terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Where everything's nothing, without you.

"O moço quer me fazer feliz. Veja se pode."
Tati Bernardi


Ana, Ana, Ana. Adorava repetir seu nome, talvez simples e puramente porque era um modo de senti-la mais perto. Não a via desde outubro passado, já estavam em maio. Doía a ausência dela por todos os lados da casa. E doía ainda mais a cada lembrança que parecia criar vida toda vez que seu pensamento desviava-se para Ana. Queria poder ter lhe dito tantas coisas, tanto medo guardado, tanta ânsia de ser mais livre, de ser mais, sempre mais quando estava com ela. Queria poder ter sido espectador da cena em que Ana saía pela porta. Poder ter visto pela última vez seus cabelos negros caídos sobre o rosto e o modo como ela movia as mãos de um jeito completamente único enquanto andava. E quando o som da porta batendo invadiu seus ouvidos, foi que descobriu que não seria capaz de viver sem ela. Já faz muito tempo, pensou. Ana já deve estar com outra pessoa. Mas Ana nunca o esquecera. Dias, meses se passaram e mesmo com o coração partido, Ana ainda pensava nele todas as noites. Tentou até sair com outros caras, mas todos eram parecidos demais com ele para dar certo. O mundo parecia ter se tornado O Mundo Dele. E então, naquele dia nublado de fim de maio, Ana bateu novamente à sua porta. Sempre achara que ela poderia ir a todos os lugares do mundo, conhecer todas as pessoas destes lugares e ainda assim voltaria pra ele. Torcia mentalmente enquanto punha seus pés para dentro do quarto, a porta estava destrancada, para que ele ainda estivesse disposto a tentar de novo. Meu Deus, eu não devia estar aqui, pensava Ana. Encontrou o apartamento vazio. Depois de tanto tempo, viu-se parada no meio da sala de estar dele e sentiu-se perdedora do jogo pela segunda vez. Respirou fundo, pegou tudo que era seu e saiu pela porta. Estava no terceiro andar. O botão do elevador acendeu e Ana entrou. Ele estava parado ao fundo, fitando o chão e com as mãos dentro dos bolsos da calça. Foi a visão mais linda que ele já teve de Ana. Ali, parada na porta do elevador, com uma caixa pequena na mão. Seus cabelos negros, seu cheiro. Tudo era real. Ana estava ali. Ela permaneceu do outro lado do elevador enquanto a porta se fechava. Não a perderia de novo. Ele apertou um botão e o elevador parou de andar. Não soube dizer por quanto tempo permaneceram em silêncio. 

- Eu sinto muito, Ana. Volta. Volta pra mim. Eu te amo. 
- As chaves reserva estão debaixo do tapete.

Não a perderia de novo. Repetia isso mentalmente quantas vezes fossem necessárias para que suas ondas mentais conseguissem finalmente fazer Ana voltar para ele. Ana, a mulher da sua vida. A única pessoa que amou de verdade na vida. Tirou uma das mãos do bolso e pôs sobre a caixa que Ana carregava uma miniatura da Torre Eiffel que ela tanto adorava, com algo gravado nela, algo como "love is beautiful, love is you", leu isso em algum lugar e achou bonito, e um anel preso no topo da miniatura. Todas as cartas estavam na mesa, ela só precisava ganhar o jogo. Ana, que antes fitava a porta do elevador, voltou-se para ele. Sabia que se não fosse feliz com ele, não seria com mais ninguém. Dois gênios ruins completavam-se num espaço infinito. Esticou sua mão para ele e não disse mais nada. Nada mais precisava ser dito. Não pareceria nada demais aos olhos dos outros, mas para eles ali era todo o mundo.

Música do post: Last Kiss - Pearl Jam

13 comentários:

  1. "Dois gênios ruins completavam-se num espaço infinito."

    O bom da vida é saber que há alguém que nos possa completar. Que há a pessoa certa.

    Meu beijo, Pequena!

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  2. Mulheres comportadas fazem muita história! E fazem as histórias mais belas e mais importante. Talvez não apareça na mídia. Mas a mídia é manipulada. As mulheres fazem tanta história que são sempre lembradas. Principalmente no dia das mães.

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  3. "Sabia que se não fosse feliz com ele, não seria com mais ninguém. Dois gênios ruins completavam-se num espaço infinito."

    Gosto muito dos seus textos, são fortes como os do Caio Fernando, me dão a mesma sensação quando leio. Esse em especial me encheu de esperança e me fez sorrir no final com a declaração ali de cima. Você conseguiu deixar o clichê das voltas com um ar especial, é doce com uma pitada de ironia devido aos gênios ruins de cada um.

    :*

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  4. QUE LIINDO.
    A cena se passou tão real na minha mente... *-*

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  5. E dói, a ausência dói..
    e o buraco aumenta!

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  6. Que bom que deu tudo certo para esses dois gênios ruins, haha... quem foi que disse que os opostos se atraem? Besteira.

    Tem selo pra ti lá no blog.

    Bjs =)

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  7. Por mais ruins que fossem os gênios, pior ainda era a certeza que os dois separados não estavam completos. Quando existe a certeza que estamos com A pessoa não é nada inteligente deixar essa sair pela porta ou não ter coragem para voltar.

    Gostei do blog e do conto.


    Beijo!

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  8. Eu amo o seu blog, amo o modo como tu escreves, e estava com saudade de passar aqui no seu cantinho qw
    A ausência de quem amamos machuca tanto...
    Beijos

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  9. Pra que mais?
    O amor é um sentimento pelo qual não deveríamos fugir.
    Muito bom o seu texto!

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  10. É, dois gênios ruins podem, sim, completar-se num espaço infinito, mas também esses gênios podem se perder como aconteceu uma vez. Acho que perder alguém que se ama uma vez, acontece, mas duas já é descuido, desleixo.
    Boa sorte pros gênios ruins e parabéns pelo texto.

    =*

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  11. Seus textos sempre fodas. É uma honra poder ler cada um deles. Adorei :*

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  12. AI AI, QUE LINDO *-*
    Ouvi Last Kiss do Pearl Jam lendo esse post, a mistura ficou perfeita!
    Você é demais com as suas palavras... beijos

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