domingo, 23 de outubro de 2011

Brilho eterno de uma mente sem lembranças.



As pessoas fotografam para guardar momentos, unificá-los num universo cada vez mais podre e efêmero. A única coisa que eu gostaria de possuir é pouca memória. Se eu não retesse todas essas sensações - ou não tivesse de reter nada, de preferência - não seria obrigada a lembrar de todas as merdas que vivi quando era criança, que de vez em quando aparecem como fantasmas para me assombrar. Se eu não tivesse boa memória, não precisaria recordar todas as vezes em que me magoou e fez com que eu me sentisse apenas mais uma por aí e aqui, já que adora zombar de tal coisa. Caso eu tivesse memória fraca, não precisaria lembrar todos os dias que meus planos nunca dão certo por que sempre há uma falha neles que eu não calculei com antecedência. É muito fácil vivenciar essa experiência através de outra pessoa, quando não é você quem sente e que tem que sair por aí com toda essa merda. Ainda parece bizarro para mim parar e pensar que o outro te faz sentir como se você fosse especial por um tempo quando na realidade você não passou de uma distração, um brinquedo velho encontrado no porão enquanto o video game estava com defeito. É a partir disso que você começa a caminhar pelo mundo sozinho, almoçar sozinho, passar os feriados de fim de ano sozinho. O pior de tudo isso? Saber que não importa com quantas pessoas esteja, essa sensação nunca vai te abandonar. Você pode até passar-lhe a perna por algum tempo, entretanto ela sempre encontra o caminho de casa. Minha idéia fixa pela memória escassa é apenas um apelo invisível para que apenas as coisas, pessoas e momentos bonitos permaneçam em minha mente. Não é muito, nunca é. E é por isso que invejo, principalmente, sua mente rala. As palavras que não cimentam, as aparências que não aparecem, as partes minhas que roubou sem dó nem piedade. Ladrão, ladrão, você roubou ele da gente, homem ladrão. Cubro minha mente de mentiras tentando fazer com que assim tudo entre em colapso e se apague de vez. Um blackout num sistema velho que não quer mais operar de tão desgastado. Apesar de tudo, a única coisa que levo comigo e que permanecerei lembrando até que a última luz do mundo se apague é você e tudo o que traz consigo. Não importa que isso não te importe. É natural e automático, como foi da primeira vez que te vi. E acho que até hoje você nunca me entendeu, nunca entendeu o que eu sempre quis dizer quando falei sobre mim. Não há cura para os meus estragos, assim como não há para mudar como nossas vidas foram feitas. Que Deus me ajude somente uma vez a entrar em estado de hibernação interna, visto que pensar demais têm me deteriorado mais do que qualquer outra coisa. Estarei apenas à espera do fim de todo esse brilho incessante, trazendo com ele a paz que eu nunca encontrei em mim.

4 comentários:

  1. Já tive momentos em que tudo que conseguia pensar era exatamente o que vc retratou no seu texto.
    Mas misteriosamente, esqueci disso também.

    http://feedbackpositivoagora.blogspot.com/
    bjo

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  2. E até a memória e o esquecimento se alternam e reciclam...bjs moça!

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  3. Pensar demais faz um mal desgraçado. Também guardo tudo, frases, cheiros, momentos, pessoas, e me tornei um depósito ambulante, quando tudo o que eu guardo só atravanca meus passos, fica difícil, eu sei guria. Precisamos é de memórias novas, momentos novos, pessoas novas, assim falta espaço e o que for realmente bom ocupa os lugares. Beijinhos

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  4. "Quem pensa muito se atormenta demais."
    Sem mais.

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