"É melhor tentar e falhar que ocupar-se em ver a vida passar. É melhor tentar ainda que em vão, que nada fazer. Eu prefiro caminhar na chuva a, em dias tristes, me esconder em casa. Prefiro ser feliz, embora louco, a viver em conformidade. Mesmo as noites totalmente sem estrelas podem anunciar a aurora de uma grande realização. O ódio paralisa a vida; o amor a desata. O ódio escurece a vida; o amor a ilumina. O amor é a única força capaz de transformar um inimigo num amigo."
Martin Luther King Jr.
Quanto tempo, Dorinha. Tantos anos se passaram e você continua a mesma. E eu continuo a mesma mentirosa. Na verdade, só estou te escrevendo por que preciso dividir minha finalmente descoberta sobre minha vida inteira. Eu tenho passado por uns maus bocados, Dorinha. Bem ruins, realmente. Aí eu pensei em tudo que já passei, você sabe, aquela coisa de repassar a vida toda na mente não é só pra quem está morrendo não, e então eu finalmente me dei conta: eu sobrevivi. Por piores que fossem os caminhos pelos quais passei, eu simplesmente sobrevivi. Eu não sabia que eu podia fazer aquilo - você sabe, chegar até o final - e então, por não saber, eu fui lá e fiz. Eu ainda estou aqui, depois de tudo. Nós somos humanos; é isso que fazemos. Não importa o quanto estejamos despedaçados por dentro, querendo somente sentar no chão e chorar feito loucos até desidratar: só temos que resistir até que tudo acabe. E acredite, Dorinha, tudo passa. Nem precisa ser com o tempo. Certo dia, certo momento você olha em volta e diz: hey, eu estou viva. Você se dá conta de que está totalmente quebrado, em pequenos pedaços espalhados - perdida, perdida por dentro - e se pergunta: E-D-A-Í? É só isso que eu consigo fazer da minha vida: sentar e chorar? Até auto piedade tem limite.
Dorinha, eu tenho aprendido tanto. A vida não pára só porque você tem um problema e muitas das coisas que dependem de você pra funcionar não podem parar também. Aquele trem único que cada um de nós temos, sabe? Bem, ele não pode descarrilar. Se você soltar a marcha, ele vai capotar e se perder por aí. E nós, seres humanos, somos os únicos com capacidade mental de reconhecer, depois de uma tempestade nebulosa, ponha nebulosa nisso, que ainda estamos vivos, que temos que continuar. E nos tornamos melhores depois disso. Ou simplesmente sentimos aquela ponta de alívio por tudo ter passado, deixando uma seqüela aqui e outra ali, quase imperceptível. É isso que nos faz extraordinários. Não importa o que apareça à nossa frente, nós lutamos, lutamos e escapamos. E depois aquilo tudo se torna em algo que nem vale a pena ser lembrado. A cada vez que passo por uma situação difícil Dorinha, eu sempre penso no dia seguinte. No qual eu estarei sã e salva, a cada vez mais forte. Nunca tive grande afeição pela raça humana, entretanto devo admitir que nós somos bravos guerreiros. A melhor coisa é que sempre há um novo dia para se recomeçar. Sempre podemos consertar, fazer do jeito certo, fazer a escolha certa. Dorinha, minha amiga de sempre e sempre, é a você que digo que assim como nada é pra sempre nessa vida, nenhuma dor também é. Coloque uma música alta e simplesmente fodam-se os problemas, pelo menos durante os minutos que a canção durar. Nós somos sobreviventes, e isso dá a todos nós algumas cicatrizes. Mas Dorinha, ainda há muita coisa por aí pronto para ser vivido muito intensamente, bem intensamente mesmo, daquele jeito que te deixa feliz simplesmente por ainda estar respirando. Eu estou caminhando, Dorinha. Eu tô fazendo o possível e o impossível com o que me restou, por que eu ainda não desisti da minha vida e todo mundo deveria fazer o mesmo.
Música do post: I Believe - Yolanda Adams