segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O Nash que nunca fui

Ainda não sei muito bem como definir esse ano em uma palavra. Eu nem mesmo sei como cheguei até aqui viva.  Não de modo figurativo, literalmente. Apesar de eu reclamar de muita coisa errada que há em minha vida, eu devo a muito a certas pessoas, inclusive a minha estada aqui. Eu não sei por quê eu sou do jeito que eu sou. Eu escrevi tanto sobre amor no ano anterior e tudo o que sobrou para este foram todas as coisas sombrias em mim que se esconderam debaixo de tudo o que eu pensei que teria a obrigação de me sustentar. É tão horrível estar na minha cabeça a maior parte do tempo. Às vezes tenho medo de ser assim para sempre, tenho medo de perder minha sanidade, tenho medo de dar qualquer passo que me pareça em falso. Eu tenho tantos amigos que não acreditam mais em Deus, e no entanto eu ainda consigo me agarrar a Ele quando me vejo na mais profunda escuridão. Se Deus existe mesmo, por que ele acha que eu seria capaz de suportar tanta coisa que venho suportando? São tantas perguntas sem resposta, aparentemente destinadas a  me acompanhar até o túmulo. 

Questiono-me quando foi que comecei a ter medo da minha própria mente, que já foi o lugar mais seguro do mundo pra mim. Quando em The Sun Also Rises alguém pergunta a Mike Campbell como ele ficou falido, ele apenas responde "gradualmente, e então de repente". De repente eu me vi assim. De repente eu não sabia mais o que fazer, para onde ir. De repente eu comecei a ter medo do que eu poderia fazer comigo mesma. Como confiar nas pessoas se elas estão sempre nesse ritmo frenético de chegada e partida que é mais curto dos que os casamentos nos dias de hoje? E novamente, o medo da insanidade me invade; e mais do que tudo o medo de ser um fardo ainda maior para aqueles forçados a cuidar de mim. Tenho medo de não conseguir mais escrever e com isso me tornar uma kamikaze descontrolada, uma bomba relógio sem hora certa de explodir. Esse ano acabou para mim mesmo antes de chegar em sua metade, e desisto sem remorso de que dele saia alguma coisa boa. Minha fraqueza e covardia escolheram o caminho mais fácil para mim; assim me jogaram dentro de um poço que não tem fim como os campos verdes que vão além do horizonte e além do que nossa vista pode alcançar, que é onde a magia acontece. Gostaria que cada um de vocês pudesse ver o mundo através dos meus olhos — com todas as suas cores e nuances e misturas e loucuras — e me desligar de mim como se eu fosse um robô a quem o cientista desliga pressionando um botão nas costas. Come with me... And you'll be in a world of pure imagination. Parte de mim ainda espera ser resgatada para o mundo ao qual pertenço, como se tivesse sido roubada de um universo paralelo e tudo aqui — no fundo, eu sei — me fosse estranho. Todavia, eu sempre soube que havia nascido quebrada, daquele jeito que não há cola forte no mundo o suficiente para consertar. Parece-me inútil, todos vão rir.

"To be nobody but yourself — in a world which is doing it's best, night and day, to make you everybody else — means to fight the hardest battle which any human being can fight: and never stop fighting." e.e. cummings