sábado, 25 de janeiro de 2014

The Depression Diaries, nº18 - Après moi, le déluge

Esse mês — não sei bem o dia — faz 2 anos que me encontro em depressão e consigo sim, de algum modo, enxergar uma certa melhora de 2012 pra cá. Na verdade, acho que aprendi a ter mais auto controle; posso desmoronar e ainda assim minha ansiedade vai me manter em pé pra ir trabalhar e estudar. Às vezes eu acho que minha mente vai explodir de tanta informação, de tanta história que só existe na minha cabeça, de tudo que existe e do que não existe também. E fico triste de perceber como tão poucas pessoas conseguem realmente me conhecer. Fico triste também — às vezes — por ser quem sou e não alguém menos complicado, menos eu. Tento dizer a mim mesma que eu não sou as falhas que cometo, que está tudo bem ser assim e que sou merecedora de mais paciência. Respiro fundo e tento não partir meu próprio coração mais uma vez.

Eu queria ter amigos mais próximos. Que em algum momento da vida nenhum pensamento de que minhas amizades realmente não dão a mínima pra mim passasse pela minha cabeça. Eu estou ficando velha e confusa e minhas palavras não saem direito e eu pareço que não ligo sobre ser entendida mas eu quero sim e anseio por aquela conexão que nos faz sentir menos sozinha no mundo, que algum dia tive ou devo ter tido e perdi. Nossa conexões são fios que são trocados quando desgastados, quando roídos pelo tempo ou quando simplesmente perdidos. Continuo acordando todos os dias sozinhas sem dedicar meu amor pra alguém especial e isso me deixa contente de um jeito que me faz sorrir por não ter que mentir pra ninguém. 

Talvez as coisas que não consigo dizer aos outros tolham minha voz cada vez mais entupida de sentimentos não cuspidos. Continuo sendo quieta e observadora e respiro fundo, ansiando sempre o momento que posso chegar em casa e sentar em frente ao computador e esquecer que eu sou eu por algumas horas. Torço pela chegada do dia em que eu não me sinta patética ao contar aos outros sobre mim; quando as palavras saem da minha boca como se fossem linhas mal esboçadas por um escritor de quinta categoria. Eu não acredito em amor à primeira vista mas certamente creio em morte à primeira tristeza, que nos torna quem somos irreversivelmente. Todos os danos são intencionais. 

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

The Depression Diaries, nº17 - 2013: podia ser pior

A cada ano que passa eu sinto que estou perdendo a capacidade de perceber a passagem do tempo de um jeito normal. É como se durante a maior parte do tempo eu oscilasse entre a vida numa cápsula no espaço e uma volta à Terra, à realidade. Esse fluxo se acalma quando chega o fim do ano e me pego pensando mais uma vez "mas já é dezembro?" e um novo ciclo começa. Enquanto isso tenho que treinar todas as vezes como me apresentar durante a socialização e começo sempre com "Meu nome é Jaciara, não, me chame de Jaci por favor eu detesto meu nome completo, e eu tenho vinte anos...", mas não passa disso. Porque todas as coisas que quero contar sobre mim ou são odiosas ou assustadoras, ou simplesmente tediosas. Todo ano passa e com ele passa a esperança que eu tinha que fazer as pazes comigo mesma, de me aceitar como sou através da compreensão. Sinto como se eu tivesse passado por esse ano como uma folha, navegando pelo vento até algum lugar ainda não definido.

Eu tive alguns momentos horríveis durante esse ano, obviamente. A maioria deles provavelmente por causa da depressão, e dos meus ataques de pânico/ansiedade, e certamente também por causa da minha escrotice. Acima de tudo acho que foi um ano que veio pra dar na minha cara e me mandar parar de ter expectativa com as pessoas e as coisas, por que no fim só quem sai decepcionada sou eu mesma e mais ninguém.

É bem provável que eu não aprenda nada com mais esse ano por que a burrice está no meu sangue.

Eu me sinto emocionalmente cansada de tanta coisa que as pessoas me fizeram viver esse ano. E continua surpreendente a capacidade de todos de não levarem a sério as coisas que (poucas vezes) digo sentir. Não há quem me abrace e veja minha alma toda remendada com band-aids, mas sim há o desvio no olhar, o fingimento, a mudança de assunto. Talvez eles estejam com medo de me tocar e me desmontar, sobrando só pedaços que eles não saberiam colocar no lugar de novo. Esse ano eu perdi muita gente na minha vida, ganhei outras, segui em frente. Algumas me decepcionaram e outras viveram comigo momentos incrivelmente felizes que vou guardar na memória até depois de ter morrido e ter virado poeira estelar. Venho aprendido a aceitar os outros e suas falhas e as minhas falhas que ainda continuam; a ser humana e bater minha cabeça na parede quando preciso, contudo sobreviver. 2012 foi um ano tão horrível que não tenho nem coragem de reclamar tanto assim de 2013, que me iniciou na vida adulta com várias tijoladas na cara. Esses dias meus pais comentaram que estavam satisfeitos por eu não estar mais tomando e eu quis dizer "e isso lá quer dizer que estou curada?", mas não disse nada. Também não sei porque. Ter largado os remédios e o psiquiatra foi o chute no pau da barraca que dei, como quando não se sabe nadar e te jogam na piscina: ou você nada — por instinto — ou você morre. Eu estou tentando nadar, e há dias em que quero muito desistir e apenas deixar meu corpo afundar, porém continuo. Por enquanto eu continuo. Continuo tentando não esperar nada, tentando sempre me lembrar das pessoas que amo e que amei, mesmo sem nunca ter dito muito. Às vezes eu fecho meus olhos e vejo tudo o que me aconteceu e o que pode acontecer e só quero gritar, porque eu não quero imaginar nada, não quero criar nada, não sobre mim. Quero só vibrar na mesma frequência do mundo e ouvir minha canção tocar sozinha, em paz. Mas o que foi visto não pode ser esquecido, assim como só se é lembrado se fora enxergado. Pela primeira vez em muitos anos eu estou no caminho certo, temo.