quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

The Depression Diaries, nº 53 - A arte de se matar e se salvar

A primeira vez que eu tentei me matar eu tinha 14 anos. Eu não sabia de porra nenhuma sobre o que estava fazendo, mas a intenção era a de tentar morrer. Tomei uns remédios que não fizeram efeito nenhum, e segui vivendo infelizmente. Vai completar 10 anos no próximo ano. A segunda vez que eu tentei me matar eu tomei uma cartela de remédios pra dormir. Não funcionou, como vocês podem ver. Foi ano passado. Ainda assim, ainda estou aqui.

Inclusive ano passado, minha melhor amiga tentou se matar. Se eu não fosse a porra de um robô que não sente nada sobre nada, eu certamente teria sentido algum nível de desespero. Eu me preocupei, claro, mas não sei como empatia se parece, qual a sensação dela. Então eu me corto, pois pelo menos esse sentimento da dor aguda eu consigo ter. Meu controle sobre as coisas é limitado, e isso é algo que eu consigo controlar. É um erro comum das pessoas acharem que pessoas doentes querem uma palavra de incentivo, um tapinha nas costas com "fique bem logo". Outro erro é acharem que a gente precisa de salvação. Ninguém pode me salvar a não ser eu mesma, e eu já aceitei isso. Há dias em que construo mil muralhas ao meu redor para me defender e há dias em que eu poderia ser empalada que eu não daria a mínima. Salvar não é suficiente. Como se salva alguém do que está na cabeça dela mesma? Vencer a guerra é fácil, o difícil é continuar vivendo depois de acumular tantas cicatrizes de batalha. Os traumas não vão embora e sempre há fantasmas esperando para assombrar, alguns que nós mesmos criamos. As vezes nós somos nossos próprios fantasmas, assombrando nós mesmos por todas as coisas que não fizemos e todas as coisas que não nos tornamos.

O mito do herói no cavalo branco pronto para o resgate é bem diferente na vida real. Não se precisa da porra de um herói pronto para o nos salvar. Você quer fazer propaganda do quão bondoso você é por amar alguém que está debaixo de cinco toneladas de merda? Essa glória não é tua para obter. A questão é que na maior parte do tempo o que precisamos não são soluções imediatas ou atos de bravura, provas de amor. Quando você fica doente você se acostuma a esperar. Nós só não queremos esperar sozinhos. Não queremos ficar sozinhos. Não queremos ser esquecidos. O medo do esquecimento tão fácil quanto o resultado de 2+2 nos leva a fazer coisas que não fazem muito sentido se você observar bem, mas tem tudo a ver com controle. Eu só estou tentando controlar o que eu posso, eu só estou tentando não perder todo mundo. Ou só morrer de vez, sei lá. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Talk talk talk / Don't you know where you want to go /
Start something new, that you know where you want to go