow you survive.

"É melhor tentar e falhar que ocupar-se em ver a vida passar. É melhor tentar ainda que em vão, que nada fazer. Eu prefiro caminhar na chuva a, em dias tristes, me esconder em casa. Prefiro ser feliz, embora louco, a viver em conformidade. Mesmo as noites totalmente sem estrelas podem anunciar a aurora de uma grande realização. O ódio paralisa a vida; o amor a desata.  O ódio escurece a vida; o amor a ilumina. O amor é a única força capaz de transformar um inimigo num amigo."
Martin Luther King Jr.



Para Cristina Miranda.

Quanto tempo, Dorinha. Tantos anos se passaram e você continua a mesma. E eu continuo a mesma mentirosa. Na verdade, só estou te escrevendo por que preciso dividir minha finalmente descoberta sobre minha vida inteira. Eu tenho passado por uns maus bocados, Dorinha. Bem ruins, realmente. Aí eu pensei em tudo que já passei, você sabe, aquela coisa de repassar a vida toda na mente não é só pra quem está morrendo não, e então eu finalmente me dei conta: eu sobrevivi. Por piores que fossem os caminhos pelos quais passei, eu simplesmente sobrevivi. Eu não sabia que eu podia fazer aquilo - você sabe, chegar até o final - e então, por não saber, eu fui lá e fiz. Eu ainda estou aqui, depois de tudo. Nós somos humanos; é isso que fazemos. Não importa o quanto estejamos despedaçados por dentro, querendo somente sentar no chão e chorar feito loucos até desidratar: só temos que resistir até que tudo acabe. E acredite, Dorinha, tudo passa. Nem precisa ser com o tempo. Certo dia, certo momento você olha em volta e diz: hey, eu estou viva. Você se dá conta de que está totalmente quebrado, em pequenos pedaços espalhados - perdida, perdida por dentro - e se pergunta: E-D-A-Í? É só isso que eu consigo fazer da minha vida: sentar e chorar? Até auto piedade tem limite. 

Dorinha, eu tenho aprendido tanto. A vida não pára só porque você tem um problema e muitas das coisas que dependem de você pra funcionar não podem parar também. Aquele trem único que cada um de nós temos, sabe? Bem, ele não pode descarrilar. Se você soltar a marcha, ele vai capotar e se perder por aí. E nós, seres humanos, somos os únicos com capacidade mental de reconhecer, depois de uma tempestade nebulosa, ponha nebulosa nisso, que ainda estamos vivos, que temos que continuar. E nos tornamos melhores depois disso. Ou simplesmente sentimos aquela ponta de alívio por tudo ter passado, deixando uma seqüela aqui e outra ali, quase imperceptível. É isso que nos faz extraordinários. Não importa o que apareça à nossa frente, nós lutamos, lutamos e escapamos. E depois aquilo tudo se torna em algo que nem vale a pena ser lembrado. A cada vez que passo por uma situação difícil Dorinha, eu sempre penso no dia seguinte. No qual eu estarei sã e salva, a cada vez mais forte. Nunca tive grande afeição pela raça humana, entretanto devo admitir que nós somos bravos guerreiros. A melhor coisa é que sempre há um novo dia para se recomeçar. Sempre podemos consertar, fazer do jeito certo, fazer a escolha certa. Dorinha, minha amiga de sempre e sempre, é a você que digo que assim como nada é pra sempre nessa vida, nenhuma dor também é. Coloque uma música alta e simplesmente fodam-se os problemas, pelo menos durante os minutos que a canção durar. Nós somos sobreviventes, e isso dá a todos nós algumas cicatrizes. Mas Dorinha, ainda há muita coisa por aí pronto para ser vivido muito intensamente, bem intensamente mesmo, daquele jeito que te deixa feliz simplesmente por ainda estar respirando. Eu estou caminhando, Dorinha. Eu tô fazendo o possível e o impossível com o que me restou, por que eu ainda não desisti da minha vida e todo mundo deveria fazer o mesmo.

Música do post: I Believe - Yolanda Adams

quarta-feira, 16 de março de 2011

You played yourself to death in me.

"Sempre que alguém diz algo engraçado e eu rio eu olho em volta pra ver se você achou graça também. Mesmo que não esteja por perto."
George O'malley, Grey's Anatomy, episódio 13, 4ª temporada


Não estou nem nunca ficarei acostumada com esses bombardeios internos. Pode parece maluquice, mas todos os dias quero afastar as sensações que seu corpo provoca em mim e de imediato percebo a tristeza que pode ser um dia te olhar, te tocar e não sentir nem um tremor sequer. Chego a pensar, muitas vezes, que não sou a melhor pessoa pra você. Você sabe, você merece mais do que eu posso oferecer - que é quase nada. Peço todos os dias que desista de mim, no entanto sinto cada parte de mim se esvair quando penso na sua partida. E então você persiste. Como um bravo cavaleiro que não desiste de uma batalha árdua. Que vence um exército e chega, com alguns arranhões e roupa rasgada, de volta ao castelo onde sua rainha o aguarda com uma mesa farta e trajes limpos. Ela sempre o esperou, e esperaria durante todos os dias de sua vida se fosse preciso. Não parece pouco tempo agora, mas espero e peço todos os dias para que seja. Que todos os caminhos que levam à Roma simplesmente sempre me levem até você. E que ainda que eu permaneça com todos os meus clamores de desistência, você continue sendo forte e ainda queira estar comigo, mesmo que não seja a coisa certa a se fazer. Prefiro dez, quinhentas, setecentas mil vezes ser o maior erro da sua vida e apenas se transformar numa lembrança do que ser um fantasma de alguém que passou por aí e nem tem o nome lembrado. Levanto todos os dias de manhã, tomo meu café, leio meu jornal, assisto TV e espero silenciosamente você me ligar e dizer que precisa conversar seriamente comigo. Me resigno ao fato de que tudo em minha vida, tudo que poderia ser muito lindo, acaba em cinzas dentro de uma caixa de pertences. No entanto, você só me liga pra perguntar quando vamos finalmente dominar o mundo e quando eu serei sua rainha. Não consigo odiar o seu jeito de fazer piada com tudo, quando o que mais quero é te bater, mesmo você sendo maior do que eu, e perguntar o que diabos você vê em mim e não nas outras milhares e bilhares de garotas por aí que poderiam te fazer incrivelmente feliz. Eu falo de amor pra você como quem caminha em areia movediça, aos trôpegos, mancando um pouco enquanto você me sorri feito um idiota. Você é um idiota. Um idiota por me trazer todos os dias uma notícia engraçada da sua família, por me deixar parte um pouco e por me fazer sentir uma insignificante formiga perto de tudo de bom que você consegue ser e viver. Em contraponto, você me faz querer ser melhor todos os dias. Embora que eu apenas deseje alcançar a perfeição incessantemente, é inefável que seu sorriso é minha maior recompensa e meu maior produtor de textos. Esse meu jeito de te afastar é uma súplica para que você nunca saia de perto de mim e nós, agora em meio aos transeuntes dessa nação, somos a sala de estar de um futuro que precisa dar certo, tanto que eu não ousaria desejar caso fosse um equívoco. Não estou fazendo nada de errado, só estou tentando ser feliz. Uma felicidade que te traga de volta pra mim todos os dias, o tempo todo.

domingo, 13 de março de 2011

Substituta.

Claire: Você e eu temos um talento especial, e eu percebi isso imediatamente.
Drew: Diga-me.
Claire: Nós somos pessoas substitutas.
Drew: Pessoas substitutas?
Claire: Eu tenho sido uma pessoa substituta minha vida toda. 
Tudo Acontece Em Elizabethtown


Não há uma placa que avise para quê estou aqui, no entanto, as pessoas sabem. Estou e sempre estive aqui para preencher lacunas. A que é chamada para suprir carências, medos e quando as coisas voltam ao normal, parte sem deixar rastro algum. Apenas e exatamente isto. Não posso precisar de ninguém, pois cada um, cada um deles está com um problema de Estado e então vou eu com todos os sentimentos amarrados com ligas metálicas numa caixinha enquanto abraço meus amigos e digo "tudo vai ficar bem" "logo você arranja alguém melhor" "você vai conseguir".

Não se torna uma pessoa substituta; se nasce uma pessoa substituta. A que era chamada de amiga por todos, mas sempre era a última a ser escolhida, a última opção. Por isso nunca esperei muito dos outros. Basicamente, não dou mais importância ao fato de que  sempre serei substituída. São ciclos, entende? Entro na vida das pessoas e não permaneço muito tempo, elas entram na minha e sempre deixam algum pedaço delas. E assim vou juntando, fazendo um mural interno com cada pessoa que já consegui amar e deixar partir nessa vida. Sabe aquela sua professora de matemática que passou alguns dias substituindo seu professor fixo? Ela mal é lembrada. Substitutas nunca são lembradas, não são para serem lembradas. Você pode até ter a sensação que alguém passou por você em alguns momentos, mas logo se voltará para o que é real. Substitutas não tem porto fixo. Nunca permanecem muito tempo na vida de alguém. Sempre o Plano B, a segunda alternativa, o ESTEPE. Só quem é substituta sabe o quão é solitária e livre é esta vida. Apenas sei ou torço para que tudo isso tenha realmente algum propósito além de evitar sofrimento desnecessário. Posso não ser perfeita o tempo todo, mas sempre tenho sido verdadeira com o que sou. As pessoas sempre se vão. E não há nenhuma surpresa nisso.

Texto dedicado à Fernando, meu lindo e grande amigo que usa as palavras tão incrivelmente bem.

Música do post: Caring Is Creepy -The Shins

sábado, 12 de março de 2011

La pieza de tí sigue siendo.

"Tudo é você. Minha personalidade é você. Quando eu berro Strokes no carro ou quando eu faço uma amiga feliz com alguma ironia barata. Tudo é você."
Tati Bernardi


Pensei em te mandar uma carta. Não muito melosa, sem todos aqueles clichês baratos e o que pode se considerar convencional. Aí então lembrei que você me disse uma vez minhas palavras não te tocavam mais. Doeu mais do que cinquenta socos no estômago. Do que cinquenta cólicas ao mesmo tempo. Me recordo e tento me manter firme da convicção de que há muita coisa mais interessante pra se fazer nessa vida do que lembrar de amores passados, que nem valeram a pena a ponto de me fazer chamar um ombro amigo. Eu saio por aí com uns amigos tentando não te ver em cada cara mais alto e com um andar meio desengonçado. Procurando um corpo que possa substituir o seu, que desvencilhou-se de dentro do meu carro a última vez que brigamos tão feio que pensei que nem voltaria pra buscar suas coisas. A gente era feliz junto, disso tenho certeza. E poderíamos ter dado certo. Mas quanto tempo eu teria que esperar por isso? 5, 10 anos? Você não iria mudar nem eu faria o mesmo. O que fiz foi mudar de cidade, de casa, de cor de cabelo, de amigos. Expurguei tudo o que era seu em mim, até que chegou a um ponto que se eu tirasse mais, acabaria que nem essas pessoas mal amadas por aí que vivem para praguejar a vida alheia. Antes, durante e depois de tudo eu sempre achei que minha insegurança, minha gritaria e minhas estranhezas eram demais pra que você, alguém, todos eles pudessem suportar. Nunca tive a utopia de que o amor superava tudo, todas essas ervas daninhas. Não supera não. As coisas vão se acumulando e formando uma bola de neve cada vez maior e quando tu se dá conta, já foi engolido pela tempestade. Eu era a menina que fazia loucuras por você, mas tive de crescer e virar a mulher que você já não amava. Ainda te vejo em uma porção de pessoas, como se cada uma delas trouxesse uma parte de você que ficou pra trás. Juntando todas, como quem monta um quebra cabeça e espera um dia terminar e ver sua paisagem completa. E eu, que pensei que nunca conseguiria deixar você, hoje tento manter sua imagem cada vez mais longe de mim, como se esperasse que você não fosse quem eu quisesse ver na rua e continuo andando numa corda bamba em plena rodovia lotada. Pedindo desculpas por não ser mais com quem você se importa, mesmo você sendo o menino que eu sempre amei e que quis me fazer feliz mais do que qualquer outra pessoa no mundo. Abracei meu destino, se ele significa não ter você.


"Só sei que você está em um lugar dentro de meu coração, e não importa onde eu vá, nunca parte."
Lucas Silveira
Música do post: How Are You Now? - Beeshop 

segunda-feira, 7 de março de 2011

You know that can't be bad.

Para Patrícia, minha grande amiga e uma das pessoas mais incríveis que conheci.
E Victor... meu texto é o melhor.

Os caminhos muitas vezes são tortuosos. Você pode achar que está sozinha durante essa caminhada, mas não está. Independente das circunstâncias nas quais tenhamos nos encontrado, eu sempre estarei aqui. Muitos desacreditam, mas o amor fraternal é o mais bonito de todas as formas de amor. Sinto que tenho muita sorte de pode contar com algumas pessoas a qualquer momento e para qualquer coisa, do tipo ficar acordado até às três da manhã falando da diferença de Star Trek e Star Wars. Nos últimos meses, a coisa foi se tornando uma das maiores coisas da minha vida. E é tão simples e agradável que tenho plena certeza de que isto é só o começo. Eu e você somos partes de três forças, coisas indestrutíveis que nem o tempo é capaz de quebrar. Mais forte que diamante, que aço inoxidável. Você sabe o quão é importante? Sem você, somos apenas duas peças quebradas, um tripé faltando uma perna. Isso, somos um tripé. Se um de nós cair, os outros caem juntos. Hoje em dia quase tudo tá tão banalizado e eu quero e pretendo manter minhas amizades, e você é uma das principais. Você é quem mantém tudos nos eixos, que consegue fazer meu dia mais feliz mesmo que ele não esteja tão bom assim. Você é luz. Luz que clareia os lugares mais sombrios, que se move como quem com graça conquista a todos. Espero e desejo ter você em minha vida ainda por muitos e muitos anos e que essa flor que hoje é nossa amizade, se torne um campo inteiro florido. Sabe que estou aqui para o que precisar, mesmo que seja bater em qualquer pessoa que mexer com você. Sou fã do seu jeito de encarar as coisas, mesmo quando elas não estão lá muito bem. Do modo de como você me aceita exatamente do jeito que sou e como faz uma grande falta na minha vida quando não está por perto. Durante anos eu vim formando uma família com todos os amigos que conquistei, e você com certeza é um dos pilares dela. A amizade, em qualquer e em todas as formas, é aquele ombro que você tanto precisa quando está triste, quando quer dividir uma notícia boa ou quando quer simplesmente ser um pouco idiota. Eu sei que você, mesmo aí do outro lado do país, consegue ser mais verdadeira do que qualquer pessoa que convive comigo. Te trago, te carrego e te tenho muito carinho no meu coração que sempre vai ter um lugar especial pra você. Pra você, minha futura madrinha de casamento, minha companheira de casa, minha bailarina incrível. Pode não saber, mas cada vez que você aparece por aqui e em qualquer outro lugar, meu coração fica feliz por eu ter a honra de ser amiga de alguém como você. Linda, tanto por dentro quanto por fora. Incrível, mesmo que por muitas vezes duvide disso. A pessoa que mais merece ser feliz nessa vida. Porque sua felicidade é a minha felicidade também. Te aplaudo de pé e seguro sua mão se estiver pensando em desistir. Estarei aqui para quando precisar de mim, e sei que estará aí para quando eu precisar. Eu amo você eternamente e incondicionalmente. You'll always be my swan queen.

Música do post: Hey Jude - The Beatles

quinta-feira, 3 de março de 2011

Lola, Lolinha.


Inha. Lolinha. Não há nada no mundo que eu deteste mais do que ser chamada de qualquer coisa com inha. Certo dia abri o caderno dele, ainda no colegial e li atrás de uma foto nossa horrível colada na contra capa - eu de calça jeans, camiseta surrada do The Doors e um óculos de maloqueiro que eu tinha arrancado de seu rosto e ele com uma calça tão apertada que marcava suas pernas, uma camisa branca e um boné de rapper -: Lolinha, a  grande maluca e o grande amor da minha vida. P.S.: Ainda arrasto essa doida para o altar. Fingi que não tinha visto e fechei o caderno antes que ele voltasse.

Não o via há quase três anos. Quando o deixei foi por que sabia que era o melhor para nós, para que cada um conseguir ser o melhor que pudéssemos. Por mais que fôssemos completamente únicos juntos, nossas contas nunca acabavam num resultado exato. Eu não conseguia fazê-lo feliz e a idéia que não fazia a mínima diferença em sua vida era mais do que eu podia suportar. Ainda dói lembrar que eu disse "não dá mais" para ele naquela lanchonete barata do centro e mal conseguia olhar em seus olhos castanhos que tanto me hipnotizavam. Rasgava cada pedaço do guardanapo sobre a mesa enquanto tentava não ouvir sua voz dizendo para que eu lutasse por tudo que eles eram, que eu não desistisse depois de tudo que passaram para ficar juntos. Mal sabia ele, mas eu estava lutando por sua felicidade. Tudo em minha vida sempre foi um desastre e durante algum tempo ele foi a onda de paz, tanta paz, que eu recebera como recompensa. No entanto, como tudo em minha existência, não durou muito. Quando via sua felicidade ao estar com os amigos, com os parentes, tinha cada vez mais certeza de que por mais que eu o amasse, eu nunca poderia fazê-lo sentir do mesmo jeito. 

Ontem, depois de três anos, eu o vi em um mercado. Empurrava preguiçosamente um carrinho, com os braços apoiados sobre a alça. Logo depois, uma moça loira caminhou até ele com uma lata de óleo em mãos e o beijou. Eu vi, mesmo que sem ter o direito e depois de tanto tempo, meu coração ainda se partir em pedaços ali mesmo em frente a uma bancada de frutas, muito mais por ver o modo como ele sorria enquanto a beijava. Do mesmo jeito que fazia comigo. Não é como se eu estivesse cobrando alguma coisa dele. Se eu tivesse ficado e lutado, teria sido diferente ou apenas estaríamos mais machucados? Eu estava tão cansada. Ele nunca via, mas eu sempre enxergava além do que nossos planos poderiam se tornar. Casa de primeiro andar, cerca branca, uma penca de filhos, um cachorro e churrasco no quintal, nos fins de semana. Ele merecia mais do que eu não oferecia. Eu tinha o mundo inteiro para pôr sob seus pés, mas não fui capaz de dar a única coisa que ele me pediu: eu, completamente inteira, pra sempre. 

A lembrança dele só antecipa o fato de que tenho que deixá-lo ficar no que poderia ter sido e não foi, mesmo que cada parte dele ainda seja uma parte minha. Quando o vi naquele mercado, de alguma forma fiquei contente por ele ter conseguido alguém que pudesse amá-lo do jeito que ele merecia, do jeito que meus defeitos de fabricação não permitiram. Tenho pra mim que amar vai além das nossas necessidades. Nos transforma numa máquina de ruminar lembranças, fotos, cartas de uma história que nos dá a pior e a melhor época das nossas vidas. Além de muitos textos entrelinhados, sem tradução. Um pouco de desespero, outro de incapacidade. E vamos lá. No final, eu tive que deixá-lo porque ele já estava me deixando há muito tempo. Nos pequenos detalhes, nas grandes faltas. Na distância de anos-luz que nos mantínhamos mesmo estando lado a lado. Um amor que me chamava de Lola, Lolinha. Que queria casar comigo, ter uma vida comigo. Que ainda manda cartões no meu aniversário. Ele, quem eu tive que matar por dentro para conseguir salvar. O grande louco, o grande amor da minha vida.