quarta-feira, 30 de novembro de 2011

FUI



Soa fácil para quem assiste de fora dizer que fui covarde. E não lhes nego o direito de me rotular como tal. Mas eu estava lá. Ele e meus dois eus; o que estava dentro de meu corpo e o que estava ao lado da porta como um mero espectador. Em meus diálogos com o espelho tal situação sempre pareceu mais fácil e tornava-me bem menos vilã do que pareci ser no ato real. E no fim, eu fui embora. Fui por que assim como você não era a pessoa certa para mim, eu também não era a pessoa certa para você. Não naquele momento. Tinha a teoria de que nos encontramos do jeito errado e na hora errada, contradizendo toda uma linha astrológica que premeditava nosso encontro. Nós quebramos o destino e no fim, acabamos nos quebrando também. Fui por que acabaria me tornando uma pessoa medíocre ao seu lado e acabaria te culpando por isso. O que vivemos foi tão inestimável que seria um crime permitir que tal coisa acontecesse com isto. No fundo você sempre soube que assim como Arthur Dent, eu sempre fui uma mochileira das galáxias que não fixa território em canto algum. Engraçado como você planeja toda uma rota de existência - que não inclui ninguém além de você – e a vida vem e passa com um furacão em cima dela e de tudo. Você foi isso: meu furacão. Meu debulhador de palavras, meu mercenário de sorrisos, meu oceano de lágrimas, meu invólucro imperfeito. Você foi o meu que agora devolvo, e que espero que seja bem cuidado por outro alguém. Eu fui, mas tenho plena certeza de que ainda há mais para nós por aí do que podemos imaginar. Que um dia esse nosso encontro estelar acontecerá da maneira certa, mesmo que não seja nesta vida. Eu te disse que partiria, porém você nunca acreditou. Nunca acreditou em nada que vinha de mim. Deixei meus olhos ao lado da tua cama para que sempre me veja em seus sonhos, e deixei meus braços em teu antigo travesseiro para que a solidão não tenha que ser sua companhia. Desde que apertei tua mão sabia que apesar de meu corpo não estar mais visível aos teus olhos, você sempre seria possuidor de uma parte de mim que não morrerá jamais. Somos o assunto inacabado um do outro, maldições que se arrastam por séculos e nos unem cada vez mais a cada vida que nos cruzamos. Fui, e iria novamente se pudesse voltar no tempo até o exato momento em que disse até logo. Fui, e algum dia voltarei. Voltarei enfrentando tuas mudanças e tentando lidar com as minhas que eu achava serem tão superiores. Voltarei trazendo de volta nossa genialidade, nossas músicas, nossas diferenças e meu fantasma. Aqui irei eu novamente vinda de tão longe para bagunçar tua vida em busca de algo que nem sei mais se existirá. Fui por que a vida clamava por minha mente e voltarei por que não posso viver por muito tempo sem metade de mim. Embora que eu nunca tenha te pedido para me esperar, você esperará, eu sei. Fui embora para salvar o mundo, já que eu não podia salvar a mim mesma. Fui para tentar ser o eu que você sempre pensou que eu fosse. Antes de partir, não tem idéia de quantas vezes tentei me convencer de que aquele era o momento certo e que você era a pessoa certa para mim, como foi tantas vezes nas minhas fantasias perfeitas de eternidade. Para sempre me parece ser um longo tempo, embora que ele seja somente mais uma ponte para nós que já atravessamos dezenas delas ao redor do infinito. Fui, parti, desertei, o que vocês quiserem chamar. Mas sinto que esta foi a primeira vez que fui honesta com outra pessoa em minha inteira vida. Tanto a hora quanto o momento certo aparecem e se vão numa velocidade enorme, portanto não quero deixar que isto se vá desta maneira. Não deixo nada para trás a não ser as lembranças dentro de você que ninguém nunca poderá apagar. A gente sempre se refaz, se recompõe, recomeça. E talvez você me esqueça, mesmo sem querer, mesmo sem perceber. E de qualquer jeito, sempre vou estar lá para assistir sua felicidade com um direito que nem sei se ainda terei. Aquele que sobreviveu e Aquela que esperou serão codinomes nossos conhecidos por todas as estrelas, a fiel fechadura profética que sempre nos une cedo ou tarde, agora ou daqui a dois mil anos, aqui ou em outra vida. Nosso encontro é a chave disso, marcando nossas idas e voltas apenas como períodos mutáveis. Talvez meu relógio esteja quebrado a certo tempo, mas quem sabe seja hoje minha nova chance de te ver no restaurante no fim do universo. É sempre um prazer conhecê-lo.

3 comentários:

  1. Cá estou eu procurando palavras pra comentar... Achei o texto impressionante e não seria nenhuma mentira afirmar que vi perdido em uma linha ou outra, relembrando momentos em que também fui e não voltei.
    Muito bom mesmo.
    Saudades de passar por aqui =)

    beijos.

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  2. E suas citações a série "Mochileiro das Galáxias", mesmo que pequenas, me deixaram ainda mais fascinada. De verdade.
    Ir e vir. Fui...

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