terça-feira, 7 de abril de 2015

The Depression Diaries, nº 38 - Palavras

A humanidade começou a se definir como raça inteligente e capaz de se expandir pela Terra através da escrita, que obviamente permitiu o início da comunicação inteligível entre as pessoas há cerca de 9 mil anos atrás. E puta merda, eu sempre amei as palavras. Eu as vomitei nesse computador nessa internet nesse blog tantas e tantas vezes que parece traição dizer o que eu estou prestes a dizer. Eu não acredito mais nas palavras. Nas palavras escritas, nas palavras ditas, nas palavras pensadas e não faladas, nas palavras inventadas sem significado nenhum. Simplesmente não consigo mais. Eu as escrevo, eu as ouço, eu as penso, eu as invento e elas me atravessam como se eu fosse um fantasma sendo ignorado por um humano vivo na rua. Palavras não me tocam mais. Não me comovem, não arrancam meu coração ainda batendo de dentro do meu peito como se fosse nada, não conseguem mover nem um músculo sequer do meu corpo. Eu não consigo mais acreditar em nada, nem ninguém. Você me ama? Que pena que eu não acredito em você. Você me odeia, na verdade? Eu posso compreender. Importa pra mim? Não, mas seguimos em frente. Claro que não direi que as palavras nunca me serviram de nada. Durante certo tempo elas eram tudo a que eu podia recorrer. Elas eram boas, compreensíveis e então, sem um dia específico, se tornaram vazias, ocas. Como se volta de algo assim? Boas palavras sempre parecem falsas quando são dirigidas a mim, e a ninguém mais. Todo mundo as merece, menos eu. A voz na minha cabeça — minha consciência — sabe que eu sei que ela mente pra mim todos os dias, mas continuamos nossa relação de síndrome de Estocolmo. Isso não significa nada perto de chorar durante horas por que tudo que você consegue ser é um peso e estorvo e problema para os outros, chorar e chorar por que porra, todos esses remédios que eles querem que você tome são caros pra caralho e você sabe que mesmo não podendo seus pais compram. Como voltar a sentir que você merece alguma coisa boa na vida? Os limites do meu ser urgem essa resposta, mas eu não sei o que dizer. E não saber me mata todo dia, assim como ao mesmo tempo saber de mais e perceber demais rasgam minha pele por dentro como se alguém estivesse a cutucando com um palito. É sempre mais fácil voltar às dores que te parecem tão familiares e acolhedoras do que se arriscar a sentir alguma alegria. Há tanta coisa que só imaginei e nunca vivi que me parece mais viável abandonar minhas palavras escritas e faladas e me resignar ao que eu posso imaginar, às pessoas que eu posso usar na minha mente e depois fingir que não significam nada pra mim. As palavras não são nada perto da minha mãe sentada do meu lado na cama enquanto eu ponho pra fora toda a água que existe dentro do meu corpo, por que puta que pariu, eu não consigo mais sair de casa. Não há nenhuma coisa bonita habitando dentro de mim, não mais. Tudo que me resta são os poços e pilastras e escombros de um mundo que quase atingiu seu apogeu, por que mesmo quando eu não sabia como, eu amei quem eu podia. 

“When is a monster not a monster? Oh, when you love it.” 
  Caitlyn Siehl

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