domingo, 19 de dezembro de 2010

Banho de mangueira.


Na noite passada. Era tudo tão bonito, como aquelas coisas que a gente sempre pensa que nunca vão acabar. E nós devíamos ter o direito de escolher isso. O para sempre. Eu queria ser teu nada, já que eles dizem que nada dura para sempre. Queria acordar e ver seus olhos ainda fechados, sua respiração calma e sentir seu braço envolvido na minha cintura. Tão perto, tão perto. Pedindo que nada disso seja um sonho. Eu sei que eu não posso te tocar. Sei que tudo isso é tão bizarro e assustador que eu entendo esse medo todo. Eu também estou com medo. Porque eu sei que vou te magoar. Sempre magôo. Porque ainda é incrível como você é sempre a primeira e a última coisa a estar na minha mente todos os dias. Você sempre está sentado no chão, encostado no sofá, o sofá pinica, você disse. Mas eu não me importo, por você eu durmo no chão, na varanda, no telhado, no fim do mundo. Você passa seus braço pela minha cintura e eu estremeço. Passo horas encarando seus olhos, descobrindo cada parte do teu rosto. E então você ri da minha cara de boba. Como se nada mais importasse. E depois o nosso banho de mangueira. Você molhando o cachorro enquanto eu tento me esquivar. Tão simples, porém tão difícil. Incrível como ainda falo como se você não fosse ler alguma dessas coisas que escrevo. Porque você me confunde. Porque eu me confundo. Porque sou tão hermeticamente fechada e você acabou por destruir tudo. Com que direito? Talvez você nem saiba. Não há mais nada pelo o que chorar. Somos apenas cinzas de um mundo que nem sequer existiu. Mantenho o sentimento vivo enquanto você não o esfaquear. Enquanto uma palavra poderia mudar tudo isso. Mudar aquilo que você chama de destino e no qual eu não acredito. Tenho a vaga fé de que estamos sonhando. E que quando acordarmos, você estará com os braços na minha cintura e eu sentirei o cheiro do seu cabelo tão macio aqui. Ainda é muito difícil desamar.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Enquanto a outra vida não chega.


Alguns de seus amigos chamavam de carma. Carma é uma vadia, dizia ela. Já outros sempre a acharam idiota. Particularmente, idiota era seu nome do meio. O fato de estar sempre sozinha não significava que estava infeliz. Ainda conseguia andar pelas ruas e ver beleza nas coisas que todo mundo já esquecera. Manteve um sorriso no rosto enquanto desabava por dentro durante muito tempo e ninguém se importou. Então, porque se importar agora? Continuou sua caminhada diária pelas ruas de sua cidade, uma cidade que não tinha muito a lhe oferecer. Meu deus, pensou, é tudo tão difícil. Tudo bem que não precisava ser fácil demais, porém não precisava ser desse jeito. Ainda podia se lembrar das últimas vezes. De como fora tachada de lunática. De bobalhona. De coitadinha. Ficou sempre para trás em tudo. Todo mundo achava que sabia o que era melhor para ela. Mas não sabiam, dizia em voz alta no banheiro todas as noites. Tudo não passava de monopolização. Sentia como se todos estivessem em cima dela gritando e gritando para ela fazer aquilo, você já está velha diziam, não pode se dar ao luxo de escolher. De esperar. De esperá-lo. Por que não podiam dividir o mesmo chão se estão sob o mesmo céu estrelado? Doía tanto nela que o que desejava seriam só palavras. Não, na verdade não doía. Não era dor. Estava anestesiada pela morfina e tudo o que sentia era o vazio dele que nunca estivera aqui. Ele estava tão preso nas palavras que cada uma delas era ele lhe sorrindo. Cada letra. Cada dedo sujo de tinta de caneta. Cada olhar. Cada borboleta no estômago era ele vivo dentro dela. O vazio vinha quando ela lembrava que eles nunca dariam certo. Por mais que tentassem, por mais que fossem incentivados, eles simplesmente não nasceram para ficar juntos. Talvez fosse um amor tão grande, tão grande, mas tão grande que não cabia só dentro deles. Mal cabia no mundo. Enquanto passava por um restaurante repleto de famílias, pensou que nunca poderia ter algo assim com ele. Quem sabe nunca outra vida, numa outra época. Apegava-se à crença de que algum dia ele seria seu. Só seu, em algum lugar perdido desse mundo. Era bonito pensar em estar junto com ele. Leu uma vez que a melhor forma de esquecer um amor é transformá-lo em literatura. Ele era mais; era tudo o que suas paredes, sua boca não mais tocada pela dele ainda conseguia ser. Era o único jeito que encontrou de mantê-lo consigo: dentro das palavras, que um dia ele conseguiria enxergar como todo o amor do mundo.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

I'd do it all again.


Este é um texto totalmente pessoal. Talvez o mais pessoal que eu já tenha escrito até hoje. Tentei abandonar as entrelinhas durante este ano inteiro, tentei ser mais viva, tentei de tudo e não recebi resposta positiva. Não nego que aprendi muitas coisas e que tive que passar por tudo que passei pra aprender coisas que não teria aprendido de outro jeito. Esse ano eu percebi que eu não vivi quase nada. Tenho 17 anos e não fiz nem meio por cento do que desejo. Tenho matado tantas coisas dentro de mim que há dias em que me olho no espelho e falo: quem é você que tanto me olha e nunca me reconhece? A vida gira e eu pareço permanecer no mesmo lugar, reclamando das mesmas coisas. Você pensa que eu não me canso de mim? Muitas vezes. Banco a louca por medo de morrer de tédio. Medo de muita coisa que nem sei se algum dia eu senti de verdade. Às vezes eu penso que tudo isso, todos esses aí, não passaram de um simples bote salva vidas, de desespero. Não chegava a ser um gostar. Este último, o outro e o outro são a mesma coisa. Desespero. Idealização. Ilusão. Aí então a Cássia Eller canta "eu sou poeta / e não aprendi a amar" Posso não ser poeta, mas ainda não aprendi a amar. Algumas coisas poderiam ser mais fáceis. Não sei se me sinto aliviada, mas finalmente eu entendi uma porção de coisas sobre minha vida. E não me diga que eu sou nova demais pra isso. Depois de tudo que já passei aqui eu tenho o direito de tentar ser alguma coisa melhor. Estou tentando não me envolver tanto com palavras e mais com atos, com realidade. Realidade é tudo o que tenho precisado. Não me sinto na obrigação de ter que dar explicações às pessoas sobre o que eu faço ou deixo de fazer, nem preciso que elas me obriguem a fazer algo que não quero. Venho reaprendendo a gostar de quem sou e compreender que tudo que fiz foi necessário e imutável. Manter os amigos, uma vida tranqüila e nunca desistir têm sido meu lema. Talvez você não consiga compreender pelo o que estou passando. Talvez você ache que não é de uma hora para outra que esse tipo de coisa acontece. Talvez você ache que eu estou mentindo. Não tiro seu direito. Muitas vezes eu menti para que as coisas não fossem tão ruins. Não estamos aqui por acaso. Cada um de nós veio aqui para deixar esse mundo um pouco melhor. Sei que muitas vezes as lágrimas eram a únicas coisas que conseguiam sair de você, mas acredite: tudo passa. Muitas vezes durante este ano eu pensei em desistir, não estava sendo fácil, mas toda vez que eu sentia que não aguentaria mais, pensava: o pior vai passar. E passou. É de total estranheza não notar beleza nas pequenas coisas, em não rir quando se quer chorar. Dar um só único passo em direção a uma vida melhor é muito melhor do que ficar parado vendo a ela passar. Eu tenho um sonho, você tem um sonho, o mundo tem um sonho. A estrela mais longínqua é nosso porto.

sábado, 27 de novembro de 2010

Temporal.


A música continuava a tocar. Janis Joplin, talvez. Enquanto seus braços ainda não fossem capazes de tocá-lo e a distância aumentasse cada vez mais – não fisicamente, sentimentalmente se é que me entende – ela sentia o buraco se abrindo à sua frente e levando-o para longe, numa outra zona, numa outra região, numa outra vida. Uma vida na qual ela não estaria mais. Saiu do devaneio com o barulho das buzinas dos carros na rua e como se estivesse nesses filmes antigos americanos que costumava ver, sua mão encostou na dele, ao seu lado. Ele deu aquele sorriso meio torto, meio menino e perguntou se ela achava que iria chover.

- Acho que sim – disse ela, olhando dubiamente o céu de nuvens.
- Disseram no jornal, hoje de manhã, que ia cair o maior temporal.
- Sempre quis estar no meio de um temporal.
- Quer tomar banho de chuva comigo?
- Quero sim, vagalume.
- Do que você me chamou? – os olhos dele voltaram-se para ela novamente.
- Vagalume. Aquele bichinho que brilha no escuro. Você é a luz dos meus dias escuros.

As palavras saíram tão rápido de sua boca que levou alguns segundos para ela se dar conta do que havia dito. Olhou para o chão e novamente olhou para ele. Sentiu tudo dentro de seu estômago se revirar como se estivesse dentro de um liquidificador. Não esperava respostas, nem igualdade. Depois do que viver, já não esperava mais nada.

- Você também é a minha luz, Isa. Minha melhor amiga.

Ela sabia que não tinha o mínimo de direito de reclamar de qualquer coisa, você sabe, aquela regra clara: não tentou, não pode lamentar. Tentou dar um sorriso, pondo uma mecha dos cabelos que sempre achou lisos demais atrás da orelha, parada em frente a uma vitrine de uma loja que revelava foto – muitos porta retratos, muita gente feliz demais, que ódio delas – eu gostaria de ter uma família bonita assim, pensou. Com ele, por ele. E sem ele não há nada.
As primeiras gotas de água acertaram sua cabeça ferozmente e depois suas roupas, suas sandálias, sua alma. Não havia mais ninguém na rua. Olhou para ele que lhe sorria e resolveu sorrir também. Por tudo o que foi e o que quis ser. Ele corria e corria pisando nas poças que se formaram e desafiando os trovões enquanto as lágrimas que não podiam ser vistas rolaram pelo seu rosto. Vem, ele gritava. E sorriu novamente.  Sorriu porque já não agüentava mais sangrar por dentro e essa era a única coisa que lhe restava.
Tentou dizer a ele tudo o que sentia. Dizer que o amava e que largaria tudo, toda essa droga por ele e só por ele. Que ele era sua família, seu porto seguro. Mas não disse. Pediu a Deus então que Ele lavasse-o de seus cabelos, de suas roupas, de suas sandálias, de seu coração. Mas o temporal parecia fraco demais para isto.

Escrito em 23/11/10.

 Música do post: Sal De Mi Piel - Belinda

sábado, 13 de novembro de 2010

Dom Quixote de la Mancha


Sou o Quixote. Sempre estive lutando contra inimigos que não existem, inimigos que na maioria de suas vezes eram eu mesma. Ponho meus pés no chão e sinto o frio percorrer todo o meu corpo e a maldita maldita maldita luz da rua que entra pela janela que eu tanto detesto insiste em colorir meus cabelos de laranja. Depois de alguns segundos de perda da lucidez, eu lembro novamente das palavras. Por mais que doessem, eram verdade. E-então-se-você-pediu-a-verdade-nós-estamos-te-dando-menina. Todos têm seus dragões. Ela os chamava de demônios, mas eu prefiro chamar de dragões. Os dragões podem viver dentro de você durante muitos anos, anos que se arrastam como se fossem salas de tortura e então alguém vai e abre a porta desta sala. A chuva começa a molhar os dedos dos meus pés ainda manchados de esmalte desgastado, de rosas murchas, de sangue de morto, de páginas de livros marcados com rosas, de atestados de burrice. Forço-me a andar até a cozinha, nossa são 3 da manhã, hora dos demônios saírem, eu saí. Pança, cadê você? Inconscientemente pego a maior faca que encontro e desbravo o vento, imaginando que ele é tudo o que me dói, essas mortes do imaginário que sempre me doem, essas palavras que atingem como tijolos sempre me doem. Olho minhas mãos e elas sangram. Agora sim nós estamos iguais, Pança. Agora nós sangramos por dentro e por fora, já podemos esperar o sol entrar pela janela no chão frio. Esqueça os moinhos, eu já esqueci. Não se pode matar o que te mantém vivo. Está tudo manchado, tudo. Já já os demônios vão embora.

sábado, 30 de outubro de 2010

I see what you're not showing.


Acordei no meio da noite. Sei que você não está aqui, mas mesmo assim te procuro. Desejo que você esteja ali.  Porque mesmo depois de tudo que vivi, ainda te desejo. Finjo que não fantasio com você, mas isso é o que me faz querer dormir. Por que quando durmo, você está nos meus sonhos. Mesmo que esteja se enterrando em palavras não ditas. Eu sei que você tem medo porque eu tenho também, mas vai que a gente deixa tudo isso passar, toda essa coisa bonita, todo esse impedimento, tudo isso que podia ser alguma coisa algum dia. Talvez você tenha vivido algo ruim, eu sei, eu também vivi, mesmo que nunca tenha existido de verdade. Mas eu estou disposta (se você estiver) a te dar um espaço no sofá, na casa, no coração. Eu já dei o primeiro passo uma vez e me ferrei. Eu estou com medo de perder todo o pouco que já conquistei, toda a imagem que já construíste de mim. Queria que você estivesse aqui esta noite. Para apertar teu corpo contra o meu, sentir o cheiro dos teus cabelos... já imaginei diversas vezes o cheiro do teu cabelo. Lembro de quando eu era criança e tentava cavar para chegar na China. Hoje eu queria chegar só aonde você está.

Música do post: Quiet - Demi Lovato