domingo, 25 de agosto de 2013

Foda-se todas as porras das suas expectativas


Consegue me deixar extremamente doente o fato de que se espera de uma pessoa com menos de 25 anos que ela seja melhor em tudo o que ela faça, que ela SAIBA e tenha certeza do que quer da vida. Não consigo suportar a ideia de que, principalmente aqueles que deveriam dar apoio aos nossos eventuais erros, são aqueles que mais enaltecem nossas falhas e reduzem a pó nossas qualidades. Você acha que isso faz de você um pai melhor? Porque não faz. Dizer pra seu filho que, embora ele tenha dado o melhor de si em algo, isso ainda não foi o suficiente não te faz nada mais que um merda. Não tenha a porra da audácia de dizer pra alguém que ela não é boa o suficiente. Não importa se você é pai, irmão, amigo ou namorado de alguém. Encorajamento é o que instiga qualquer ser humano a sempre procurar ser melhor amanhã do que fora hoje. Se uma criança te dá o desenho que ela fez, por mais que esteja feio, você tem a porra do dever de cumprimentá-la como se ela fosse o caralho do Pablo Picasso. Ter dado a vida a alguém não te dá o direito de fazer ela se sentir um pedaço de merda, um desperdício de espaço no universo. Vocês, pais, não tem noção do sentimento horrível que é ser humilhado pelas pessoas que deveriam te entender e apoiar. Nós não nascemos para ser seus bonecos perfeitos. Não estamos aqui pra suprir suas expectativas. Mas nos somos o suficiente. E não acredite em ninguém mais que disser o contrário. Foda-se eles. Ninguém morreu e fez deles os arautos da sabedoria da vida. Você é uma estrela. A galáxia mais distante é o limite.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Já viu alguém levar um tiro e não sangrar?


A façanha da vida é que ela não me deixa saber quase nada sobre suas engrenagens. De verdade, vinte anos não tornaram mais claro para mim como as coisas funcionam e nem o por que. E nem acho que esse seja o objetivo. Todavia, todas as minhas maneiras roubadas de personagens de livros de encarar as situações em que me ponho têm sido a coisa mais surpreendente pra mim. Por que diferente da eu de cinco anos atrás, a eu de hoje não tem a crença de que as coisas vão durar pra sempre. Até por que as pessoas nunca são, hoje, as mesmas de ontem. Planos mudam, circunstâncias mudam e outras se ajeitam, se esquecem. Acho que isso se chama "crescer" (?) Não é nem culpa da dificuldade de memorização, é só a vida. Ansiamos tanto pelas fases seguintes de nossas vidas pois nos é dito que elas são melhores e portanto nós somos melhores nelas, mas não é verdade. Nós só seremos melhores se quisermos. Se formos forçados a ser. Se nos convir, ser.

É e terrivelmente confuso e doloroso aceitar que a estada das pessoas na sua vida, muitas, mas muitas vezes tem um prazo de validade. Como o próprio Stephen Chbosky diz em The Perks of Being a Wallflower: "As coisas mudam e amigos partem e a vida não pára pra ninguém." Meu deus, que porra de clichê. Às vezes eu sinto que eu sou um grande e inútil clichê. O que dizer da nossa vida quando a gente nem sabe o que é? Ser jovem é incrivelmente recompensador, contudo consegue ser tão sufocante quanto um afogamento em mar aberto em alguns momentos. Eu queria que nós pudéssemos nos encontrar com nossos eus do futuro e que eles passassem as mãos na nossa cabeça dizendo que tudo ia ficar bem, porém que temos que deixar de idiotice e começar a fazer as coisas certas agora. Talvez um murro na cara seja a coisa mais apropriada que meu eu do futuro faça comigo.

Por que as coisas acabam, mas a gente não tem que acabar junto.

Porque o triste do fim de algo não é o fim em si, mas sim o corpo vazio. Vazio de menos um passageiro, da perda da sensação de "especialidade" que o outro nos permitia sentir — de ser único para alguém em meio a sete bilhões de pessoas que obviamente são melhores que você. E por que no fim a gente sempre quer acreditar no presente imutável, na longevidade do que nunca nos prometeu nada com o dedo mindinho.

Como voltar a acreditar nos outros e em mim mesma depois de não me importar mais? Como se importar e não ter a alma estraçalhada como um pedaço de pão velho que se esfarela entre os dedos? Ninguém nos diz que a vida vai ser assim. Um tipo de pacto-entre-adultos-que-viram-pais para deixar que a gente se foda pra caralho e aí então começar a entender a aprendizagem da sobrevivência nessa terra azul e marrom. É um puta de um clichê — novamente — mas às vezes as coisas que não nos fazem sentido servem para nos ensinar o desapego.  Todos aqueles que amamos são eternos enquanto seguem os caminhos que ousamos sonhar para eles. E então como crianças teimosas e cheias da razão eles fogem e, no fim, nos deixam contentes por tê-lo feito.

O que não escapa das minhas mãos acaba apodrecendo.


“How do you know when it's over? Maybe when you feel more in love with your memories than with the person standing in front of you.” Gunnar Ardelius

terça-feira, 6 de agosto de 2013

The Depression Diaries, nº11 - I'm the shittiest friend ever and i know it


Eu li alguma vez (não me lembro onde e estou com muita preguiça de procurar) que as pessoas podem suportar qualquer coisa desde que vejam o fim dela. Tipo quando você está numa maratona e tem o conhecimento que faltam, sei lá, 5km para a linha de chegada. Mas e se você vive uma coisa há tanto tempo que nem acredita mesmo que algum dia possa ter fim? É uma expectativa ao contrário; eu não ligo, deixa ela aí, já tá aí mesmo então foda-se cara, a vida não pára pra ninguém que dirá para os meus transtornos que transtornam a vida de todo mundo. Essa, entre muitas outras, é a razão do por que eu sou a pior pessoa pra se ser amiga. 

Mentira, não é culpa das minhas doenças não. Sou eu mesmo que sou uma merda de pessoa. Mesmo antes disso tudo aí no que ponho a culpa. A filhadaputagem me acompanha desde meu nascimento quando com certeza demorei a chorar só pra deixar o médico preocupado. Meus diálogos internos de que minha lealdade e devoção àqueles que prezo se sustentam fortemente dentro de mim são interrompidos por aquela voz escrachada que berra "não basta ser, tem que parecer também, panaca!" e aqui estou: não sei parecer. E quando tento parecer, acabo parecendo imbecil. O que no fim eu devo ser mesmo. 

Então fica aqui o meu parecer meio escondido nessas palavras sem contexto. Até por que eu sei que não deve ser fácil ter que me aturar. Principalmente esse meu espírito competitivo. E isso só por que eu só mostro uma parte dessa minha loucura diária que envolve cachaça, teorias conspiratórias, ataques de ansiedade e gatos. Por isso que concordo com outra frase cujo o autor não sei de imediato nem pretendo procurar agora: as pessoas amam diferentes partes de mim. Como se quando o quebra cabeça inteiro for montado, uma figura monstruosa esteja situada no centro dele fazendo uma careta que o deixa mais feio ainda. Tipo um Godzilla mesclado com um Dalek. Quem vai me amar quando vir esse monstro que urge pra sair todos os dias e o contenho cantando Madonna? Quem vai me olhar e dizer "beleza, já vi todos os seus lados ruins e ainda te quero por perto"? 

Mas citando uma frase de um autor que dessa vez eu me lembro qual é, a coisa da qual mais tenho medo no momento sou eu. De não saber o que eu vou fazer. De não saber o que eu estou fazendo agora. Obrigada Haruki Murakami.

Liberdade é tão confusa.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Sobre o meu infinito


Eu só gosto do que é impossível. Do que está perto de acabar. Do que pode escapar das minhas mãos a qualquer momento, a qualquer movimento brusco que eu possa fazer. Minha mente e corpo trabalham juntos numa imensa bagunça que, segundo eles mesmos, é impossível de ser resolvida. O gosto que o mais difícil, o mais complicado, o mais delicado deixa na boca é viciante e completamente ilegal. Mas o que se há para fazer quando ninguém no mundo pode me conter?

Sou como aquela farpa que entra dentro da carne da tua unha e se aboleta lá como um parasita, tudo isso por que você aparentemente tem o brilho incomum das coisas impossíveis. E no momento em que você deixa de tê-lo, eu te abandono como um cão safado após ganhar casa e comida e carinho. Parto pois não o acharei mais atraente para os padrões da minha existência; por que tudo fica muito real e de realidade eu prefiro manter certa distância. As realidades elas são muitas e poucas me atraem, e além do mais eu prefiro a eternidade do pouco que é agora do que o que se consideraria convencional. A sensação que ele deixa — aquele poderia-ter-sido — enche mais minha barriga do que o diário convívio que se esvai com a minha loucura.

Eu vim aqui por que queria dizer que talvez eu só goste das coisas impossíveis ou daquelas que estejam perto do fim ou daquelas outras que não tem nem meio porcento de chance de dar certo por que elas são como um bote salva vidas esperando enquanto você se prepara para pular de um barco em alto mar. Eu pulo direto do barco para o bote. Além do fato que eu não sei nadar, é mais seguro não se preencher de algo inacabável do que acabar se afogando no final. 

sexta-feira, 12 de julho de 2013

The Depression Diaries, nº10 - Ansiedade é uma grande filha da puta


JESUS FUCKING CHRIST. Em inglês (e em itálico e negrito) mesmo por que essa expressão define muito a minha pessoa em mais aspectos da minha vida do que eu gostaria. Eu não sou amiga da minha depressão, e plenamente nunca conviveremos no mesmo corpo sem uma tentar assassinar a outra. É como viver com o Darth Vader empunhando seu sabre de luz vermelho pra você; um parasita acoplado na sua pele e nos seus pêlos e na sua alma. E nem mesmo boas metáforas ela me permite fazer.

A ansiedade é como um bichinho que você encontra na rua e se apieda, pensando "por que não levar pra casa e cuidar dele? nada de mal pode acontecer." Aí então, depois de alimentado, banhado e de ter ganhado alguns carinhos, o meliante resolve morder a mão que lhe dá comida. Depois disso ele foge, você faz um curativo e tudo segue bem. Só que algum tempo depois, o bichinho volta arrependido e você, panaca do jeito que é, o aceita de volta. Agora imagine isso em looping. Eterno. Insistente. Uma tortura que já deve existir no inferno, e provavelmente envolve assistir o filme do Daredevil todo dia após uma crise de ansiedade.

Eu não deixo minha mãe me ver durante minhas crises. Muito provavelmente ela somente surtaria mais ainda do que eu e tentaria me dar um chá ou um remédio pra dormir. Não que eu não a queira por perto, o problema é que ela não consegue compreender. Me compreender. Eu respiro fundo. Imagino que tem alguém me abraçando. Repito pra mim mesma mil e duas vezes que eu não sou louca. Que eu estou em pleno domínio dos meus pulmões e da minha respiração. Que eu não vou morrer. Que está tudo bem eu me acalmar.

Um dos principais motivos que gosto de estar mais perto dos meus amigos (além do óbvio que é eu amá-los) é que, apesar de eu não conversar muito com eles sobre as coisas que passo, sei que eles estarão ali para me acudir quando eu tiver sem conseguir respirar feat. me debatendo. E assim eu vou sobrevivendo, dizendo pra minha mãe que naquelas vezes que ela me encontrou dormindo no chão do quarto foi porque eu estava com calor — mesmo que estivesse fazendo 19º.

Vai ver que algum dia eu acorde e consiga fazer o que minha mãe vive dizendo: controla essa ansiedade aí sozinha, não fique dependendo de remédio. Nossa, que genial. Eu nunca tinha pensado nisso antes. Descobri todas as respostas para as questões do universo. Porra, que mané Deus. Nós todos somos Deus. 42, porra.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

The Depression Diaries, nº09 - Por quê eu não posso controlar tudo e todos?

Eu não morri, como vêem. Mais de um mês após minha última postagem, eu acho que estou bem. Por hora. Por enquanto. Sei lá. 

Eu voltei a frequentar a psiquiatra. Agora tenho uma nova psiquiatra — uma mulher — Dra. Dayanna. Eu gostei dela; os cabelos dela me lembram o da Missandei de Game of Thrones. Ela diminuiu a dose da minha medicação, o que não sei se quer dizer algo bom, mas pelo menos já é alguma coisa. Minha vida segue bem.  Estou quase finalizando meu quarto período na faculdade, visitei o estádio local da Copa do Mundo com o programa de estágio que me inscrevi, comprei um novo computador (graças a Odin e consegui salvar todos os meus dados anteriores), meu gato Aegon está mais gordo e peludo do que nunca e acabo de entrar nas férias de inverno da faculdade. Eu acho que estou bem, mas continuo sentindo um vazio que precisa ser preenchido, só não sei ainda com o quê.

Às vezes eu sinto falta da minha própria loucura, que vai fugindo de mim como um animal selvagem antes aprisionado. Eu convivi com ela por tanto tempo que não me sinto como eu mesma agora que ela parece ter se escondido de mim. É possível que eu continue com a mesma imaginação, com o mesmo intelecto ao me tornar uma pessoa normal? Tenho medo de cair sobre a realidade numa queda livre e sem paraquedas. O que serei eu se não maluca? Eu não quero ser sana se não puder escrever como sempre.

Sobre o título desse relato, me incomoda profundamente o fato de que todos à minha volta parecem estar escorrendo entre os meus dedos. No fundo eu acho que é um pouco de inveja. Ver os outros perseguindo o que eles querem na vida me faz sentir como se eu estivesse atolando numa areia movediça vendo todo mundo seguir em frente enquanto eu afundo. Eu tenho quase vinte anos e não tenho a mínima ideia de como minha vida vai se suceder, esperando apenas depender menos de outros para que mudanças importantes ocorram. O medo de encarar o futuro sozinha faz minhas pernas tremerem todas as vezes que lembro que devo me tornar adulta. O que acontece com aqueles que não conseguem coragem suficiente para chegar até esse estágio? Coisas demais enegrecem o pensamento e a perspectiva.

No momento, em busca de oportunidades. Qualquer uma, principalmente qualquer uma que me leve pra bem longe daqui o mais rápido possível. Sempre me disseram que pôr os pensamentos em palavras formalizam seu pedido para o destino.