domingo, 4 de setembro de 2011

Boa noite, Joaquim.


Um dos meus maiores e melhores hobbys foi sempre esperar você fechar os olhos primeiro e te olhar dormir. Não que estivéssemos a muito tempo juntos - sete ou oito meses, apenas - no entanto eu sabia que não me cansaria daquilo nunca. Ia e dormia com você todas as noites, mas sempre ia embora ao amanhecer. Algo não me permitia ficar - você dizia que eu era do mundo, por isso partia, sempre dizendo ao pé do seu ouvido que muitas vezes não captava minha voz: boa noite, Joaquim. Não importava se ele ouvia ou não, o simples fato de eu dizer isto deixava uma parte minha com ele. Era provável que minha mania de sempre estar o deixando fosse uma súplica silenciosa para que ele dissesse algo que me fizesse ficar. Mas ele nunca disse nada. As palavras que ele me dizia muitas vezes soavam como mensagens programadas que não possuem sentimento algum, ou eu apenas era desacreditada demais. Sentir o cheiro dele, poder abraçá-lo e acima de tudo, poder ver seus olhos se fecharem todas as noites enquanto eu era a última coisa que ele via bastava para meu eu desajustado e destemperado. Podíamos, desde sempre, conversar sobre tudo o que existe no mundo e até mesmo denominar coisas que ainda não existem, mas você sempre soube e eu sempre soube que nunca seríamos um nós. Nada impedia minhas palavras de te tocarem mais do que meus boas-noites cheirando seu cabelo, nada impedia que um dia você decidisse fechar a porta e não me deixar mais entrar na sua casa tanto quanto nada me impedia de não voltar e sumir sem deixar rastros. Você sabe que sou boa nisso. Você sabe que eu sobreviveria, como já sobrevivi a coisas muito piores. Você sabe quem eu sou mais do que qualquer outra pessoa no mundo. Nossas linhas paralelas se cruzaram num momento que talvez não tenha sido o propício, porém creio que tenha sido o certo. É como se todo o infinito pelo qual eu esperava minha existência inteira tivesse se reduzido a um só encontro marcado. Você, que agora aí de tão longe não me vê nem ouve mais meus boas-noites, provavelmente continua dando um sorriso antes de entrar em sono profundo tal como fazia quando eu estava ao seu lado. Talvez essa seja a prova de que o que aconteceu entre nós não foi em vão, e pelo menos para mim não foi. Minha esfinge continua esperando sua resposta certa e meus braços ainda te procuram pela madrugada. Não posso mais te tocar e com isso não posso mais te machucar. Nossa parceria eterna é assombrar um ao outro até que nossas linhas paralelas se cruzem no infinito novamente.

5 comentários:

  1. QUE LINDO! Incrível que esse texto se encaixa pra mim como o que ele nunca me disse. E essa frase "Era provável que minha mania de sempre estar o deixando fosse uma súplica silenciosa para que ele dissesse algo que me fizesse ficar." me fez pensar se não é isso o que ele espera. Obrigada por me proporcionar uma versão do que ele nunca me disse, das palavras que ele nunca me deu. Beijos

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  2. Nossa, achei esse post, simplesmente perfeito! amei. beijos doces

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  3. Deu vontade de dormir abraçada agora, hm

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  4. Nem tenho o que dizer pra esse post. Tão lindo, tão incrível. É tão bom poder se encontrar nessas linhas. E é como você disse: "Era provável que minha mania de sempre estar o deixando fosse uma súplica silenciosa para que ele dissesse algo que me fizesse ficar." Lindo *

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  5. Você sabe mesmo como envolver as pessoas com suas palavras. Isso é um dom.
    Amei, de verdade!

    Beijos!

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