quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Ter um pau não te obriga a ser um cretino.

Sabe quando você vai dormir e liga a TV do quarto só pra te fazer uma companhia breve antes de cair no sono e está passando um daqueles filmes da madrugada e quando você vê, já tá completamente envolvido pela história do filme obrigando-se a assistir até o final? Foi mais ou menos assim que me o jornalismo político surgiu para mim. Talvez seja a área da profissão que mais me interesse atualmente juntamente com jornalismo literário, no entanto o interesse na política fica um passo a frente quando descobri que ele mexe com ideais que nem eu mesma sabia que tinha.

Eu nunca me considerei feminista. Nunca usei tal termo pra me definir ou definir minhas idéias. As pessoas, mesmo atualmente, têm um conceito muito errôneo quando se fala disso. Basicamente, acham que ser feminista é odiar os homens e morrer virgens e sozinhas e lutando pelos direitos das mulheres. Muitos ainda pensam assim, o que me enche de pena. Não precisa ser feminista para querer respeito, basta ser mulher. Mas voltemos ao que me fez começar esse texto.

Lia algumas coisas relacionadas à campanha política americana — Barack Obama e Mitt Romney concorrem pela presidência — quando vi uma notícia sobre o Paul Ryan, vice do Romney, em que ele dizia que estupro é só mais um "método de concepção" e que nem mesmo nessa situação o aborto deve ser permitido.



É pensamentos como esse que nos mantém numa era paleozoica em que as pessoas têm a audácia de apontar o dedo para uma menina ou uma mulher que sofreu esse tipo de violência e dizer que foi ela que pediu por isso, que foi ela que se vestiu de tal jeito que fez com que quisessem estuprá-la e agora que ela engravidou disto, que arque com seus atos. É por causa disso que muitas mulheres escolhem permanecer caladas após um crime horrível como este. Kurt Cobain disse certa vez "Estupro é um dos crimes mais terríveis da Terra. E isso acontece a cada poucos minutos, o problema com os grupos que lidam com o estupro é que eles tentam educar as mulheres sobre como se defender. O que realmente precisa ser feito é ensinar os homens não estuprar. Vá à fonte e começe por aí." Exatamente. Porque quando uma garota diz "não" pra um cara, mas ela está bêbada pra caramba e mal conseguindo andar, ele acha que é certo ir lá e forçá-la a um sexo que ela não quer. Sério, você homem que acha que isso é certo, releia o que acabei de escrever e veja se isso faz algum sentido para você. Não? Então de onde caralhos um homem tira a idéia de que ele tem o DIREITO de estuprar uma mulher, independente da situação? "Ah, ela estava quase pelada..." NÃO. "Ah, ela estava na minha a noite toda, eu sabia que ela queria..." NÃO. " Não, não e não. Sabe o que um não significa? Significa que você é homem o suficiente e honra o que tem no meio das pernas e vai embora dar em cima de outra garota que te queira, afinal mulher é o que não falta nesse planeta. Estuprar alguém porque você acha que ela queria mesmo depois que ela se negou é o mesmo que chegar em casa bêbado e enfiar a cara do seu cachorro na bosta dele achando que é ração enquanto o coitado apenas se debate: ambas querem dizer que você é um idiota. 


Não importa se uma mulher vai uma festa usando uma lingerie ou um vestido Valentino. Não importa se ela está usando o maldito biquíni dourado da princesa Léia, ninguém tem o direito de cometer a violência que o estupro é com qualquer uma delas. Somos todas mulheres que lutamos muito para chegarmos onde estamos, somos seres humanos iguais aos homens que merecemos ser tratadas igualmente. Das mulheres nascem os homens, nascem as outras mulheres, nascem líderes, nascem e devem aprender com suas mães a tratar qualquer um com respeito. Nós amamos, e nos deixamos submeter muitas vezes por esse amor. Nunca ganhamos nada de mão beijada. Votamos pela primeira vez na Nova Zelândia em 1893, em 1918 na Inglaterra, em 1956 em Portugal, em 1945 no Brasil. Somos presidentes, somos chefes de governo, somos rainhas, somos mulheres que têm duas jornadas de trabalho diárias para conseguir criar os filhos sozinha, somos mulheres comandando multinacionais, somos mulheres que foram ao espaço, somos mulheres que lutamos pelo nosso direito de expressão, somos mulheres criando obras literárias que marcaram uma geração inteira. Não somos sexo frágil nenhum. Nós ficamos de pé quando todos os outros caem, seguramos as pontas quando todos os outros pensam que é o fim. E nós podemos decidir sobre nosso corpo, sobre nossas vidas e podemos aceitar nossas escolhas e lidar com elas como qualquer um. 

Provavelmente quem leu esse texto até o fim está convencido de que sou feminista e que certamente todas as minhas idéias são relacionadas à causa. Se é feminismo tudo o que disse, ficarei feliz quando toda mulher puder sair na rua à noite sem medo algum de ser forçada a fazer algo que ela não quer. E tudo começa em casa.

"A woman can preach, a woman can work, a woman can fight, can rule, can conquer, can destroy — just as much as a man can." Zoë Saldaña

Um comentário:

  1. Tu sempre mostras que podes fazer o que queres quando nos remetemos a este mundo tão imenso: o mundo das palavras. O que tu fizeste aí, hein? Mostra-te, mostra-te mais! Mostra esse teu lado jornalista, esse teu lado novo, esse lado genial. Mostra a que veio! Tu demonstraste algum muito de seu talento. E eu e todo o maracanã queremos mais é que tu mostres mais esse teu lado. Vai em frente, não tenha medo. Tu és capaz disso aí que vimos: mudar de gênero totalmente de escrita e continuar sempre tão coerente e talentosa.

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