quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

The Depression Diaries, nº 51 - O que tenho feito pra sobreviver

Eu cheguei até o fim do ano. Não sei como, mas cheguei. Eu sinto como se eu estivesse no vácuo eterno do espaço sideral, alternando entre ser uma coisa real e ser apenas um conceito. Eu passei tanto tempo odiando meu corpo que acho que ele passou a me odiar de volta. Ele enche meu cérebro de mentiras que eu acabo acreditando. Eu to solitária pra caralho e digo a mim mesma que é melhor assim. Eu tenho me cortado muito e digo a mim mesma que é assim que eu sobrevivo, produzindo minhas próprias cicatrizes de guerra. Quando eu sinto o sangue escorrendo pela minha pele eu consigo me surpreender. Olha, eu ainda estou viva. Ainda existo de verdade. Me afasto das pessoas e digo a mim mesma que estou fazendo o melhor pra elas, que elas não precisam da minha bagunça existencial-suicida. Ainda assim, to aqui solitária. Meu único refúgio é dormir. Dormir é o mais perto de morrer que eu tenho chegado. Eu como por que entendo o funcionamento do meu corpo e do que ele precisa, mas não há nenhum prazer nisso. Eu sento, deito, vejo tv, levanto, fico no computador, como, durmo. Tudo é desprovido de vida como minha própria existência tem parecido ser. Eu só quero o fim, o desfecho. Eu não aguento outro ano assim. Tenho jogado fora anos da minha vida por causa dessa merda. Eu evito as pessoas que gosto. Eu to sendo quase jubilada da universidade. Eu quero alguém pra ficar perto porém me castigo com a reclusão. Qual é o sentido de ser humano e não viver? Eu preciso de tanta ajuda mas tanta que eu não sei nem por onde começar a pedir. Você acha que o universo se importa com a gente? Queria que ele pudesse ficar triste pois há tantas estrelas e planetas e só uma eu que nunca vai poder tocar em todas essas coisas. Eu nunca estou satisfeita, e essa é a minha ruína.

sábado, 5 de dezembro de 2015

The Depression Diaries, nº 50 - O desaparecimento de-

Eu acredito que há certos sentimentos para os quais não foram inventados nomes que os cunhem. Ultimamente tenho esse estranho sentimento de que eu estou sendo apagada erased da existência, milimetro por milimetro. A natureza não tem pressa em me remover, ela quer ser notada como um pintor quer ter cada pincelada das suas obras vistas por olhos novos, olhos que nunca tocaram a superfície da imaginação deles. Minha voz faz um eco que passa através das pessoas, minhas palavras parecem turvas à vista dos outros a minha volta. Às vezes eu chego a ter dúvidas se as pessoas conseguem me enxergar mesmo? Todos os dias parecem emprestados, parecem ser um episódio filler para o destino final da cena, para a grande tragédia do terceiro ato. Eu sou um problema sem solução. Eu não consigo derrotar minha própria mente, é exaustivo pra caralho. Eu quero abraçar to embrace minha desgraça e lidar com os fatos dela. Eu quero não ter mais contato com ninguém além do necessário; tornar-me tão bem num fantasma quanto numa lenda urbana. Eu não posso lutar por mim mesma. Não consigo. Meu problema é uma simples disfunção no nível de serotonina no meu cérebro, e ainda assim não há cura. Não há como eu ser como você, como sua amiga, como sua tia, como aquela pessoa que superou uma grande dificuldade, um exemplo de vida. Espero que eu seja uma dorzinha que passe com o tempo, que eu seja assunto numa conversa no máximo por um minuto. Good lord, eu espero que ninguém lembre de mim ao ver um filme novo de Star Wars ou um artigo na internet sobre Doctor Who. Eu tinha tanto medo do oblivion esquecimento que eu nunca notei que era isso que continuaria a fazer a dorzinha durar por longos períodos. Está tudo bem em desistir de mim, eu já fiz isso há certo tempo. Não há nenhuma culpabilização a ser feita. Há somente a liberdade que há em se descobrir uma anomalia no mundo.


"I’m not better, okay?! I’m not better! And I keep waiting for someone to figure that out and they don’t! I mean, of course, they don’t ‘cause as long as I say the right thing and I act the right way, they’re happy because that means that they cured me, right?"
Emma Chota, Red Band Society

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

The Depression Diaries, n° 49 - Como que você faz?

Eu sinto como se estivesse prestes a perder tudo pelo qual lutei durante todos esses anos. Minha vida academica, minhas amizades, eu mesma. E a pior parte é que eu não consigo nem me importar com isso. Eu só quero, dia após dia, que tudo acabe. Eu não tenho mais opções pra testar. Nada tem dado certo. Nada funciona. Então pra que diabos eu ainda tou aqui? Por que eu continuo dormindo e acordando e comendo e levantando da cama se eu nao tenho a porra de um propósito? Por que eu não arranjo logo a energia pra me matar de vez? Toda vez que toco alguém parece que eu a empodreço. Então eu mantenho certa distância pra evitar ser o monstro, pra não alimentar o lobo ruim. Mas não funciona. E eu só queria que isso acabasse, porém parece que para tal meu cérebro teria que ser aniquilado no processo. Como um superherói venceria esse vilão? Como lutar contra você mesma? Eu estou aqui há 3 anos e não faço a menor ideia.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

The Depression Diaries, n° 48 - Being friends with someone depressed

Eu gosto de dizer que ser amigo de alguém que tem depressão é como viver num eterno experimento do gato de Schrodinger. Você acorda todo dia pensando "ele está vivo ou está morto?", e ambas as realidades coexistem até o momento que você interage com a pessoa. Eu perdi alguns amigos nesses meus anos de depressão. Alguns porque quis me afastar no intuito de não prover incômodo, outros porque não sabiam lidar com... bem, tudo isso que me tornei. Não é fácil, eu admito. Eu não tenho sido fácil. Também não deve ser fácil ter medo todo dia de acordar com uma ligação ou mensagem de que sua melhor amiga tentou se matar, ou se matou. Também não deve ser fácil querer ajudar mas não saber como, também não deve ser fácil ver os cortes no braço da sua amiga e ter que engolir seco. Não deve ser fácil sua amiga desaparecer por alguns dias e seu primeiro pensamento é que ela morreu, ninguém deveria ter que pensar isso. Não deve ser fácil querer poder fazer alguma coisa pra cessar a dor que sua amiga sente porque você acha que ela pode ainda fazer tanta coisa boa nesse mundo, mas a doença não a deixa enxergar isso, e porra, como ela tenta. Não deve ser fácil ver sua amiga definhar todos os dias e se tornar um receptáculo vazio, que coloca panos nos espelhos por que não consegue suportar o próprio reflexo. Com isso meu ponto era só dizer que eu queria poder ser uma amiga melhor. Queria poder ser alguém que algum dia eu já fui e agradou tanto vocês que vocês decidiram ser meus amigos. Eu queria poder enxergar uma luz no fim desse túnel por vocês, por vocês. Mas cada dia parece mais impossível. Até nos piores momentos as lembranças de vocês me reafirmam que um dia eu vivi.

“Depression turns you into a series of nouns, without the adjectives and without the verbs. You don’t remember where you misplaced your descriptions, your actions … You become: bed, shower, socks, coffee, keys, obligations.” A Series of Nouns 

terça-feira, 6 de outubro de 2015

The Depression Diaries, n° 47 - A hora final

Essa é a maior das minhas verdades:
Eu queria que o mundo inteiro ruísse junto comigo. Não existe um pingo de altruísmo em mim. A natureza em fúria, a terra chacoalhando-se como se desejasse se libertar da humanidade, os céus numa negritude intensa de quem anuncia o fim dos dias. Eu queria poder arruinar todos vocês. Leva-los para a completa a escuridão, repleta de desespero e falta de esperança. Eu queria que as nuvens despejassem enchentes todas as vezes que eu choro copiosamente pra tentar lidar com a dor que a tristeza causa em mim. Queria que todos os humanos do mundo sentissem o meu pesar, a minha fraqueza. Eu passaria por todos na rua e receberia olhares de pessoas que sabem o que eu estou passando. Lideres mundiais viriam ao meu encontro me questionar sobre como resolver minha letargia. Eu digo a milhões deles que não sei, e outros milhões chorariam o equivalente a mares e oceanos por mim. Seria eu - não meteoros, asteróides, profecias, extraterrestres, bombas atômicas - a responsável pelo fim da civilização. Eu queria que meu planeta entrasse em colapso assim que eu desse meu ultimo suspiro. Eu não queria cair em perdição sozinha. Essa é a verdade mais honesta por Deus, qualquer Deus: eu quero arruinar vocês, todos vocês. Eu vou deixar esta vida sozinha assim como cheguei nela, e por isso jamais serei capaz de perdoar o mundo. Eu sou um número, eu sou uma estatística, eu sou um nome de usuário, eu sou um padrão. O mundo me tolhe por eu querer ser o próprio mundo, um castigo tal qual um Deus grego inflingiria. Então eu permaneço em chamas pra sempre.

domingo, 27 de setembro de 2015

The Depression Diaries, n° 46 - I wish I was here

Não consigo evitar de imaginar como seria eu - minha vida - se eu não estivesse doente e sendo consumida por essa doença. Todas as coisas que eu poderia ter feito não chegam a me assombrar; elas passam por mim de vez em quando pois auto tortura nunca é demais. Eu não saberia mais dizer quem eu sou. Não sei do que eu gosto, do que eu gostaria, do que eu poderia chegar a gostar de fazer um dia. Eu queria ter uma vida na qual eu não consigo me enxergar nela porque eles não fazem destinos para fantasmas. É isso que sinto que sou. Eu poderia ser tanto que devo acabar sendo nada para a manutenção da ironia do universo. Eu não queria ser mais uma das histórias tristes, mas ultimamente parece que isso é tudo que eu sou. Eu não quero ser outra Sylvia Plath, outra Virginia Woolf, essas garotas. Eu não queria ser incapaz de ver meu impacto no universo, se é que eu faria algum. Eu estou cansada de sentir tristeza e ser a garota triste. Existe um demônio que vive em mim, meu monstro, minha selvageria, arranhando todo o meu interior em busca de liberdade. Eu estou sempre cansada porque eu vou para a guerra todos os dias. Vou em busca de paz, da não-dor, da sensação de ter encontrado deus. Mas só existe a dor que aperta meu peito e me achata, me torna cada vez menor e menor e menor. Não há nenhuma arte nisso. Não há nenhuma beleza nisso. Só existe a dor e dias sem conseguir levantar da cama e só me alimentar porque minha mãe não esquece de mim. Eu queria poder parar de lutar contra a minha natureza humana. Eu queria poder me sentir satisfeita com o que todo mundo se sente satisfeito. Eu queria ser mais burra se isso significasse que eu seria feliz. O deus Odin deu um de seus olhos em troca de mais conhecimento, mas eu daria muito mais em troca de não ser mais fantasma do que ser humano.